O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) anunciou nesta sexta-feira (31) que decidiu suspender a inclusão de novos pacientes nos testes clínicos com a fosfoetanolamina, composto polêmico que ficou conhecido como "pílula do câncer", devido à ausência de "benefício clínico significativo" nas pesquisas realizadas até o momento.
Ao todo, 72 pacientes, de 10 diferentes grupos de tumores, foram tratados até o momento nesse estudo da fosfoetanolamina. Destes, 59 tiveram suas reavaliações, e 58 não apresentaram resposta considerada objetiva pelos médicos. Apenas um paciente, que tem melanoma, apresentou uma resposta ao tratamento - uma redução de mais de 30% do tamanho das lesões tumorais.
"Neste momento o estudo tem se revelado muito aquém em termos de taxa de resposta. Conversamos com a comissão que acompanha o estudo a pedido do professor Gilberto [Chierice]. Fizemos reuniões internas extensas sobre o que fazer com esses resultados neste momento e achamos mais prudente suspender a inclusão de novos pacientes no estudo", disse o diretor-geral do Icesp, Paulo Hoff, que supervisionou a pesquisa.
"Como nós tivemos um paciente com melanoma que teve uma resposta importante, a ideia agora é sentarmos com o grupo do professor Gilberto [Chierice], com a Secretaria de Estado da Saúde, com o nosso comitê de ética e estudarmos qual seria a melhor maneira de prosseguirmos no futuro em relação ao estudo", completou.
Gilberto Chierice, professor da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, é o pesquisador que desenvolveu a fosfoetanolamina sintética. De acordo com o Icesp, ele ajudou na indicação de integrantes na comissão do estudo.
Sem benefício clínico
Em texto do Icesp, a avaliação foi: "os resultados iniciais da pesquisa clínica não indicaram o benefício clínico esperado aos pacientes que fizeram uso da substância na dose do estudo".
O grupo de câncer colorretal foi o primeiro a completar a inclusão de todos os pacientes previstos nesta fase, e foi encerrado, pois nenhum paciente apresentou resposta objetiva ao tratamento, segundo informa a Secretaria Estadual de Saúde paulista.
"O estudo continua aberto, ele não é fechado. Como em toda boa prática de pesquisa, os pacientes que já foram incluídos continuam recebendo o produto e serão todos acompanhados. O que nós estamos apresentando é um resultado preliminar atendendo a ideia de transparência total", disse Hoff. "Todos os pacientes continuarão sendo acompanhados pelo Icesp", completou.
De acordo com Hoff, o estudo deverá receber sugestões para uma reestruturação. "Se houver continuação com os pacientes, será com melanoma".
A pesquisa
O estudo teve início em julho de 2016 e, desde então, os pacientes incluídos estão em avaliação por uma equipe especializada com experiência em testes clínicos.
Na segunda fase prevista de testes, o plano era incluir 20 participantes em cada um dos 10 grupos com diferentes tipos de câncer, totalizando 210 pessoas em acompanhamento. Dez pessoas fizeram parte de um estudo inicial para avaliar a toxicidade do medicamento. O objetivo primário dessa etapa, segundo o Icesp, seria a observação de pelo menos dois pacientes com "resposta objetiva", ou seja, com diminuição do tumor em cada grupo.
O Icesp informa que nos últimos oito meses os pacientes pesquisados passaram por avaliações periódicas, com retornos entre 15 e 30 dias, para a realização de consultas médicas e exames, dentre eles a avaliação da doença por tomografia, o que permite aos médicos acompanhar de perto a evolução do câncer em relação ao uso da "pílula do câncer".
Durante os testes, o grupo de pacientes envolvidos não passou por outros tratamentos oncológicos tradicionais. Isso ocorre para, no caso de uma melhora na saúde do grupo, os resultados serem ligados à ingestão da fosfo. Durante esse tempo, boa parte das pessoas tiveram progressão da doença e algumas morreram. O Icesp não quis informar o número de óbitos.
Os pacientes envolvidos no projeto vão continuar em tratamento no Icesp normalmente, com acompanhamento da equipe de oncologia.
Como surgiu a pílula
A fosfoetanolamina sintética começou a ser estudada no Instituto de Química da USP em São Carlos, pelo pesquisador Gilberto Chierice, hoje aposentado. Apesar de não ter sido testada cientificamente em seres humanos, as cápsulas foram entregues de graça a pacientes com câncer por mais de 20 anos.
Fonte: G1
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