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domingo, março 19, 2017

Banco Central bloqueia R$ 2 milhões de investigados na 'Carne Fraca'


Foram bloqueados pouco mais de R$ 2 milhões das contas de 46 pessoas investigadas na Operação Carne Fraca, que apura irregularidades na fiscalização e comercialização de carnes. O valor foi informado pelo Banco Central neste sábado (18) à Justiça Federal, que havia determinado o bloqueio de até R$ 1 bilhão de cada uma das contas.
Não significa necessariamente que cada um dos investigados tenha R$ 1 bilhão. Este é um teto estipulado pela Justiça.
Segundo a Polícia Federal, fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) recebiam propina para liberar licenças sem realizar a fiscalização adequada nos frigoríficos. A investigação indica que eram usados produtos químicos para maquiar carne vencida, e água era injetada nos produtos para aumentar o peso. As carnes eram vendidas no Brasil e no exterior.

Da conta de Daniel Gonçalves Filho, ex-superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) no Paraná, foram bloqueados R$ 0,15. Ele é apontado pela Polícia Federal como o líder do esquema.
Na conta de Rafael Nojiri, filho de Daniel, foram bloqueados R$ R$ 301.848,00.

“Depreende-se que Daniel coloca seu filho Rafael, que é advogado, como parceiro, sócio e homem de confiança em todos os negócios que faz paralelamente à sua atividade legal de servidor público. Ambos trabalham juntos nos negócios angariados por Daniel, em completo desvio da sua função pública”, diz um trecho do despacho do juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, que expediu os mandados referentes à Carne Fraca.
De acordo com o magistrado, responsável pela investigação, Daniel e Rafael eram parceiros nas atividades ilegais.

“Pai e filho atuam juntos na atividade de preservação de empresas agropecuárias de serem devidamente fiscalizadas pelo MAPA, o que poderia prejudicar suas atividades, atuando tanto administrativa quanto judicialmente, possuindo inclusive agenda conjunta de atividades”, afirmou Marcos Josegrei da Silva na decisão.
O G1 tenta localizar os advogados de Daniel Gonçalves e Rafael Nojiri.

As irregularidades
Há também casos de papelão em lotes de frango e carne de cabeça de porco em linguiças.

Ao todo, 22 empresas são investigadas na operação, das gigantes JBS e BRF – que controlam marcas como Seara, Perdigão e Friboi – a frigoríficos menores como Master Carnes, Souza Ramos e Peccin.

As autoridades não detalharam quais irregularidades foram cometidas por cada empresa.
As empresas afirmam que estão colaborando com as investigações e negam adulteração nos produtos.

Há ainda a suspeita de que os partidos PP e PMDB eram beneficiados com propina.
A operação contou com 309 mandados, entre ordens de prisão (preventiva e temporária), busca e apreensão e de condução coercitiva.

De acordo com a PF, 36 pessoas suspeitas de envolvimento nas irregularidades foram presas; duas estão foragidas.
O início da operação
Denúncias do auditor fiscal federal agropecuário Daniel Gouvêa Teixeira de que carnes estragadas e fora de padrão eram vendidas por frigoríficos da região de Curitiba foram a origem da Operação Carne Fraca, deflagrada nesta sexta-feira (17), na qual funcionários do governo e de grandes empresas do ramo foram presos.
O auditor afirma que só conseguiu investigar as fraudes, em 2014, porque foi afastado de atribuições pelos chefes da Superintendência Federal da Agricultura no Paraná. Ele diz que essa era uma prática comum com profissionais que fiscalizaram as empresas corretamente e incomodavam o esquema.

Políticos e lobistas
Daniel Corrêa Teixeira relata que políticos e lobistas eram vistos "quase que diariamente" na Superintendência Federal da Agricultura, em conversas com os chefes de serviço e superintendentes.
"Recebíamos diariamente visitas de lobistas, de políticos e era para tratar justamente dos interesses particulares das empresas. Isso era muito comum até três anos atrás. Depois da [Operação] Lava Jato, tudo ficou mais discreto", declara.

Fonte: G1

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