Quase dois anos depois das eleições presidenciais de 2014, a presidente afastada, Dilma Rousseff, e o senador Aécio Neves
(PSDB-MG) reeditaram os debates que protagonizaram quando eram candidatos. Nesta segunda-feira (29), porém, as circunstâncias são bem diferentes: a petista responde ao Senado no julgamento de seu impeachment.
No interrogatório de Dilma no Senado, Aécio Neves começou sua pergunta relembrando, justamente, os embates de 2014 e insinuando que Dilma mentiu durante as eleições. Dilma foi eleita no segundo turno contra Aécio na disputa mais acirrada desde a redemocratização.
"Eu não poderia imaginar que depois de nos despedirmos do último debate presidencial, nos encontraríamos aqui hoje no Senado Federal nessa condição", disse o tucano. "Em primeiro lugar eu quero dizer, senhora presidente, que não é desonra alguma perder eleições. Sobretudo quando se defende ideias e se cumpre a lei. Eu não diria o mesmo de quando se vence a eleições faltando com a verdade e cometendo ilegalidades", afirmou Aécio.
Ele então, lembrou momentos dos debates, e afirmações feitas pela presidente a respeito do momento da economia e a perspectiva para os anos seguintes, dizendo que as previsões não se concretizaram.
Aécio terminou com a pergunta: "Em que dimensão vossa excelência e seu governo se sentem sinceramente responsáveis por essa recessão, por 12 milhões de desempregados do Brasil, por 60 milhões de brasileiros que têm contas atrasadas e uma perda média de 5% da renda dos trabalhadores brasileiros?"
Dilma e Aécio antes do último debate do segundo turno das eleições de 2014
Na resposta, Dilma também relembrou os debates, dizendo que tem certeza que ambos se respeitaram naquela ocasião. Ela, porém, citou suspeitas levantadas pelo adversário após a eleição de 2014.
"O que eu tenho dito, é que a partir do dia seguinte da minha eleição, uma série de medidas políticas para desestabilizar o meu governo foram tomadas, infelizmente", lembrando o pedido de recontagem de votos, feito pelo PSDB após as eleições, e auditoria das urnas eletrônicas, onde não foram encontradas irregularidades, além do processo de auditoria das contas da campanha no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que ainda está em aberto.
Ela, então, afirmou que o TSE também abriu processo contra as contas de campanha de Aécio Neves relativas a 2014. "Além disso, eu quero lembrar ao senhor, que também foi aberto, contra suas contas, investigação, pela Maria Theresa (de Assis Moura), juíza do TSE", rebateu.
Em crítica indireta ao presidente interino, Michel Temer, Dilma disse respeitar a disputa em eleições diretas. "Quero deixar claro, senador, que respeito o voto direto nesse país, acho que o voto direto é uma grande conquista nossa. Sempre disse que prefiro o barulho das ruas, o barulho das disputas eleitorais, as divergências eleitorais, e, por isso, respeito todos aqueles que concorreram comigo nas eleições. Agora, não respeito, senador, a eleição indireta, que é produto de um processo de impeachment sem crime de responsabilidade. Isso não posso respeitar", disse Dilma ao tucano.
Na resposta à pergunta, Dilma disse que a crise econômica foi causada por influências externas.
Dilma voltou a citar Aécio minutos mais tarde, quando o senador Magno Malta (PR-ES) perguntou se ela mentiu durante as eleições de 2014.
"Eu, ao responder o senador Aécio Neves, respondi a sua questão. Eu não menti no processo eleitoral. O senhor não pode querer é que só nós antecipássemos o tamanho da crise que vinha pela frente", disse Dilma.
"Nós não temos bola de cristal para antecipar a realidade. Eu sei que todo mundo quer isso. É próprio do ser humano querer controlar o futuro."
Porto de Cuba
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que questionou a petista após Aécio, por sua vez, mencionou a suposta responsabilidade do governo em relação à crise econômica e questionou sobre os decretos de suplementação orçamentária assinados por Dilma, as pedaladas fiscais e sobre o financiamento brasileiro para obras no exterior. "(Gostaria de questionar) as opções (do governo) de emprestar para estes países aqui (da região) governados por tiranetes e penalizar programas sociais", disse Caiado.
Dilma voltou a dizer que os elementos que causaram a crise estavam fora do controle do governo e citou a mudança na política monetária dos Estados Unidos e a queda no preço das commodities. Sobre financiamento de obras no exterior, ela defendeu o que foi feito pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a construção do porto de Mariel, em Cuba.
"Na minha campanha, era criminoso, considerado um absurdo que o Brasil tivesse financiado o porto de Mariel. O presidente [dos EUA Barack] Obama tem no registro do seu mandato um grande feito: reestabelecer as relações comerciais com Cuba. Acabar com todo o processo de isolamento de Cuba. Sabe por quê? Porque essa é a melhor forma de ajudar a sociedade cubana. E hoje, o nosso porto de Mariel é disputado por todos aqueles que querem investir em Cuba", disse Dilma.
O BNDES concedeu financiamento de R$ 2,1 bilhões para a construção do porto de Mariel, realizada pela construtora Odebrecht.
Críticas a Eduardo Cunha
Em resposta ao senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Dilma voltou a fazer críticas ao PSDB, dizendo que os tucanos se aliaram ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para que o processo de impeachment fosse aprovado.
"Nenhum de nós aqui, senador, é ingênuo de saber quem é o responsável pela aceitação desse processo de impeachment. Então eu vou lembrar ao senhor o que foi amplamente noticiado pela mídia e que até o próprio acusador declarou à imprensa. Que a aceitação do pedido de impeachment tratava-se de uma chantagem explícita do senhor Eduardo Cunha, com o qual vocês [tucanos] se aliaram".
Na mesma resposta, Dilma ainda negou que o impeachment tenha sido motivado por manifestações de rua - afirmação feita por Cunha Lima em sua pergunta.
Sem citar nomes, ela lembrou que líderes de movimentos populares posaram para fotografias com o então presidente da Câmara. Um deles foi Kim Kataguiri, coordenador do Movimento Brasil Livre, e um dos convidados da acusação para assistir ao interrogatório de Dilma no plenário.
"É disso que se trata, não de um movimento de rua. Porque, infelizmente, essas mesmas lideranças, algumas delas, não todas, é verdade, algumas delas eram as mais enfáticas e esfuziantes em tirar retratos com o senhor Eduardo Cunha."
Fonte: Uol
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