A eleição de Donald Trump nos EUA nesta quarta-feira (9) é motivo de ansiedade em todo o Oriente Médio. Governos regionais tentam decifrar a ainda inconsistente
política externa do republicano e descobrir como beneficiar-se dela.
Assim que a vitória de Trump foi anunciada, por exemplo, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, afirmou que ele é um "verdadeiro amigo de Israel".
Naftali Bennett, ministro israelense da Educação, comemorou também a eleição. Ele afirmou que essa é uma "tremenda oportunidade" para Israel negar o estabelecimento de um Estado palestino. "A era do Estado palestino acabou."
O governo israelense pode de fato ter algumas razões para otimismo. Netanyahu e Obama não tinham boas relações —o presidente americano foi uma vez flagrado reclamando do premiê para o então presidente francês, Nicolas Sarkozy.
Ademais, quando Hillary Clinton foi secretária de Estado americana, ela desviou o foco da política externa para o sudeste asiático, em um movimento que levou a ressentimentos na região, acostumada à constante atenção e intervenção dos EUA.
Trump, por sua vez, já deu sinais de ter interesse em fortalecer seus laços com Israel, e a solução do conflito entre israelenses e palestinos não deve ser uma de suas prioridades.
Na espera de mais clareza nesse cenário, Mahmoud Abbas, presidente palestino, congratulou Trump e afirmou esperar que a paz chegue durante seu governo. A facção radical palestina Hamas disse paralelamente não distinguir entre o republicano e a democrata, que teriam políticas semelhantes em relação à causa palestina.
Government Press Office-30.set.2016/Reuters | |
Mahmud Abbas e Binyamin Netanyahu se cumprimentam; acordo não deve ser prioridade de Trump |
A eleição de Trump também pode afetar diversas de outras políticas americanas no Oriente Médio. Por exemplo, a resolução do conflito sírio, em que até então os EUA vinham antagonizando com a sua rival Rússia.
Trump demonstrou interesse em aproximar-se de Vladimir Putin, presidente russo, o que poderia alterar a dinâmica do embate. Os EUA são um dos principais críticos dos bombardeios russos sobre a cidade síria de Aleppo, por exemplo, que têm auxiliado o regime sírio de Bashar al-Assad.
Sem o freio americano, a Rússia pode consolidar sua posição no Oriente Médio e ajudar o ditador Assad a derrotar as forças armadas de oposição.
IRÃ
A ascensão de Trump preocupa, ainda, o Irã. Os EUA assinaram um pacto nuclear com o país no ano passado, com a perspectiva de aliviar as sanções que têm sufocado a economia local.
O acordo é visto como um importante legado da administração de Obama. Mas, criticado por republicanos no Congresso, o pacto pode agora ser revertido. Trump já demonstrou não gostar do arranjo.
Craig Ruttle-26.set.2015/Associated Press | |
John Kerry, chanceler dos EUA (esq.), e seu colega do Irã, Javad Zarif; pacto nuclear pode ser desfeito |
Em março ele afirmou a um grupo de lobby pró-Israel que sua "prioridade número um" seria "desmantelar o acordo desastroso com o Irã". A medida causaria bastante desconforto na Europa, cujos empresários se preparam para investir no país durante o fim das sanções.
Mas Hassan Rouhani, presidente iraniano, afirmou nesta quarta que o resultado das eleições não deve afetar as políticas de Teerã, de acordo com agência de notícias estatal IRNA.
Fonte: Folha de São Paulo
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