As forças de segurança da Venezuela dispararam bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes que realizavam o que classificaram como a "mãe de todas as passeatas" contra o presidente Nicolás Maduro nesta quarta-feira (19). Doi jovens foram mortos a tiros. Em Caracas, participantes do protesto acabaram fugindo das bombas atravessando as águas contaminadas do rio Guaire.
Apoiadores da oposição protestaram em Caracas e outras cidades, criticando Maduro por arruinar a democracia e mergulhar a economia no caos. As multidões chegaram às centenas de milhares, incluindo apoiadores de Maduro que realizaram uma contramanifestação na capital incentivados pelo presidente. A oposição venezuelana convocou para esta quinta-feira um novo protesto contra Maduro.
Entre os mortos estão o estudante de 17 anos, Carlos Moreno, que morreu ao ser envolvido por acidente em um confronto. Ele voltava de um jogo de futebol em Caracas e não planejava participar do protesto quando defensores do governo se aproximaram de uma aglomeração de opositores e abriram fogo, de acordo com testemunhas e um familiar. Moreno foi baleado na cabeça. Outra estudante, Paola Ramírez, de 23 anos, morreu por um disparo de supostos apoiadores do governo durante um protesto na cidade de San Cristóbal, disseram familiares e testemunhas.
A manifestação se seguiu a uma série de protestos violentos nas últimas semanas, nos quais outras cinco pessoas foram mortas. A oposição venezuelana tentava marchar até a Defensoria Pública, no centro de Caracas, para exigir o respeito aos poderes do Parlamento, único poder que controla, e eleições gerais para superar a crise política e econômica. No entanto, as forças de segurança impediram que a marcha, iniciada em 20 pontos, chegasse ao coração da cidade, onde manifestantes chavistas também protestavam.
Carregando bandeiras venezuelanas e camisas brancas, os opositores se mobilizaram desde o começo da manhã em diferentes partes da capital venezuelana. Centenas de policiais, guardas nacionais da tropa de choque e veículos blindados vigiavam as principais avenidas e a sede do Ministério do Interior e a Defensoria. Vinte estações de metrô foram fechadas por razões de segurança.
Apoiadores de Maduro também tomaram as ruas. Vestidos de camisas vermelhas, milhares de funcionários públicos e partidários do governo tomaram as principais avenidas da cidade ocidental e central em apoio ao governo.
Maduro acusou seus adversários e os EUA para promover um golpe de Estado. "Hoje eles tentaram tomar o poder e foram derrotados de novo", disse a uma multidão na cerimônia que encerrou a marcha pró-governo. "Estamos desmontando o golpe de Estado terrorista. Estou determinado a defender o meu país e o meu povo e não vou recuar um milímetro em defesa da verdade, da constituição e da paz", disse o governante.
O presidente ainda convocou para uma tentativa de diálogo para acabar com o que chamou de "golpismo". "Eu estou pronto, amanhã mesmo, depois de amanhã, para me reunir com os porta-vozes da oposição para pedir em nome de milhões e milhões de homens e mulheres da Venezuela que se retifiquem e que cessem sua violência e seu golpismo", disse Maduro.
Os atos foram motivados por uma decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) de março por meio da qual a corte assumiu os poderes do Congresso de maioria opositora e que a revogou rapidamente devido à pressão internacional. Mas a medida alimentou uma revolta já antiga com a maneira como o governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) administra a economia. O país exportador de petróleo sofre com uma escassez de alimentos e de bens de consumo de estilo soviético e com uma inflação de três dígitos.
Manifestantes por todo o país exigem que o governo apresente um cronograma para as eleições, que suspenda a repressão contra as manifestações e que respeite a autonomia da Assembleia Nacional, liderada pela oposição. "Esse é um governo em sua fase terminal", disse o ex-candidato presidencial Henrique Capriles, na noite de terça-feira. "Isso vai se intensificar... e forçar Maduro, e seu regime, a realizar eleições democráticas e livres".
Fonte: Uol
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