O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, nesta quinta-feira (15), a denúncia do Ministério Público Federal, que o acusa de ser o "comandante máximo" da Lava
Jato, além de ter recebido R$ 3,7 milhões em propina. "Provem uma corrupção minha que irei a pé para ser preso."
Em evento do diretório do PT em São Paulo, com a presença de várias lideranças políticas e de movimentos sociais, Lula voltou a negar irregularidades e afirmou que ganhou o direito de "andar de cabeça erguida" no país. Ele chegou a chorar em alguns momentos do discurso.
"Todas essas denúncias, tenho a consciência tranquila, e mantenho o bom humor, porque me conheço, sei de onde vim, sei para onde vou, sei quem me ajudou a chegar onde estou, sei quem quer que eu saia, sei quem quer que eu volte."
Lula disse falar como um "cidadão indignado", e não como político. "Nunca pensei em passar por isso." Para o ex-presidente, "construíram uma mentira" e agora é hora de "concluir a novela". "Vão agora dar o desfecho, acabar com a vida política do Lula. Não existe outra explicação para o espetáculo de pirotecnia que fizeram ontem [quarta]."
Para Lula, a lógica de coletivas de imprensa como a do MPF é dar manchete, "mostrar quem vamos demonizar. Isso acontece desde 2005". "O PT é tido como partido que tem que ser extirpado da política brasileira."
Ele questionou como se convoca uma entrevista para apresentar a prova de um crime e diz: "Eu não tenho prova, mas tenho convicção". "Eu não posso dizer que convicção eu tenho deles."
'Respeito' e 'responsabilidade'
O ex-presidente defendeu o fortalecimento do Ministério Público e da Polícia Federal, mas disse que é preciso ter responsabilidade. "Respeito as instituições e respeito as leis. Vou prestar quantos depoimentos quiserem. É só me chamar", afirmou.
"Quando eu transgredir a lei, me punam para servir de exemplo. Mas quando eu não transgredir, procurem outro para criar problema." O ex-presidente declarou ainda que "ninguém está acima da lei, nem um ex-presidente, nem um procurador da República, nem um ministro do Supremo Tribunal Federal".
Lula disse não tem espaço para ficar triste. Com lágrimas nos olhos, o ex-presidente afirmou que "sabe o que é, num domingo de chuva, com cinco irmãos, em São Bernardo do Campo, esperando a hora do almoço sem ter um bocado de feijão para colocar no fogo."
Ele disse que vai continuar lutando. "Só Deus pode me fazer parar."
O ex-presidente afirmou que não irá perder o sono por causa das investigações. "A história mal começou. Alguns pensam que ela terminou. E eu vou viver muito. Estou com 70 anos, com vontade de viver mais 20."
Transparência
Lula disse que seu governo e de Dilma tomaram medidas para combater a corrupção, além do fortalecimento da PF e do MPF. "Criamos o portal da Transparência e a Lei de Acesso à Informação."
"Não é que somos mais honestos que ninguém, mas tiramos da sala o tapete que escondia a corrupção do país." Segundo Lula, "só tem um jeito de a pessoa não ser perseguida, é ser honesta".
Trajetória e ódio contra o PT
No início do discurso, Lula falou sobre a sua trajetória como sindicalista e sua entrada na política. "Tenho orgulho de ter criado o mais importante partido de esquerda da América Latina." Ele disse que chegou à Presidência com o objetivo de não errar.
"Não prometi o socialismo para ninguém, não prometi o fim da luta de classes, propus algo muito mais simples, que, se chegasse ao final do meu mandato, que cada brasileiro tivesse três refeições por dia", afirmou, destacando ter feito muito mais do que isso.
"Tenho consciência de que o meu fracasso teria agradado meus adversários, meu fracasso não teria despertado tanto ódio contra o PT. O que despertou ira foi o sucesso do governo, a maior política de inclusão social do país, a maior política de bancarização do país", disse.
Ele citou tentativas de golpe na história do Brasil, como as feitas contra os presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, e disse que o mesmo aconteceu com ele e Dilma, que acabou tirada do cargo.
Segundo Lula, seus adversários "transformaram uma mentira em verdade" e aprovaram o impeachment de Dilma na Câmara, liderados "por um cidadão [Eduardo Cunha] que agora foi cassado". E o processo foi ao Senado.
