O general Ajax Porto Pinheiro, comandante das tropas internacionais da ONU na missão de paz no Haiti (Minustah), deslocou o comando do Brasil e cerca de 330
soldados brasileiros, cuja base é a capital, Porto Príncipe, para as cidades mais destruídas pelo furacão Matthew, que deixou até o momento mais de 800 mortos, segundo as autoridades locais ouvidas pela agência Reuters. Para Pinheiro, o número de mortes ainda deve aumentar, e passar de mil.
Em entrevista exclusiva ao G1, Pinheiro afirmou que o coronel que comanda as tropas do Brasil, Sebastião Roberto de Oliveira, todos os seus auxiliares, duas companhias de infantaria e mais 50 homens que integram a engenharia do Brasil foram levadas para as cidades de Miragoâne, Les Caye e Jeremie, todas ao sul, que ficaram isoladas e foram totalmente devastadas.
"As ruas estão alagadas, estradas soterradas, as pontes destruídas e arrancadas pelas ondas. O furacão deslocou-se sobre o país em uma velocidade pequena – entre 4 km/h e 10 km/h – mas com velocidade de seu redemoinho que chegou até 230 km/h. Ele parou em alguns momentos sobre o país, pegando tudo, sem salvação”, diz o general. As ondas, no litoral sul, atingiram o litoral com mais de 3 metros de altura.
“As pessoas ficaram totalmente expostas, não tinham onde se proteger, porque os telhados das casas nestes locais não resistem ao vento e foram levados. Árvores, até coqueiros de metros de altura, foram arrancados totalmente pelas raízes. Como se alguém pegasse, pelas mãos, e arrancasse como se fosse capim”, diz Pinheiro, que sobrevoou a área atingida na tarde de quinta-feira (6).
Passagem do furacão Matthew pelo Haiti (Foto: Logan Abassi UN/Minustah)
Por ordem de Pinheiro, as tropas do Brasil ficarão na área devastada, em barracas e =comendo ração, por duas semanas. Isso porque até os militares de Ruanda, que atuam pela missão da ONU e possuem uma base próxima, tiveram os contêineres onde vivem e realizam tarefas levados pelo vento.
As cidades ficam a mais de 200 km e a 6 horas de carro da capital, onde fica a base do Brasil atualmente. A situação logística de acesso pelas estradas impossibilita o deslocamento rápido de suprimentos, como gasolina.
A ONU possui desde 2004 uma missão de paz no Haiti, quando o país passou por uma convulsão social que levou à queda do então presidente Jean Bertrand Aristides e um princípio de guerra civil. A operação internacional, atualmente com 2.370 homens, é desde o início liderada por um general do Brasil e tem o maior contingente de tropas brasileiras - hoje, passam de 850 soldados.
Militares do Brasil tiram árvores de estrada com acesso bloqueado a comunidade no sul do país (Foto: Contingente do Brasil no Haiti/Divulgação)
"O comando do Brasil ficará temporariamente em Les Cayes. Estamos chegando no prazo de cinco dias depois da tragédia e temos que chegar rápido aos sobreviventes. É um drama. Nas casas, vilarejos isolados, ao sobrevoarmos, vimos pessoas pedindo socorro. É uma sensação de abandono e sofrimento lembra o terremoto de 2010", afirma Pinheiro, que estava no Haiti naquela ocasião, onde o incidente natural deixou mais de 300 mil mortos.
O objetivo das tropas do Brasil agora é desobstruir estradas bloqueadas, chegar a comunidades que estão isoladas e sem comida, luz ou comunicação em Miragoâne, levar comida aos sobreviventes e, em seguida, começar o trabalho de reconstrução das casas. Alguns pelotões também chegaram a Jacmel e Petit Goave, também atingidas pelo olho do furacão.
“Os comandantes lá estão com autonomia para tomarem as decisões rápidas com a comunidade local. Só voltaremos de lá quando os problemas estiverem resolvidos”, afirma.
Tropas do Brasil começam a chegar em áreas isoladas pelo furação Matthew no Haiti (Foto: Contingente do Brasil no Haiti/Ministério da Defesa)
Para o general, o estrago provocado pelo Matthew “é um drama diferente do terremoto de 2010”. Ele aponta que o rastro de destruição no país foi ainda pior desta vez, devido à dificuldade de comunicação com áreas que estão totalmente isoladas e a distância: as cidades devastadas ficam a mais de 200 km da capital.
“A área atingida é maior do que o terremoto, além da dificuldade de ligação com estes locais. Mas os militares estão empenhados em cumprir a missão, principalmente a engenharia, que está executando trabalho de guerra, desobstruindo estradas e chegando a locais bloqueados”, afirmou Pinheiro.
Passagem do furacão Matthew pelo Haiti (Foto: Minustah/Divulgação)
Pinheiro relembra o momento em que soube que o Matthew atingiria a costa haitiana. “Até quinta-feira passada (29 de setembro), ele estava indo em direção à América Central, foi um capricho da natureza. Eu não acreditei quando vi nas fotos de satélite que ele estava mudando de direção em 90 graus para vir o Haiti. A natureza é ingrata com o Haiti. Este furacão nos atingir em cheio, ninguém esperava”, pondera.
O Conselho de Segurança da ONU deve avaliar na próxima semana se a missão de paz continua ou não no Haiti. O procedimento é padrão, e acontece desde 2004, quando a missão de paz foi criada.
A ideia inicial da comunidade internacional era deixar o Haiti até o fim de 2016. Mas seguidos adiamentos das eleições presidenciais, após a invalidação de um pleito realizado em outubro de 2015 por causa de suspeitas de fraudes, levaram o Haiti a nova instabilidade política – atualmente, o comando está com o presidente interino Jocelerme Privert. As eleições, que estavam marcadas para dia 9 de outubro, foram novamente adiadas.
Pinheiro acredita que, apesar do ocorrido, o mandato das tropas deve ser renovado por apenas mais seis meses, como o programado, mantendo o número atual de soldados no terreno. "Toda hora pode acontecer qualquer coisa aqui", diz o general.
Sobreviventes do furacão Matthew estendem roupas no Haiti após passagem do furacão (Foto: Logan Abassi UN/Minustah)
Fonte: G1
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