Ao denunciar a ex-presidente Dilma Rousseff por obstrução de Justiça, o então procurador-geral da República Rodrigo Janot afirmou no documento que, durante o mandato, a petista utilizou um e-mail para se comunicar com a marqueteira Mônica Moura e avisá-la sobre os avanços da Operação Lava Jato.
A criação do e-mail já havia sido revelada por Mônica Moura em delação premiada. Em maio, a marqueteira registrou em cartório, e entregou ao Ministério Público Federal, a reprodução de uma mensagem trocada no e-mail que ela disse ter usado para se comunicar com a ex-presidente.
Na denúncia, Janot afirmou que os investigadores conseguiram provar a existência das mensagens e de diversos telefonemas entre as duas, que, segundo o ex-PGR, comprovam que Dilma alertou a marqueteira e seu marido, o também marqueteiro João Santana, sobre os avanços da Lava Jato e sobre o risco de prisão dos dois.
Em maio, quando a existência do e-mail foi revelada por Mônica Moura, a ex-presidente divulgou nota e afirmou que as afirmações da delação do casal são "mentirosas" e que a versão sobre os supostos avisos sobre a Lava Jato é "patética".
Em um dos trechos do documento, Janot diz: "A então Presidente da República, Dilma Vana Rousseff, passou a fornecer informações sigilosas acerca da 'Operação Lava Jato' a Mônica Regina Cunha Moura".
Ao relatar a existência dos e-mails, Janot afirmou na denúncia: "Os dados telemáticos obtidos na Ação Cautelar 4337 confirmaram a existência dos e-mails em questão [...]. Identificou-se, ainda, a seguinte mensagem cifrada, com data de 22/02/2016, quando a prisão do casal de publicitários era iminente: 'Vamos visitar nosso amigo querido amanhã. Espero não ter nenhum espetáculo nos esperando. Acho que pode nos ajudar nisso né?'. Ademais, os dados telefônicos obtidos no mesmo feito confirmaram diversos telefonemas trocados entre Mônica Regina Cunha Moura e terminais cadastrados em nome da Presidência da República no período dos fatos".
Segundo o então procurador-geral da República, a adoção de tais medidas permitiu que João Santana e Mônica Moura "se precavessem contra diligências investigatórias como buscas e apreensões e prisões".
Documento registrado em cartório reproduz mensagem que teria Dilma como destinatária em conta de e-mail (Foto: Reprodução/PGR)
E-mail
A conta de e-mail, segundo Mônica Moura, foi criada durante um encontro entre as duas no Palácio da Alvorada. Além das duas, a marqueteira disse que também estava presente na sala o então assessor especial da presidente Giles Azevedo.
O encontro foi um "chamado urgente" da presidente, segundo o marido de Mônica Moura, o marqueteiro João Santana. Diante da convocação, a marqueteira, que estava de férias, fez um voo bate-volta dos Estados Unidos ao Brasil para se reunir com a petista na residência oficial da Presidência.
A marqueteira conta no depoimento que Dilma estava preocupada com os avanços da Lava Jato, principalmente após os investigadores terem descoberto contas no exterior do então presidente da Câmara, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A publicitária afirmou que, na conversa, a petista estava preocupada que as investigações da Lava Jato chegassem às contas dos dois marqueteiros no exterior, o que colocaria Dilma "em perigo".
Conforme Mônica, a ex-presidente sabia que a Odebrecht tinha feito pagamentos da campanha presidencial do PT por meio de "depósitos de propinas na conta do casal".
Diante disso, a delatora conta que decidiu criar uma conta de e-mail para que Dilma a atualizasse sobre avanços da operação. A marqueteira disse que a presidente era atualizada sobre a Lava Jato pelo então ministo da Justiça José Eduardo Cardozo.
Mônica Moura afirma que as mensagens que as duas trocadas não eram enviadas. Para se comunicar, contou Mônica, elas combinaram de redigir mensagens no rascunho para que as mensagens não circulassem.
"Eu mandava a resposta e ela apagava também. Esse era o trato. Era pra estar no rascunho, não mandar e apagar assim que lesse. Assim que era seguro, entendeu?", relatou Mônica no depoimento.
Segundo a delatora, as mensagens eram cifradas, para que apenas as duas entendessem o contexto. Ela afirma que se referia ao marido como "amigo" e que, em algumas oportunidades, enviou mensagens a Dilma para saber a situação da investigação.
João Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura, em imagem de arquivo (Foto: Cassiano Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo )
"Às vezes eu mandava e-mail perguntando: tem alguma novidade? Eu falava tipo assim: 'nosso amigo está doente? Como que está ele? Tem alguma novidade sobre ele?'. Que era a dica pra ela me dar, se alguma coisa avançou. A essa altura, nós começamos a aparecer bastante no jornal, eu e o João, começava a pipocar coisa", relatou.
Ela afirma então que, no dia 19 de fevereiro de 2016, recebeu uma mensagem "preocupante" de Dilma que, segundo a marqueteira, era um "aviso" de que a situação do casal estava "complicada".
A mensagem dizia: "O seu grande amigo está muito doente, os médicos consideram que o risco é máximo e o pior, a esposa dele, que sempre tratou dele, agora também está doente. Com o mesmo risco, os médicos acompanham dia e noite."
Segundo Mônica Moura, o "médico" era José Eduardo Cardozo, que teria atualizado a presidente sobre a situação dos empresários. "Aí eu recebi essa notícia, aí eu desesperei", diz Mônica.
Para Rodrigo Janot, a mensagem enviada por Dilma "tratava-se de um aviso antecipado sobre a prisão do casal de publicitários. Na época, a advertência foi, ainda, reiterada por meio de telefonemas feitos por Dilma Vana Rousseff a Mônica Regina Cunha Moura em 20/12/2015 e 21/12/2015".
Fonte: G1
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