Sentado no centro do salão da Comunidade Evangelizadora Magnificat, na zona rural de Três Corações (MG), padre Pedro Paulo Santos afirma que tentou ajudar o
padre Bonifácio Buzzi, acusado de abusar sexualmente de um menino de 9 anos. A comunidade acolheu o religioso após ele deixar a prisão, onde já havia cumprido pena por outros abusos. Citado no filme "Spotlight", vencedor do Oscar de melhor filme e de roteiro original em 2016, Buzzi foi preso na sexta-feira (5) em Santa Catarina pela suspeita do abuso em Minas Gerais, e foi encontrado morto no presídio de Três Corações na manhã deste domingo (7).
"Ele prometeu que não ia me decepcionar", afirma o padre Pedro Paulo. "Eu lutei [pela cura], rezei por isso, pedia pra ele celebrar comigo, oração de cura. Ele orava comigo, rezava comigo. Eu tentei com esse padre, mas não consegui.”
Padre Bonifácio Buzzi chegou na comunidade no final de novembro de 2015. Foi encaminhado por um padre de Juiz de Fora (MG), que o conheceu no presídio da cidade quando ainda era capelão, e pediu que Buzzi fosse hospedado na comunidade. Após a autorização do bispo da Diocese de Juiz de Fora, padre PP, como é conhecido Pedro Paulo, o recebeu.
“Ele tinha recebido a condicional. O bispo autorizou a estadia dele e havia permissão para que ele celebrasse missas na comunidade. Quando perguntei por que ele tinha estado preso, o padre me falou que ele teve problemas com crianças, mas eu não sabia [mais do que isso]. E se eu soubesse, eu não acolheria? Eu fico com esse drama dentro de mim”, explica padre PP.
“Ele pediu pra mim: 'Padre, eu sou um doente. Eu tive muitos problemas, eu saí de uma prisão, eu quero recuperar. E me indicaram a Magnificat'. Eu pensei muito naquela prostituta de João capítulo 8, que Jesus acolheu aquela mulher. Judas fez o que fez, Jesus não expulsou do grupo dele. Pedro traiu Jesus... Aqui é uma casa mariana, que para nós católicos é muito importante. Como um padre sério da comunidade trouxe, eu pensei: meu Deus, o papa fez um documento do ano da misericórdia, eu não posso deixar de acolher as pessoas.”
Segundo padre PP, Buzzi participava das atividades da Magnificat, instituição que trabalha para evangelizar jovens, famílias, dependentes químicos, entre outros que precisam de ajuda espiritual. Ele não rezava mais missas nos grandes eventos, e segundo padre PP, só era convidado para participar de celebrações com menos pessoas, porque ele queria voltar a exercer o ministério da Igreja.“Sentia muito conflito [nele], muita dor, muito sofrimento. Ele não era muito de sair da comunidade. Fizemos o possível”, conta padre PP.
Mas nos últimos dias que Buzzi ficou hospedado na comunidade, padre PP percebeu que ele estava saindo muito. Ao ser questionado, ele dizia que tinha ido em Três Corações, em Varginha. “Aí eu falava pra ele que tinha que ir na missa. Ele vinha um dia, depois faltava de novo. Eu não tinha ideia de onde ele estava indo. Mas eu senti que alguma coisa já não estava muito certa”, afirma.
Buzzi havia feito dois cursos de recuperação em Belo Horizonte (MG), com regressão. No final de maio, ele chegou para o padre PP e disse que estava se sentindo melhor. Desabafou e afirmou que tinha sofrido abusos sexuais na infância. “Ele disse: Padre, eu tenho vergonha. Eu não tive outra experiência na vida’. E aí ele disse que iria pra casa dele e que o trabalho dele era unir a família, que iria lutar pela família dele”, conta PP.
Somente cerca de um mês depois, padre PP descobriria o assédio sexual. “Eu fiquei até num quadro um pouco depressivo [quando descobri]. Depois de passar tanto tempo na cadeia por isso, não imaginei [que ele faria de novo]. Hoje, eu tenho certeza, eu vi que realmente é uma doença”, finaliza.
Fonte: G1
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