Não importa se é desfile de escolas de samba, blocos, trios elétricos ou shows em praças públicas. A crise financeira enfrentada pelos municípios e até as condições
climáticas resultaram em cancelamento de eventos carnavalescos neste ano país afora. Em outros locais, as celebrações tiveram redução de custos.
Levantamento da Folha aponta ao menos 37 eventos com verba pública cancelados neste ano em 13 Estados, entre eles São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Paraná e Pernambuco.
No interior paulista, a estância turística de São Luiz do Paraitinga desistiu de fazer o seu tradicional Carnaval de Marchinhas. Segundo o governo local, o motivo é a dívida herdada, parte dela inclusive do Carnaval de 2016.
"Faltam ambulâncias, equipamentos e medicamentos nos postos de saúde e na Santa Casa de Misericórdia, que sofreu uma intervenção e acumula uma dívida significativa, prejudicando consideravelmente seu funcionamento. Também existem dívidas de INSS com o funcionalismo público", afirma comunicado da prefeitura.
Outra estância turística, Batatais, não terá seu desfile de escolas de samba pelo segundo ano seguido. O evento, que custa R$ 1 milhão, não será feito porque os cofres da prefeitura estão vazios.
O mesmo ocorre em Ribeirão Preto, com o agravante de que um esquema de corrupção desviou mais de R$ 200 milhões da prefeitura nos últimos anos, segundo acusação do Ministério Público.
Em Minas, ao menos oito cidades cancelaram a folia, como Pouso Alegre e Patos de Minas e, no Rio, outras sete seguiram o mesmo caminho.
Em Araruama (RJ), a prefeita Livia Bello (PDT) assinou decreto suspendendo as festividades de Carnaval e a transferência de R$ 390 mil da folia para a compra de equipamentos hospitalares.
Barreiras, que costuma fazer o maior Carnaval do oeste da Bahia, não terá festa pelo segundo ano consecutivo. Se em 2016 as chuvas foram o motivo para cancelar, neste ano é o oposto: a cidade decretou emergência pela seca.
"Achamos prudente não gastar dinheiro com festas enquanto durar o decreto de emergência", disse o prefeito Zito Barbosa (DEM).
Para a data não passar em branco, a prefeitura firmou parceria com empresários para fazer um Carnaval "cultural": no lugar dos trios elétricos, haverá bandas de fanfarra tocando marchinhas.
Em Brumado, sudoeste baiano, o prefeito Eduardo Vasconcelos (PSB) foi além: cancelou não só o Carnaval como o feriado destinado à festa. "É uma questão de coerência. Não adianta gastar dinheiro com festa e não ter médicos nos postos de saúde e professores nas escolas."
REDUÇÃO
Mesmo onde haverá comemoração, elas foram enxugadas devido à crise. É o caso de Tibagi, que tem um dos carnavais mais tradicionais do Paraná, com 107 anos.
"Quando a gente fez a estimativa inicial de gastos, o prefeito quase morreu", conta a servidora Maninha Serenato, coordenadora da comissão do Carnaval.
A festa é o principal evento da cidade –com 20 mil habitantes, recebe até 80 mil pessoas ao longo do feriado.
Foram várias reuniões até que se batesse o martelo pela realização, mas com redução nos membros das escolas de samba, reaproveitamento de fantasias e corte dos orçamentos pela metade. "Deu certo porque muitas cidades cancelaram. Então, as empresas toparam fazer mais barato", afirmou Serenato.
Já em Curitiba, que tem fama de não ter Carnaval, a data vinha se notabilizando pelos eventos alternativos, como o Carnaval eletrônico, o "Zombie Walk" e o bloco de pré-Carnaval. Nesse ano, a prefeitura tirou as festas do calendário oficial, reduzindo gastos com infraestrutura.
A prioridade, por causa de cortes orçamentários, foi o desfile das escolas de samba e os bailes de Carnaval. Ainda assim, a verba para as escolas foi reduzida quase à metade.
Algumas das festas alternativas foram realizadas com apoio da iniciativa privada. "É um Carnaval mais econômico", disse o então presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Maurício Appel.
Outras acabaram canceladas. "Foi uma choradeira, porque ninguém acreditava", disse Flávia Nogueira, uma das organizadoras da "Zombie Walk", que reuniu 20 mil pessoas no ano passado e foi cancelada neste ano.
Fonte: Folha de São Paulo
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