sexta-feira, agosto 19, 2016

Vizinhos se unem e juntam R$ 4,1 mil para enterro de moradora de rua

http://cidadenewsitau.blogspot.com.br/Um grupo de moradores de Botafogo, na Zona Sul do Rio, se mobilizou com o auxílio das redes sociais e conseguiu custear o enterro de uma moradora de rua que vivia há mais de três décadas na região. Lauracy Serafim de Jesus,
conhecida como Laura, tinha 58 anos e era muito conhecida e querida na região.

Um dos participantes da iniciativa chegou a exumar os restos mortais do pai do jazigo da família para garantir o enterro. Durante a cerimônia, o grupo se emocionou e agradeceu Laura pelos anos de convivência e por tê-lo unido naquele momento.
O enterro aconteceu na segunda-feira (15). Laura tinha morrido na quinta-feira (11) exatamente no local que chamava de casa - a rua Rodrigo de Brito. A mobilização que impediu que ela fosse enterrada como indigente contou com uma rede de doação de cerca de 50 pessoas e chegou a R$ 4.177.
A ideia veio do casal Sonia Domingues e Luiz Elson, que há muito tempo mora na rua Rodrigo de Brito e guardava os pertences de Lauracy, ou "Laurinha", como era carinhosamente conhecida pelos moradores do bairro.

Laura foi enterrada no jazigo da família de Elson, que teve que exumar os restos mortais do  pai para liberar espaço no túmulo. O enterro custou R$ 3.230 e o valor arrecadado a mais será destinado ao projeto RUAS, que trabalha com população de rua. Parte do valor, R$ 700, era da própria Laura, e era guardado por Sônia.
"Isso não é uma ação minha e da Sônia, é de todos nós, todos vocês que colaboraram para que nossa amiga pudesse ter um fim com dignidade", disse Luiz, para o grupo de cerca de 15 pessoas que se reuniu na capela A do Cemitério do Catumbi, no Centro do Rio, para se despedir da Laura.

Pelo menos 30 anos se passaram desde a primeira vez que Sônia viu Lauracy. Como os outros vizinhos, trocava cumprimentos matinais e rotineiros assim que se mudou para a região, até que, em 1993, abriu uma loja de doces e salgados na mesma rua. Não durou muito tempo e Laura começou a aparecer pedindo para que a vendedora guardasse suas coisas e seu dinheiro. "Ela tinha muitas coisas. Eram várias caixas e muita roupa. Tudo ficava na minha casa. Quando precisava de dinheiro, ela ia à loja e me pedia para pegar o que estava guardado", disse Sônia, com quem Laura estabelecia uma relação de carinho e confiança.

As quase três décadas vivendo nas ruas fizeram de Lauracy uma pessoa querida por muitos que a encontravam. Alta e forte, ela era descrita como uma mulher de voz suave e doce, lia os jornais todos os dias, comprados por ela mesma, e adorava Coca-cola. Também não dispensava cigarros, nem o rádio de pilha. Laura era conhecida também por não aceitar doações de qualquer pessoa e por não pedir dinheiro a ninguém. Um carrinho de supermercado lhe servia como armário particular.
“Não fazia mal a ninguém. Não fazia mal a ninguém”, repetiu um dos moradores que foram ao enterro. Frequentadores da região sempre a viam desenhando ou escrevendo. Dormir era coisa que ela só fazia sentada, sobre uma lata de tinta. Parou de deitar no chão desde que foi agredida por homens em uma noite.

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Moradores velam o corpo da moradora de rua Laura (Foto: Amanda Prado/TV Globo)Moradores velam o corpo da moradora de rua Laura (Foto: Amanda Prado/TV Globo)

Durante o velório, o grupo de amigos lembrou com saudade e carinho da mineira Laura. Ninguém sabia ao certo como ela foi parar nas ruas cariocas. A única certeza era que ela jamais sairia de onde mais gostava de ficar: entre as ruas Arnaldo Quintela e a Álvaro Ramos, mais precisamente na Rua Rodrigo de Brito, transversal às duas. Mesmo quando tentavam recolhê-la para abrigos, ela recusava. A moradora de rua costumava conseguir dinheiro lavando os carros das redondezas. 
Quando era mais nova, Lauracy pagava uma diária em uma pensão, onde dormia uma vez por mês e tomava banho com conforto. Nesse dia, ia até a loja da Sônia, na Rodrigo de Brito, e entregava uma lista com os produtos que precisaria naquele dia. Foram anos assim, até que, em 2011, Sônia precisou fechar a loja e Laura, já mais velha, deixou de frequentar a pensão na Glória, para aonde ia andando.
"Ela sempre caminhou muito, por todos os lugares. Deve ser por isso que conheceu tanta gente e se tornou tão querida", comentou uma das vizinhas que esteve no enterro. "Ô loira!" era como Laura chamava Lúcia Doria, aposentada, que esteve no cemitério. Lúcia ficou sabendo da corrente de doação por meio de um grupo no Facebook que alerta sobre assaltos na Zona Sul da cidade.
"Ela sempre me chamava assim. Muitas vezes eu chegava perto dela tão triste e ela me dizia que tudo ia ficar bem, que as coisas iam se resolver", contou. "Você uniu todas essas pessoas, Laura, e eu estou aqui em gratidão. Muita gratidão", discursou.

Sonia e Luiz lembram-se com carinho de Laura (Foto: Amanda Prado/TV Globo)Sonia e Luiz lembram-se com carinho de Laura (Foto: Amanda Prado/TV Globo)

Fonte: G1

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