O Campeonato Cearense agoniza, mas não morre. Nos 869 borderôs entre 2010 e 2017, uma conclusão: 428 jogos do Campeonato Cearense deram prejuízo. Mas os números são mais alarmantes nas duas últimas edições do estadual. O ano de 2017 teve 67,21% de partidas com despesas maiores do que receitas e só foi superado na edição de 2016, em que o número foi de 80,26%. No entanto, o ano de 2017 é absolutamente superior a 2010, por exemplo, em que somente 37,85% dos duelos ficaram no saldo negativo. E, detalhe, sem o Estádio Presidente Vargas receber jogos em 2010, assim como este ano. A reportagem pesquisou os borderôs no site da Federação Cearense de Futebol (FCF).
Analisar os números é comprovar que, se não formar um campeonato mais atrativo, a tendência é que os jogos fiquem cada vez mais esvaziados e silenciosos. Em 2011, com o PV reaberto somente na decisão, o prejuízo foi de 42,75% . Em 2012, de 39,70%. Vale lembrar que, em 2012, o Castelão é fechado pensando em duas competições: Copa das Confederações, de 2013, e Copa do Mundo, de 2014. Por sinal, em 2013, o prejuízo foi em 50,74% dos jogos, com PV e Castelão. Em 2014, ano do Mundial, diminui para 47,22%. No ano seguinte, o número cresce para 53,94% de confrontos no vermelho. Até a publicação desta matéria, às 15h35 desta quinta-feira (11), a Federação Cearense de Futebol (FCF) não atendeu à reportagem.
A receita é com a venda de bilhetes, e as despesas são com aluguel de campo, quadro móvel, bilhetagem, policiamento, INSS, arbitragem, sócio-torcedor, dentre outros.
Jornalistas apontam erros e soluções
O GloboEsporte.com convidou jornalistas para comentarem sobre os números. Para Rafael Luis Azevedo, do Verminosos por Futebol, esse fato não preocupa somente o estado e os clubes do Ceará. É geral.
- Esse novo fracasso de público, que não é fato isolado ao Ceará, mostra que a era dos Estaduais está acabando, e que eles precisam ser reformulados. Como uma plataforma que garanta vaga nos regionais e nacionais. Aos grandes, como Ceará e Fortaleza, não faz mais sentido participar de jogos deficitários contra pequenos do interior, mas sim estarem 100% envolvidos no Nordestão, contra os demais grandes da região, e depois no Brasileiro. No caso dos nacionais, como é assim em quase todo o mundo do futebol desenvolvido. Ceará e Fortaleza, que citei, teriam faturamento muito mais otimizado num calendário que privilegiasse a qualidade dos duelos. Mas, antes que me acusem ou critiquem, isso não significaria a extinção dos clubes pequenos. Eles devem existir, mas em seu universo. Os estaduais seriam uma divisão de acesso, a partir do 5º degrau do futebol brasileiro. A contrapartida para a ausência dos conterrâneos grandes seria um calendário cheio, ocupando toda a temporada - explica Rafael.
O jornalista Ivan Bezerra, do Diário do Nordeste, completa.
- Os clubes, de há muito, fogem de um relacionamento mais estreito com a razão de ser de suas camisas e símbolos: os torcedores. Começa por não abrir os portões para que o torcedor assista aos treinos e entre em contato com seus ídolos, sem pagar nada. Depois, se cercam de providências que mais afastam o torcedor, do que dele se aproximam. Por exemplo: nada nos estádios é atrativo para o torcedor, passando por ingressos caros, comida ruim e cara nas lanchonetes. Falta de conforto e segurança para o torcedor. Este é visto como alguém que tem a obrigação de ir para o estádio porque gosta do clube, mas a ele não é oferecido nada de vantagem para que largue o seu lar e a companhia dos amigos, em casa ou em locais onde há substancial economia para ver os jogos - comenta.
Para Denise Santiago, da TV Diário, o alto valor dos bilhetes e a violência nas praças esportivas pode colaborar.
- Alguns pontos podem ser reflexos por esta ausência de público nos últimos anos nos estaduais. O alto valor dos ingressos é um dos principais. Com a crise econômica que nós vivemos, gastar um valor tem contribuído para o que o trabalhador prefira assistir à partida na TV, de casa. Outro ponto: um custo nos produtos e serviços dentro do estádio. E a qualidade técnica das equipes. A violência nos arredores da praça esportiva também tem afastado as famílias. Acredito que para trazer os torcedores de volta aos estádios é preciso pensar nos atrativos: valores mais baixos dos ingressos, menos violência e um bom futebol. Pode até ser utopia, mas quem sabe.
Os números do prejuízo de 2010 até 2017 no Cearense
2010: 140 jogos l 53 com prejuízo l 37,85%
2011: 138 jogos l 59 com prejuízo l 42,75%
2012: 136 jogos l 54 com prejuízo l 39,70%
2013: 134 jogos l 68 com prejuízo l 50,74%
2014: 108 jogos l 51 com prejuízo l 47,22%
2015: 76 jogos l 41 com prejuízo l 53,94 %
2016: 76 jogos l 61 com prejuízo l 80,26%
2017: 61 jogos l 41 com prejuízo l 67,21%
Fonte: Globo Esporte
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