Em meio à avalanche causada pela abertura de inquéritos contra dezenas de políticos pelo STF, o governo prepara mais concessões na reforma da Previdência e concordou em retirar um dos pontos de mais difícil aceitação, a necessidade de contribuir por 49 anos para obter a aposentadoria integral, desde que se garanta a aprovação da reforma, destaca a Reuters.
A proposta inicial do governo defende que o valor do benefício para os trabalhadores seja de 76% da aposentadoria integral com 25 anos de contribuição. Com 26 anos de contribuição, 77%, e assim por diante até chegar aos 49 anos de trabalho para obter 100% do benefício.
O mais provável neste momento é que o tempo de contribuição para que o trabalhador receba a aposentadoria máxima a que tem direito seja um período de 40 anos.
"O relator está analisando várias alternativas, fazendo as últimas contas", afirmou o presidente da Comissão Especial da reforma, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), segundo a Reuters. "Ontem ficamos até o final da tarde analisando essas questões com a equipe econômica."
"Mas essa questão dos 49 anos de contribuição, que tanto prejuízo causou à reforma, vai deixar de estar presente no relatório", acrescentou.
A alternativa que está sendo trabalhada pelo relator da reforma, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), é que o ponto de partida do cálculo da aposentadoria – mínimo que o trabalhador aposentado receberia –, proposto como 51%, passaria a 60%. Como com cada ano a mais de contribuição o trabalhador ganha um ponto percentual, passaria-se a 40 anos para chegar à aposentadoria integral.
A mudança tiraria o peso dos 49 anos de contribuição, uma guerra de comunicação que o governo não conseguiu ganhar, mesmo com o discurso que a vasta maioria dos trabalhadores atualmente não recebe a aposentadoria integral.
Com os olhos nas eleições de 2018 e acusados com denúncias de corrupção, os parlamentares pressionaram para mexer também neste ponto, que não estava inicialmente previsto entre os que seriam negociados, diz a Reuters.
Cálculo dos benefícios
No entanto, para aliviar o impacto financeiro dessa mudança – que poderia passar dos 17% de redução no custo da Previdência calculado inicialmente para a reforma – o governo propõe mudar o cálculo do valor da aposentadoria.
Atualmente, usa-se os 80% maiores salários que o trabalhador recebeu ao longo da vida para chegar ao valor do benefício. Passaria-se a usar 100% do salários para o novo cálculo. "É uma das opções do relator. Mas ele ainda vai definir vários aspectos até segunda-feira", disse Marun à Reuters.
Nova regra de transição
Outro ponto que ainda estava em discussão, mas está praticamente definido, é a idade mínima para se aposentar para quem aderir ao novo processo de transição, que deve ficar em 50 anos para mulheres e 55 anos para homens, aumentando gradualmente em um período de 20 anos até chegar a idade mínima de 65 anos, definida na regra geral da reforma.
Isso significa que quem estiver no período de transição terá um período menor de contribuição – os anos que faltam mais um pedágio – mas só poderá se aposentar com 50 e 55 anos, respectivamente.
Os principais envolvidos na negociação devem voltar a Brasília no próximo domingo para que Oliveira Maia apresente seu relatório. De acordo com uma fonte governista, a intenção é que o relatório seja apresentado na segunda-feira a líderes da base aliada, antes da apresentação à Comissão Especial, na terça-feira.
"Mas vai depender do que ele realmente conseguir fechar. A gente não pode apresentar uma coisa que não esteja 100% fechada", disse uma fonte do Palácio.
Esta semana, ao apresentar aos parlamentares da base sua concordância em alterar a reforma – tratada até agora como praticamente inegociável – o presidente Michel Temer afirmou que o texto enviado pelo governo era uma mudança para 30 ou 40 anos, mas que aceitava uma reforma para 20 anos, desde que fosse aprovada.
A Previdência, disse o presidente, virou o "símbolo da vitória reformista, ou não, do governo".
O discurso foi feito antes da divulgação da decisão do ministro do STF Edson Fachin de permitir a abertura de inquérito contra quase uma centena de pessoas, incluindo dezenas de parlamentares e oito ministros do governo Temer.
Depois disso, a avaliação no Palácio do Planalto, de acordo com uma fonte, é que a aprovação da reforma, passou a ser ainda mais essencial para o governo, sob pena de, ao não aprovar, ser acossado pelas investigações de corrupção e ainda perder a confiança de que poderá melhorar a economia.
Fonte: G1
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