A auxiliar de cozinha Kerliane Lima, 35, esperava um ônibus na orla da praia de Iracema, região turística de Fortaleza no início da tarde
desta terça-feira (19). Apreensiva, apertava a bolsa contra o tronco e torcia para logo chegar em casa, em segurança.
"A gente fica em pânico porque não sabe o que pode acontecer", disse ela à Folha. No dia anterior, três ônibus haviam sido incendiados na capital cearense e outros dois em Pacajus, cidade vizinha.
Foi mais um capítulo de uma série de ataques de bandidos que colocou o Ceará em alerta nos últimos seis dias.
Desde a última quarta-feira (13), foram registrados 21 ataques a policiais militares, delegacias, ônibus e à sede da guarda municipal. Seis pessoas ficaram feridas, dentre elas três policiais militares. Um deles morreu.
Entre sexta-feira (15) e domingo (17), foram registrados 39 assassinatos no Estado, numa média de 13 por dia. Em condições normais, esta média costuma ser de duas pessoas assassinadas por dia.
A Secretaria da Segurança Pública do Ceará afirma que os ataques foram ordenados de dentro de penitenciárias da Grande Fortaleza após uma apreensão de 504 telefones celulares em poder dos presos.
Em nota, diz que os ataques são uma represália "ao trabalho que vem sendo feito nas unidades prisionais, como vistorias, apreensões de celulares e transferências de presos mais perigosos para presídios federais".
De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil do Ceará, delegado Andrade Júnior, 30 pessoas foram identificadas como mandantes ou autoras dos ataques. Oito suspeitos forma presos. "A polícia não está inerte", disse.
No último sábado (16), o governador Camilo Santana (PT) anunciou a criação de uma delegacia de combate ao crime organizado, para investigar ações ordenadas a partir de presídios.
CLIMA DE TENSÃO
Os ataques geraram clima de insegurança para quem vive na capital cearense ou está visitando a cidade.
Na praia de Iracema, comerciantes reclamam da falta de policiamento e afirmam que roubos e furtos são recorrentes na região. Com os ataques a ônibus e delegacias, o clima de insegurança aumentou. "As pessoas estão evitando ficar na rua", diz Francisco de Assis, 27, que vende água e refrigerante na orla da capital.
Guias orientam aos turistas a permanecerem nas três primeiras quadras da orla, a partir da praia, região onde ficam os principais hotéis da cidade. "Não recomendamos que os turistas andem além disso. É perigoso", diz Lucas Souza, 21, que organiza passeios para praias em cidades vizinhas.
Viajando a passeio, a analista financeira Bárbara Alencar, 27, desembarcou em Fortaleza na última quarta-feira, dia em que começaram os ataques. E diz que, desde então, a sensação é de insegurança: "Com esses ataques, fico receosa de sair à noite", diz a turista que veio de São Paulo.
Entre policiais e guardas municipais, o clima é de aflição. A Polícia Militar orientou que as viaturas circulem em comboio com o objetivo de inibir novos ataques. O policiamento a pé nas ruas passou a ser feito não mais em duplas, mas em quartetos.
"Nos sentimos de mãos-atadas", afirma o soldado da Polícia Militar Rafael Lima, presidente em exercício da Associação dos Profissionais de Segurança (APS). Ele diz esperar que o governo do Estado aja com rapidez para "intimidar os criminosos e cessar esses ataques".
OUTROS ATAQUES
Esta é a terceira onda de ataques a prédios públicos no Ceará desde o início deste ano. Em março, bandidos atacaram com tiros delegacias, ônibus e a sede da Secretaria da Justiça e Cidadania, responsável pela administração do sistema carcerário.
Em abril, cerca de 13 kg de explosivos foram encontrados próximos ao prédio da Assembleia Legislativa. Há suspeita de que a iniciativa tenha partido de dentro de presídios estaduais em retaliação à aprovação de projeto de lei que determinava a instalação de bloqueadores de celular nos presídios cearenses.
Fonte: Folha de São Paulo
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