A redução nos preços da gasolina pode ser encarada, em princípio, como uma boa notícia para os produtores de etanol, mas não
soluciona os problemas do setor.
A decisão da Petrobras é boa pois o governo começa a dar previsibilidade à política de preços dos combustíveis.
Toda queda de preço da gasolina torna, no entanto, o preço do etanol menos competitivo em relação ao do derivado do petróleo.
Mas é cedo para uma avaliação de como essa queda da gasolina vai afetar o etanol. Quanto da redução promovida pela Petrobras vai chegar à bomba? Mercado é mercado e, no meio do caminho, os diversos segmentos envolvidos na cadeia podem se apropriar de parte dessa queda.
Além dos impostos, distribuidoras e postos podem elevar a margem de ganho no processo.
Mas a Petrobras, agindo agora como empresa que deve manter suas contas em dia, vai dar previsibilidade aos preços, uma exigência do setor sucroalcooleiro nos últimos anos.
Mas só a previsibilidade não basta. Falta, ainda, política de longo prazo para o setor, evidenciando as qualidades desse combustível limpo e menos prejudicial à saúde.
Essa é uma questão difícil, principalmente em período de economia em recessão. Afinal, é uma decisão de se definir quanto a sociedade estaria disposta a pagar por esse "ônus", graças às externalidades do combustível.
Se a redução de preços da Petrobras realmente chegar à bomba de forma integral, o etanol perde competitividade e terá de encontrar novos espaços na matriz energética.
O setor sucroalcooleiro poderá ser penalizado duas vezes. Além da eventual perda de competitividade do etanol —se ela se concretizar—, é um setor que consome muito diesel na produção. E este, ao contrário do que ocorreu na redução anterior de preços, em 2009, teve queda menor de preço do que a gasolina.
Sem política de longo prazo, o etanol, menos competitivo, deverá perder espaço. Não houve investimentos no setor nos últimos anos, devido à grave crise de preços.
Com isso, a oferta de cana deve reagir lentamente, sendo destinada basicamente para a produção de açúcar, devido aos preços melhores do produto e ao deficit mundial.
As previsões indicam que a oferta do produto abaixo da demanda mundial deve demorar por vários anos, inibindo a produção de etanol.
E os efeitos já começam a aparecer. Neste ano, com a recuperação dos preços internacionais do açúcar, a produção de etanol deverá cair.
Fonte: Folha de São Paulo
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