Você escuta uma cena de assassinato antes de vê-la: os gritos desesperados de uma nova viúva; as sirenes estridentes dos carros de polícia chegando; o
tamborilar da chuva no calçamento de um beco de Manila e nas costas de Romeo Torres Fontanilla.
"Tigas", como ele era conhecido, estava deitado de rosto para baixo na rua quando me aproximei, depois da 1h. Ele tinha 37 anos. Foi morto, segundo testemunhas, por dois pistoleiros em uma moto. O temporal levou seu sangue para a boca-de-lobo.
O beco encharcado no bairro de Pasay, em Manila, foi minha 17ª cena de crime em meu 11º dia na capital das Filipinas, Manila. Fui documentar a campanha sangrenta e caótica contra os traficantes de drogas que o presidente Rodrigo Duterte lançou ao assumir o cargo, em 30 de junho. Desde então, cerca de 2.000 pessoas foram mortas só pelas mãos da polícia.
Presenciei cenas sanguinolentas em todos os lugares imagináveis --na calçada, nos trilhos do trem, na frente de uma escola de meninas, diante de lojas de conveniência e de um McDonald's, sobre colchões em quartos de dormir e sofás em salas. Vi quando uma mulher vestida de vermelho olhou para um desses locais horríveis por entre os dedos erguidos sobre os olhos, ao mesmo tempo tentando se proteger e se permitir um último olhar para o homem morto no meio de uma rua movimentada.
Não longe de onde Tigas foi abatido, encontrei Michael Araja morto na frente de um "sari sari", como são chamados aqui os quiosques que vendem artigos básicos nas favelas. Os moradores me contaram que Araja, 29, tinha saído para comprar cigarros e bebida para sua mulher, mas foi alvejado por dois homens em uma moto, uma tática que já se tornou comum.
Em outro bairro, Riverside, uma boneca Barbie ensanguentada estava ao lado de uma menina de 17 anos que fora morta junto com seu namorado de 21.
"Eles estão nos abatendo como animais", disse um observador que não quis dar o nome.
Fonte: Uol
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