O ex-presidente disse que achava que o Senado tinha "um nível superior". "E eis que o Senado se apequenou, repetindo a Câmara e aprovando a admissibilidade. [...] Eles conseguiram dar um golpe tranquilo e pacífico." Ele agradeceu aos parlamentares que votaram contra o impeachment.
Lula convidou os militantes a usar camisa vermelha, para demonstrar orgulho de integrar o PT. Ele pediu que não pensem que está desanimado ou sofrido. "Daqui para frente, cada petista nesse país tem que começar a andar de camisa vermelha. Quem não gostar, coloque de outra cor. Mas esse partido tem que ter orgulho, porque ninguém fez mais do que nós fizemos nesse país", disse.
Nota do PT
Antes da fala de Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, leu uma nota de repúdio à denúncia apresentada contra o ex-presidente e sua mulher. O texto, que foi escrito pelo diretório nacional do PT, criticou a "criminalização" do PT e disse a peça acusatória não tem provas e foi politicamente orientada, desrespeitando direitos e garantias constitucionais.
"Ao denunciar, confessadamente sem provas, o ex-presidente Lula e sua esposa, Marisa Letícia, além de Paulo Okamoto e outros cidadãos, o chefe dos procuradores sediados em Curitiba torna cada vez mais evidente o envolvimento de seu grupo na tramoia que levou ao golpe contra a presidenta eleita democraticamente. E desmascara sua intenção cavilosa, persecutória e autoritária, de antecipar, à margem da lei, um julgamento sumário e condenatório dos que elegeu, seletivamente, como vítimas", diz o texto do PT.
A nota chamou a coletiva de imprensa do MPF de "grotesco espetáculo midiático" e disse que os procuradores viraram "porta-bandeira da mata antipetista". "Mancomunados para criminalizar nosso partido e animar a campanha midiática contra os governos liderados pelo PT, estes burocratas facciosos agora buscam concluir o trabalho sujo que lhes foi encomendado pelas forças reacionárias. Seu objetivo é retirar da cena política o principal líder do povo brasileiro e restringir os próximos processos eleitorais a um jogo controlado pelas oligarquias."
O evento reuniu o ex-ministro-chefe da Casa Civil Jacques Wagner, o senador Humberto Costa (PT-PE), a senadora Gleise Hoffmann (PT-PR), o presidente da CUT, Vagner Freitas, o deputado Vicentinho (PT-SP), o ex-senador Eduardo Suplicy (PT-SP), entre outras dezenas de lideranças do PT.
Representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), como Guilherme Boulos, e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) também marcam presença.
A denúncia
Na quarta-feira (14), o MPF denunciou Lula, a mulher dele, Marisa Letícia, e mais seis pessoas no âmbito da Operação Lava Jato. O procurador Deltan Dallagnol afirmou que, segundo provas do MPF, Lula era o "comandante máximo do esquema de corrupção identificado na Lava Jato". VEJA A ÍNTEGRA DA DENÚNCIA
A denúncia abrange três contratos da OAS com a Petrobras e diz que R$ 3,7 milhões em propinas foram pagas a Lula. Os crimes imputados aos denunciados são corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia não significa que eles sejam culpados dos crimes de que são acusados. Cabe à Justiça acolher ou não as argumentações dos promotores. Se acolher, os denunciados se tornarão réus e serão julgados.
A força-tarefa da Lava Jato afirmou que deixou de denunciar Lula pelo crime de organização criminosa porque este fato está em apuração no Supremo Tribunal Federal (STF).
O MPF pede a indenização de R$ 87,6 milhões, que deveria ser paga pela OAS e também por Lula, além de R$ 58,4 milhões, a serem pagos por Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e Agenor Franklin Magalhães Medeiros, ex-executivo da OAS.
A denúncia do MPF diz que todo o megaesquema envolve o valor de R$ 6,2 bilhões em propina, gerando à Petrobras um prejuízo estimado em R$ 42 bilhões.
Em nota, os advogados de Lula disseram que o ex-presidente e sua mulher "repudiam publica e veementemente a denúncia" do MPF, a qual chamaram de "peça de ficção" e de "truque de ilusionismo".
O texto, assinado por Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira, diz que os procuradores não apresentaram provas concretas de que o casal tentou esconder a propriedade do imóvel e que os recursos usados pela empresa tiveram origem em desvios da Petrobras. Segundo eles, a coletiva de imprensa violou as garantias de dignidade da pessoa humana e da presunção da inocência. "O evento apresentou denúncia como uma condenação antecipada aos envolvidos", afirma a nota.
Fonte: G1
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