Os franceses vivem um verão estressante, com patrulhas militares nas praias e ruas, tentando se adaptar à ideia de que a ameaça de novos ataques é uma
possibilidade constante.
"É algo novo para nós. Há países, como Israel, onde a ameaça terrorista é diária. Falamos até mesmo de uma 'israelização' [da sociedade], mas mesmo Israel não consegue impedir ataques. Nós vamos encontrar o caminho para nos habituar", resume a psicóloga Evelyne Josse.
"Como resistir" foi a manchete do jornal francês "Le Point" após o ataque que, em 14 de julho, deixou 84 mortos e centenas de feridos em Nice, a principal cidade da Riviera Francesa, e quinze dias antes do assassinato de um padre em sua igreja.
Ambos os ataques foram reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI).
As autoridades mobilizaram centenas de policiais nas praias para prevenir ataques semelhantes.
Para não perturbar os banhistas, os agentes carregam suas armas em um saco impermeável amarrado na cintura.
Nas praias de Cannes (sudeste) foi proibida a entrada de pessoas com mochilas ou bolsa que poderiam esconder armas ou explosivos.
'Traumatizados'
Muitos franceses admitem que evitam as multidões, especialmente quando acompanhados de seus filhos, após o ataque de Nice, cometido com um caminhão que atropelou a multidão reunida para a queima de fogos de artifício do feriado nacional. Dos 84 mortos, dez eram crianças.
"Estamos um pouco traumatizados (...) Pensamos nisso sempre que vamos em lugares públicos: teatros, cinemas e agora igrejas", admite Françoise, uma aposentada de 69 anos, que prefere não dar seu sobrenome.
O assassinato de um padre de 85 anos em uma igreja na Normandia (nordeste) por dois extremistas de 19 anos aumentou ainda mais a tensão no país.
Como um mecanismo de proteção contra a ansiedade, algumas pessoas optaram por ser informadas com parcimônia.
"Informo-me, mas não permanentemente. Depois do ataque ao Bataclan, fiquei assistindo TV até as cinco da manhã. Agora parei, porque me oprime", diz Norbert Goutmann, um advogado de 66 anos que vive perto de Paris.
Após os atentados de novembro de 2015, que deixaram 130 mortos na casa de espetáculos Le Bataclan e em outras partes da capital, o advogado consultou um psiquiatra, para tentar "se acalmar".
Nos dias de sol, os terraços dos cafés parisienses e os passeios ao longo do Sena ficam lotados... e protegidos por grupos de soldados armados com fuzis.
E os incidentes também se multiplicaram.
Um jovem provocou pânico em uma praia de Gruissan, no sudeste, andando com uma arma falsa. Ao largo de Marselha, três indivíduos foram detidos depois de gritarem "Allah Akbar" a bordo de uma embarcação que seguia para a costa da grande cidade do Mediterrâneo.
Festas anuladas
As autoridades cancelaram como medida de precaução muitas festividades tradicionais, como fogos de artifício em 15 de junho; ou culturais, como festivais de cinema ao ar livre.
"Estamos em uma situação de guerra. Como resultado, às vezes, as celebrações devem ser proibidas", declarou esta semana o ministro da Defesa Jean-Yves Le Drian.
Contudo, as manifestações populares autorizadas têm sido realizadas com bastante sucesso, ilustrando a necessidade das pessoas de trocar idéias e compartilhar momentos positivos.
Há também aqueles que adotam o desafio, sob o lema "Eu não tenho medo", como a onda que se seguiu na Place de la République de Paris após os atentados de novembro.
O "Daesh [sigla em árabe EI] ameaça Marselha, e eu ameaço o Daesh", escreveu em seu Facebook um jovem, Mohamed Nenni, antes de adicionar um vídeo repleto de insultos visualizado 300.000 vezes em 24 horas.
"Sua ideologia medieval não nos assusta", proclamou um grupo nacionalista clandestino, que ameaçou com uma "resposta decisiva e sem hesitação" em caso de ataque jihadista.
Fonte: G1
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