quinta-feira, junho 23, 2016

Sem jogar, clube paulista investigado pela Fifa lucra R$ 2,7 mi com atletas

http://cidadenewsitau.blogspot.com.br/Um pequeno clube do interior de São Paulo conseguiu uma façanha em 2015. O SEV-Hortolândia obteve um superavit de R$ 2,7
milhões, registrado em balanço, na contramão dos deficits milionários apresentados pelos grandes.

O que mais chama a atenção é que o clube está de portas fechadas desde o fim de 2014, sem disputar um só campeonato —estava na segunda divisão do Paulista.

Foi a venda de atletas –R$ 10 milhões no total– que proporcionou o saldo positivo. Cerca de R$ 8 milhões foram repassados a empresários, em despesas que aparecem como "serviços de terceiros" e "gastos com venda de jogadores".

O SEV, na verdade, serve a empresários como um intermediário, fazendo pontes: jogadores que nunca vestirão a camisa do time são registrados pelo clube, que os repassa para outras equipes, vendidos ou emprestados.

Os agentes fazem isso com o objetivo de driblar a Fifa, que tenta há anos achar formas para exclui-los do futebol.

No entendimento da entidade, os empresários dominam as negociações no mercado, tirando um dinheiro que deveria ficar com clubes.

Para tentar vetar sua participação, a Fifa mudou mais uma vez recentemente seu regulamento, proibindo que qualquer terceiro tenha participação em direitos econômicos de atletas –nem pessoa jurídica, nem física, mesmo que seja o próprio jogador.

Com a regra, representante de atleta não pode ter compensação financeira em transferências. Quando esse jogador passa a pertencer a um clube de fachada, o agente consegue receber a sua parte.

O SEV não é um clube-empresa, que pode distribuir lucros. É, em tese, associação sem fins lucrativos, que inclusive goza de isenção fiscal.

Para repassar o dinheiro aos agentes, o clube de Hortolândia coloca no balanço que pagou terceiros ou teve gastos na venda do atleta.

Do ponto de vista da legislação brasileira, não há nada errado. Mas a prática pode ser considerada irregular pela Fifa, que já puniu equipes na Argentina, Uruguai e Bélgica por esse motivo. O seu regulamento, porém, é ainda confuso, gerando interpretações diferentes. Em alguns casos, a punição acabou extinta pela Corte Arbitral do Esporte.

Neste ano, a CBF proibiu de forma mais efetiva movimentações desse tipo. Se for comprovado que o clube serviu como ponte, ele poderá ser punido pela entidade com multa, perda de pontos e até exclusão do campeonato.

O dinheiro que o SEV recebeu em 2015 e deve receber em 2016 é referente a contratos assinados antes das novas regras da Fifa e da CBF, já que os empresários sabiam que as entidades preparavam mudanças nesse sentido.

"Não é ilegal do ponto de vista do mercado. A constituição protege o lucro. Não há nada errado em ganhar dinheiro com o futebol, mas é preciso seguir regras. Se usa um clube intermediário para monetizar uma operação, o que para a Fifa é um mau uso do seu sistema de registro", afirmou Marcos Motta, especialista em direito desportivo.

Os investidores por trás do SEV são Fernando Garcia, ex-conselheiro do Corinthians, e Marcus Sanchez, vice-presidente da EMS, farmacêutica que patrocinou a equipe.

O caso mais recente envolvendo o clube é o do zagueiro Vilson, do Corinthians, que foi emprestado pelo SEV, mas jamais vestiu o uniforme do clube em que foi registrado.

A transferência do zagueiro Cléber, em tese do Corinthians para o Hamburgo, em 2014, chamou a atenção da Fifa.

OUTRO LADO

A explicação do SEV para não estar jogando nenhuma competição desde o final de 2014 é que o estádio que recebia os jogos não foi liberado pela Federação Paulista de Futebol.

"Nós estaríamos jogando, mas não conseguimos o laudo", afirmou Victor Muniz, presidente do clube.

Ele foi procurado para falar pessoalmente e gravar entrevista para a TV Folha, mas só atendeu a reportagem pelo telefone. Muniz negou que o time que preside exista apenas para fazer transferências-pontes para outros clubes.

"De forma alguma", disse, sem querer comentar sobre as transferências e o superavit.

O SEV não pode mais registrar jogador, por não estar disputando nenhuma competição na temporada.

Marcus Sanchez, um dos principais investidores do clube, aceitou falar sobre o tema e criticou as proibições.

"É engraçado como a Fifa se posiciona. Somos nós investidores que colocamos dinheiro nos clubes e ela não quer mais que façamos parte. Se ela não quer, vamos embora. Mas, de todo investimento que fiz, na grande maioria, ainda não vi meu dinheiro de volta. Os clubes são todos devedores. É esse o futebol que a Fifa permite."

"Todos os contratos que fizemos foram antes de a nova regra da Fifa vigorar. Não há nada de ilegal", completou.

A assessoria de imprensa do SEV argumentou que a prática é também seguida por outros times no país e reafirmou que não descumpre regras.

O empresário Fernando Garcia, ex-conselheiro do Corinthians, não quis falar.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

O que diz a Fifa?

Nenhum clube ou jogador pode fazer acordo com um terceiro para que este participe de compensação financeira por futura transferência do atleta

Quando entrou em vigor?

Em 1º de maio de 2015

Como os investidores se "adaptam" à norma?

Passaram a utilizar com mais frequência os "clubes-ponte" para fazer as transferências. Funciona assim: o jogador é registrado por um clube e, logo depois, é transferido para o verdadeiro comprador

Como a Fifa reagiu?

Passou a punir clubes por mau uso do TMS (sistema de transferências da Fifa), aplicando multas ou suspensão do direito de transferências. Como não há regulamentação específica sobre os "clubes-ponte", então as punições aplicadas pela Fifa foram derrubadas na Corte Arbitral do Esporte

A CBF fez algo?

Criou neste ano regra vetando o uso de tais clubes em transferências. A punição pode incluir perda de pontos ou exclusão de torneio

Fonte: folha de São Paulo

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