Documentos apreendidos pela PF (Polícia Federal) e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) mostram diálogos comprovando as
indicações de vereadores para atuarem numa empresa terceirizada pela Prefeitura de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).
Transcrições de diálogos entre o presidente afastado da Câmara, Walter Gomes (PTB), e sua filha Gislaine, revelam que o político obteve um emprego para ela por meio da empresa Atmosphera. Apontam ainda que ela não ficou contente com o valor do salário.
A suspeita da operação Sevandija —que significa "parasita"— é que a prefeitura usava a Coderp (companhia de desenvolvimento) para contratar a Atmosphera, por meio de licitações fraudulentas, para abrigar funcionários terceirizados que deveriam ser contratados em concurso público. Esses 589 funcionários eram indicados por aliados da prefeita Dárcy Vera (PSD), sobretudo vereadores.
A prefeitura rompeu o contrato com a empresa após a deflagração da operação e todos os empregados vinculados a ela estão cumprindo aviso prévio.
Na conversa com seu pai, Gislaine questiona o presidente da Câmara por ter sido indicada a uma função de monitora de escola na Secretaria da Educação em que receberia R$ 1.600, mas Walter rebate, ao afirmar que são R$ 1.900, além do tíquete. O diálogo foi revelado pela EPTV, afiliada Globo, e obtido pela Folha.
Gislaine: Nossa, paizinho, ganhar R$ 1.600?
Walter: R$ 1.900, mais o tíquete.
Gislaine: R$ 1.900, desconta, sai R$ 1.550.
Walter: Minha filha, então vai ganhar R$ 800 pra limpar casa, tá, enquanto todo mundo está pedindo pra arrumar um [emprego], pra você R$ 2.000 é pouco.
Gislaine: Não é R$ 2.000, paizinho.
Walter: Com o tíquete, dá mais de R$ 2.000.
O diálogo prossegue:
Gislaine: Sai R$ 1.550 o salário, com desconto, e R$ 500, o tíquete.
Walter: Tá ruim, minha filha, tem só umas 3.000 pessoas querendo isso aí.
Gislaine: Então, eu ganho R$ 3.000 sem trabalhar, agora vou trabalhar o dia inteiro para ganhar R$ 1.500?
Walter é um dos vereadores que tiveram contato direto ou indireto com o empresário Marcelo Plastino, dono da Atmosphera. O empresário foi flagrado entregando envelopes no meio de revistas ao presidente da Casa –para investigadores, os envelopes continham dinheiro vivo.
Ele e outros oito vereadores tiveram os mandatos suspensos pela Justiça até o fim do processo.
Advogado do político, Júlio Mossin disse a filha do vereador trabalhou alguns dias apenas na secretaria e que não houve irregularidade na contratação.
Disse ainda que tenta, por meio de uma liminar, fazer com que Walter reassuma o cargo. Segundo o advogado,
"Um vereador pedir emprego, indicar algum currículo, é normal. Não só na Atmosphera, mas 'n' empresas recebem currículo de vereador. Isso não é crime", disse o advogado.
Fonte: Folha de São Paulo
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