A troca de comando nos ministérios da Justiça e da Transparência pegou membros da base aliada do governo de surpresa. Na oposição, a reação foi de desconfiança e críticas à atuação do Palácio do Planalto, com receio de interferência em investigações.
Neste domingo (28) o presidente Michel Temer anunciou que o ministro Torquato Jardim, da Transparência, passará a comandar o Ministério da Justiça. O posto é ocupado atualmente por Osmar Serraglio, que foi convidado para assumir a pasta da Transparência, mas ainda não informou se aceita a proposta.
O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), disse que a troca não foi comunicada pelo presidente aos membros da base aliada.
“Acho que foi um ajuste de perfil. O perfil do Torquato poderia se encaixar melhor na Justiça”, disse. “Estamos acompanhando as mudanças, que não foram comunicadas à base”, completou.
O deputado Sandro Alex (PSD-PR) disse esperar que a troca não se dê por ingerência política. Ele afirmou que gravações feitas pela Polícia Federal vêm mostrando políticos preocupados com as investigações de corrupção.
“Vejo com preocupação porque ainda não ficou claro o motivo da troca. Quando não tem motivação definida, preocupa, porque surgem especulações. Podem dizer que é devido à Lava Jato ou às investigações”, disse.
Na oposição, a vice-líder da minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), afirmou que a mudança é um sinal de fragilidade do governo. Para ela, a mudança pode ser motivada por algum interesse envolvendo a defesa de Temer na Justiça.
“A troca deve ter uma razão em relação à defesa do Temer. E a manutenção do Osmar está claro que é para manter o foro do Rocha Loures. É um governo sem comando tentando defender o Temer”, disse.
Ex-assessor especial de Temer, Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) é suplente de Serraglio e permanecerá como deputado – com direito a foro especial no Supremo – enquanto o titular do cargo for ministro.
Citado nas delações dos donos da JBS, Loures foi afastado do mandato parlamentar pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi filmado recebendo uma mala de dinheiro de um dirigente da JBS.
Para o senador Árvaro Dias (PV-PR), o único objetivo do convite de Serraglio para o Ministério da Transparência é “preservar o foro privilegiado” para Rocha Loures.
“Eu imagino que não fará bem para a biografia do ministro Serraglio aceitar ser joguete para atender a interesses da Presidência neste momento. É uma estratégia que leva em conta a utilização de altas funções da República para a defesa própria”, opinou.
O senador Álvaro Dias disse ver com “preocupação” a possibilidade de o novo ministro da Justiça trocar a direção da Polícia Federal.
“Mudar o comando da Polícia Federal agora sinaliza uma tentativa de comprometer a eficiência da Operação Lava Jato. Nós já tivemos redução de orçamento, redução de pessoal nas operações que investigam. Agora há uma ameaça que parte do próprio ministro da Justiça, isso preocupa”, declarou.
O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), acredita que não há ameaça de qualquer tipo de ação às investigações em curso.
“Duvido que alguém, neste momento, queira fazer algum movimento para desestabilizar qualquer órgão que apure irregularidades”, afirmou.
O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho, concordou com a avaliação e disse que qualquer mudança é sensível, no momento “delicado” que o Brasil vive.
“Se houver mudança, tem que ser transparente, com justificativa e que o nome trabalhe pelo combate à corrupção”, disse.
O líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), afirmou que Torquato tem experiência e requisitos para ser o “interlocutor” do Executivo com o Judiciário. Para Bauer, o novo ministro da Justiça não oferece riscos à Lava Jato.
“Tenho certeza de que o novo ministro não vai tomar nenhuma providência que dificulte, prejudique ou faça recuar as ações que a PF desenvolve em relação à Lava Jato e a outras operações em curso no país”, disse.
O tucano disse não considerar a possível a relação da eventual transferência de Serraglio para o Ministério da Transparência com a manutenção do foro privilegiado "de um deputado que cometeu um ato comprovadamente ilícito”.
Fonte: G1
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