Os presos da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na Grande Natal, que deram início a uma série de rebeliões no último sábado (14), desenvolveram artifícios para se identificarem nos confrontos e
montaram esquemas de guerra. Em uma verdadeira batalha campal, ocorrida na última quinta-feira (19), eles se dividiram por vestimenta e posições dentro da penitenciária para atacar e se defender.
Presos ligados ao PCC usam braçadeiras feitas de pano para identificação (Foto: Josemar Gonçalves/Reuters)
Os detentos do PCC, facção que dominou os pavilhões 4 e 5 de Alcaçuz após a matança, em sua maioria, se identificam por não usar camisa e ter braçadeiras feitas de pano amarradas aos braços. Já os detentos do Sindicato do RN, facção que domina os pavilhões 1, 2 e 3, usaram tornozeleiras, também feitas de panos, e muitos estavam de camisa na hora da batalha.
Já os presos ligados ao Sindicato do RN usam tornozeleiras feitas de pano (Foto: Andressa Anholete/AFP)
Durante o confronto, as duas facções estavam divididas no espaço que liga os pavilhões. Do lado esquerdo, os integrantes do Sindicato do RN e, do direito, os do PCC. Armados com barras de ferro, paus e pedras, eles montaram barricadas com grades, chapas de ferro dos portões, armários e colchões. Dois dos detentos, inclusive, usavam coletes de proteção durante o confronto.
Na última quinta-feira (19) ficou clara a movimentação estratégica das facções em Alcaçuz. Essa disputa, travada com armas de fogo, armas artesanais, entre lanças e escudos, e com os pés na areia, representou o confronto mais intenso entre as partes na cadeia desde o início da semana. O G1 apurou que os detentos se utilizaram de um esquema de organização, composto por detentos que ficavam encarregados de atacar, defender e outros para protegerem os chefes.
Dois detentos usam coletes de proteção durante batalha da última quinta-feira (19) (Foto: Josemar Gonçalves/Reuters)
A menos de 300 metros uns dos outros, os homens trocavam ameaças de invasão de pavilhão. Grades, chapas de ferro dos portões, armários e colchões eram usados como barricadas. Bandeiras das facções eram exibidas pelas unidades, que também tinham pichações alusivas aos grupos criminosos.
Do alto dos muros, PMs e agentes penitenciários atiravam bombas de efeito moral e balas não letais para evitar a aproximação dos grupos criminosos.
A batalha campal aconteceu após 220 membros da facção criminosa Sindicato do RN serem retirados. Ainda há, entretanto, membros do Sindicato no local, além de detentos que não são ligados a nenhuma facção. No total, há cerca de 1,2 mil detentos em Alcaçuz, quase o dobro da capacidade.
No último sábado (14) uma rebelião de mais de 14 horas em Alcaçuz deixou 26 mortos. Destes, 15 foram decapitados. Cinco presos identificados como chefes da facção que comandou o massacre do fim de semana foram retirados de Alcaçuz para prestar depoimento e serão transferidos para outros presídios.
Inaugurada em 1998 com foco na "humanização", a penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, está sem grades nas celas desde uma rebelião em março de 2015. Resultado: os presos circulam livremente e os agentes penitenciários se limitam a ficar próximos à portaria.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!