Ele estava preparado para enfrentar a morte em 20 de fevereiro de 1962, quando tornou-se o primeiro astronauta americano
a orbitar a Terra. Mas ela só o alcançou depois de mais 64 voltas em torno do Sol. John Glenn morreu nesta quinta-feira (8), aos 95 anos, mas seu legado certamente permanece vivo entre todos os entusiastas da exploração espacial.
Glenn estava hospitalizado havia mais de uma semana, em seu estado natal de Ohio, mas só na quarta-feira a imprensa foi notificada. A causa da morte ainda não foi informada, e não se sabe se há relação com o derrame que ele teve há dois anos, quando passou por uma cirurgia cardíaca.
Conhecido por fazer parte do primeiro grupo de astronautas americanos, Glenn se tornou um ícone mundial ao embarcar na cápsula Friendship 7 e igualar o jogo na corrida espacial entre americanos e soviéticos. Até então, apenas cosmonautas russos, a começar por Yuri Gagarin, em 12 de abril de 1961, haviam orbitado a Terra.
Parte do programa Mercury, Glenn realizou o terceiro voo espacial americano, mas o primeiro com capacidade de voo orbital. E passou por apuros lá em cima. Na primeira órbita, o sistema de controle automático falhou, e o astronauta teve de agir para comandar o veículo de forma manual. “Eu passei ao controle manual e fiquei nesse modo durante a segunda e terceira órbitas, e durante a reentrada”, disse mais tarde o astronauta. “A falha me forçou a demonstrar rapidamente o que havia sido planejado durante um logo período de tempo.”
E esse não seria o fim dos problemas. Depois de dar três voltas ao redor da Terra em pouco menos de 5 horas, um sensor indicava que o escudo térmico de proteção da espaçonave — elemento essencial para uma reentrada atmosférica segura — podia estar solto, talvez mantido no lugar apenas pelos retrofoguetes usados para frear o veículo e fazê-lo voltar ao planeta.
O problema: o procedimento padrão ditava que os retrofoguetes tinham de ser ejetados para a reentrada. O controle da missão (que, na época, ainda não era em Houston, mas em Cabo Canaveral) deliberou e decidiu que, por segurança, o equipamento não devia ser ejetado. Certamente o procedimento envolveu muita apreensão, mas a Friendship 7 chegou intacta para um pouso no oceano Atlântico. Glenn retornava como o mais novo e visível herói americano.
Era o ponto culminante de uma já longa e distinta carreira de voo.
DO MAR PARA O AR PARA O ESPAÇO
John Herschel Glenn Jr. nasceu me 18 de julho de 1921, em Cambridge, Ohion. Cursou engenharia no Muskingum College e entrou para o programa de cadetes de aviação da Marinha em março de 1942. Como piloto, realizou 59 missões de combate durante a Segunda Guerra Mundial. Também participou da Guerra da Coreia e se tornou instrutor de voo avançado. Durante sua carreira como aviador, registrou cerca de 9.000 horas de voo.
Selecionado pela Nasa para compor o primeiro grupo de astronautas, em 1958, ele se tornou o terceiro americano a ir ao espaço, e o primeiro a realizar um voo orbital. Antes dele, haviam voado Alan Shepard e Gus Grissom, que realizaram apenas missões suborbitais (a cápsula subia ao espaço e descia em seguida, sem dar uma volta em torno da Terra).
Um exemplo para seus colegas astronautas, Glenn era o mais comportado e disciplinado do grupo que ficou famoso ao ser retratado no livro “Os Eleitos” (“The Right Stuff”), de Tom Wolfe, mais tarde transformado em filme. Após seu voo orbital, Glenn decidiu deixar a Nasa, em 1964. Segundo o historiador espacial John Logsdon, da Universidade George Washington, depois de receber a recomendação de John F. Kennedy, morto no ano anterior, que não queria arriscar o que ele via como um “herói e político nato” em um novo voo espacial.
Com efeito, Glenn se tornou político. Perdeu duas eleições ao Senado pelo Partido Democrata antes de finalmente se eleger, em 1974, e então cumprir quatro mandatos, defendendo principalmente a não proliferação nuclear e a eficiência das instituições.
NOVO RECORDE
Em 1998, ainda durante seu último mandato, voltou à Nasa para realizar um voo espacial a bordo do ônibus espacial Discovery, em outubro daquele ano. Passou nove dias em órbita e tornou-se o astronauta mais velho a ir ao espaço, então com 77 anos. No ano seguinte, encerrou sua carreira política, ao não tentar nova reeleição.
Fonte: Folha de São Paulo
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