O uso de insetos na alimentação humana é uma realidade em muitos países. Existe até uma recomendação da FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, para o consumo de insetos por se tratar de uma rica fonte de proteínas.
Esse tipo de consumo não está regulamentado no Brasil, mas já existem pesquisas sobre o assunto. Um dos trabalhos está sendo desenvolvido em Mato Grosso do Sul.
O professor, biólogo e agrônomo Ramon de Minas coordena no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, em Coxim, uma pesquisa para explorar o potencial dos insetos na alimentação humana. A intimidade com os bichos começou quando o professor trabalhava no controle de pragas nas lavouras.
“O interesse por alimentação surgiu depois que eu comecei a ler os trabalhos e principalmente depois da resolução da ONU e da FAO que indica que deve ser incorporado na alimentação humana devido a demanda que vamos ter nos próximos anos”, diz Minas.
Os insetos são ricos, principalmente, em proteínas. Por exemplo: a cada 100 gramas de barata da espécie cinéria, 60 gramas são de proteína. Em 100 gramas de grilo há 48 de proteína. Já no caso de 100 gamas de boi ou frango, há 20 gramas de proteína. E no porco são 18 gramas de proteína. Mas os insetos precisam passar por um rígido controle de criação para servir de alimento.
Entre os animais pesquisados está o tenébrio. Conhecido como besouro da farinha, ele é considerado uma praga nos armazéns de grãos. No laboratório, o tenébrio é usado na fase de larva, que, segundo o professor, tem um sabor mais suave do que o besouro adulto. Os tenébrios são criados no meio da ração, à base de trigo, milho, vitaminas e minerais.
Já as baratas são criadas em caixas de ovos sobrepostas e amarradas com barbante. A estrutura fica dentro de uma vasilha onde tem comida e água à disposição. O professor trabalha com três espécies de baratas caseiras, que as pessoas estão acostumadas a ver. Pelo menos duas vezes por semana, as caixas onde elas são criadas passam por uma limpeza. No mesmo sistema de produção das baratas estão os grilos.
No Brasil, o uso de insetos na alimentação humana ainda não é regulamentado pelo Ministério da Agricultura. Por isso, não há produção comercial. Hoje, um quilo de barata pode custar até R$ 350,00.
Os insetos viram alimento de fato na cozinha experimental. Os insetos ficam 48 horas só com água e sem comida, para que todos os excrementos sejam eliminados. Depois desse processo, os bichos são abatidos. A morte é feita por congelamento. Os insetos já mortos são fervidos e desidratados em estufa. Amostras dos insetos desidratados são trituradas e viram uma farinha, que é analisada no laboratório de química. O critério são as normas de qualidade exigidas nos alimentos em geral. Só depois de aprovados no laboratório os insetos podem ser usados na alimentação.
Em muitos países é comum comer insetos. A FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, estima que dois bilhões de pessoas no mundo consomem algum tipo desses animais. Na Ásia, nos Estados Unidos, os insetos estão no cardápio ou misturados a outros alimentos.
Em algumas partes do Brasil é comum comer bundinha da formiga tanajura, a saúva ou um tipo de cupim. Ingredientes que hoje já são utilizados em receitas de grandes chefes.
Os pesquisadores usam muita criatividade no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul. Os alunos do curso de tecnologia em alimentos preparam uma série de pratos com insetos. No cardápio há pizza, hambúrguer, patê e bolo.
“No bolo nós utilizamos uma massa tradicional de bolo. A única diferença é que nós vamos enriquecer com a farinha dos insetos, com tenébrio, barata de Madagáscar e grilo triturados”, diz a aluna.
No patê, os insetos também vão em forma de farinha, mas no hambúrguer e na pizza são usados inteiros. Os alunos vão se familiarizando aos poucos com a ideia.
A degustação faz parte das palestras do professor para a comunidade. A plateia tem a chance de experimentar alguns insetos no auditório. No final, é servido o banquete de insetos.
Fonte: G1
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