O esquema criminoso investigado na Operação Turbulência, deflagrada nesta terça-feira (21), pode ter financiado a campanha de reeleição do então governador de
Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), em 2010, segundo a Polícia Federal. Também teria envolvimento com a compra do avião Cessna Citation que caiu em Santos (SP), em agosto de 2014, causando a morte do presidenciável.
"O esquema foi utilizado para pagar propina na campanha do governador”, afirmou a delegada federal Andrea Pinho, durante entrevista coletiva no Recife.
A operação teve início com investigações sobre a compra do avião, logo após o acidente que matou Campos e outras seis pessoas, mas chegou a um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado até R$ 600 milhões, segundo a PF. Esse montante seria alimentado por recursos de propinas e usado por firmas de fachada e sócios “laranjas” para fazer a lavagem de dinheiro.
A Polícia Federal investiga, agora, a relação entre essas empresas citadas na Turbulência – que não tiveram os nomes divulgados – e grupos já envolvidos na Operação Lava Jato e em investigações que estão no Supremo Tribunal Federal (STF).
A operação prendeu nesta terça-feira quatro empresários suspeitos de integrar a organização criminosa e se beneficiar dela – João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite, Arthur Roberto Lapa Rosal e Apolo Santana Vieira. Todos foram levados para a sede da PF, no Recife.
Para justificar a prisão, a PF faz a relação entre as empresas deles e o avião usado pela comitiva de Eduardo Campos. Mello Filho afirma ser o dono do avião que caiu e causou a morte do ex-governador de Pernambuco durante a campanha presidencial de 2014. A PF verificou o envolvimento de empresas de fachada na compra da aeronave.
“Essas empresas transitavam entre si e realizavam movimentações milionárias, na conta de outras empresas igualmente de fachada e na conta de outros 'laranjas'. Elas integravam uma organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro, que vem desde 2010 e que decaiu após a queda do avião", explicou a delegada.
A PF apura também o repasse de R$ 18,8 milhões da empreiteira OAS, que é investigada na Lava Jato, para a Câmara & Vasconcelos, uma empresa de fachada envolvida na compra do avião que transportava Campos. A empresa alegou que os recursos foram pagamento por serviços de terraplanagem em obras do Rio São Francisco.
Contas da campanha
O senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), ex-ministro da Integração Nacional do governo Dilma Rousseff (PT), responsável pela obra no sertão nordestino, teria atuado na coleta de fundos para a campanha eleitoral de Campos em 2010, segundo a polícia.
"O indicativo que a gente tem é que Fernando Bezerra Coelho teria sido a pessoa encarregada de colher, digamos assim, os valores do percentual devido para a campanha do ex-governador. Teria-se feito um esquema criminoso", disse a delegada Andrea Pinho. Segundo ela, ainda não é possível afirmar que Bezerra integrava o esquema, porque ele é investigado em outro inquérito, que está no STF.
"Tudo começou com a história do avião, mas agora queremos desarticular toda essa organização. Quem são os envolvidos, o que fizeram e quem foram os beneficiados", completou o delegado Daniel Silvestre.
Empresa e família não se pronunciam
A OAS informou que não vai se pronunciar sobre as investigações. A família do ex-governador Eduardo Campos também afirmou que não iria se pronunciar por enquanto.
O G1 entrou em contato com o Partido Socialista Brasileiro em Pernambuco (PSB-PE) e com o senador Fernando Bezerra Coelho, mas não havia obtido respostas até as 15h20. Ao Jornal Hoje, o PSB informou que apoia as investigações da Polícia Federal. O G1 segue tentando contato com os advogados dos presos na operação.
RESUMO DA OPERAÇÃO
Objetivo: desarticular uma organização criminosa suspeita de lavagem de dinheiro.
Mandados judiciais: 35 mandados de busca e apreensão, 16 conduções coercitivas, quatro prisões preventivas.
Presos: João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite, Arthur Roberto Lapa Rosal e Apolo Santana Vieira.
Suspeito foragido: Paulo César de Barros Morato.
Apreensões: dois helicópteros e um avião avaliados em R$ 9 milhões, além de U$ 10 mil com Eduardo Freire.
A previsão é que os presos prestem depoimento na sede da PF, no Cais do Apolo, região central do Recife, e depois sejam encaminhados para o Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima. Os envolvidos responderão pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
Compra do avião
Eduardo Ferreira Bezerra Leite, João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho e Apolo Santana Vieira foram citados em documentos sobre a compra do jato Cessna, que foi usado pela comitiva de Eduardo Campos em 2014. Os extratos entregues à Polícia Federal mostraram 16 transferências, de seis empresas ou pessoas diferentes, num total de R$ 1.710.297,03, para a compra da aeronave.
Nesses documentos, aparecem os números do CPF das pessoas físicas ou do CNPJ das empresas que transferiram dinheiro para a empresa AF Andrade, que tem o registro da aeronave na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Com esses números foi possível chegar aos donos das contas.
Esses documentos de 2014 mostraram que a Leite Imobiliária, de Eduardo Freire Bezerra Leite, fez transferência de R$ 727 mil para a AF Andrade em maio de 2014, proprietária anterior do jato usado por Campos durante a campanha. João Carlos Pessoa de Mello Filho também foi citado, com uma transferência de R$ 195 mil.
Em 2014, o PSB afirmou que o uso do jato na campanha eleitoral havia sido autorizado por Mello Filho e Apolo Santana Vieira.
Na mesma época, Mello Filho declarou que, para honrar compromissos com a empresa AF Andrade, fez vários empréstimos, com o objetivo de pagar parcelas atrasadas do financiamento do avão usado por Campos. A Leite Imobiliária confirmou, também na mesma ocasião, que transferiu quase R$ 730 mil para a AF Andrade como um empréstimo a Mello Filho.
O G1 procurou a AF Andrade nesta terça, mas a empresa informou que não iria se pronunciar sobre o assunto.
O acidente
A queda da aeronave ocorreu por volta das 10h do dia 13 de agosto de 2014, em um bairro residencial de Santos. O então candidato tinha uma agenda de campanha na cidade. O avião decolou do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao aeroporto de Guarujá.
Além de Campos, outras seis pessoas estavam na aeronave: Alexandre Severo Silva, fotógrafo; Carlos Augusto Leal Filho (Percol), assessor; Geraldo Magela Barbosa da Cunha, piloto; Marcos Martins, piloto; Pedro Valadares Neto e Marcelo de Oliveira Lyra.
O relatório final do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da Força Aérea Brasileira (FAB) sobre o acidente aéreo, que foi divulgado em janeiro, apontou quatro fatores que contribuíram para a queda do avião. São eles: a atitude dos pilotos, as condições meteorológicas adversas, a desorientação espacial e a indisciplina de voo. Também há fatores que podem ter contribuído, mas que não ficaram comprovados, como uma eventual fadiga da tripulação.
A defesa dos familiares do piloto e do copiloto do avião que caiu afirmou ao G1, na época, que seus clientes ficaram "inconformados". O advogado Josmeyr Oliveira, responsável pela defesa dos familiares dos pilotos, reclamou na ocasião que, na opinião dele, o documento "deposita toda a culpa pela tragédia" sobre a tripulação e não avança sobre possíveis falhas da própria aeronave.
Fonte: G1
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