A Procuradoria-Geral da República anunciou nesta quarta-feira (22) a extradição do líder de uma seita acusado de cometer 59 crimes
sexuais contra duas adolescentes entre outubro de 2001 e dezembro de 2009 em Minnesota, nos Estados Unidos. Elas tinham 12 e 13 anos na época do primeiro abuso. De acordo com o órgão, Victor Andern Barnard foi preso no Rio Grande do Norte em fevereiro do ano passado. Ele foi enviado aos EUA na última sexta (17), em operação da Polícia Federal e do United States Marshals.
A extradição foi deferida após pronunciamento do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Até a transferência, Barnard estava preso na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS).
A medida só ocorreu depois de os EUA se comprometerem a não aplicar pena superior a 30 anos de prisão – máximo que se cumpre pela legislação brasileira. Além disso, o homem terá direito à diminuição da pena pelo tempo que ficou preso no Brasil.
O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça, havia informado ao Ministério das Relações Exteriores que Barnard seria posto em liberdade se não fosse extraditado até o dia 17.
“O esforço da PGR durante a extradição no STF e das polícias do Brasil e dos Estados Unidos para a captura do foragido não foi em vão. As vítimas em Minnesota poderão ver o suposto criminoso sentado no banco dos réus para ser julgado", disse o secretário de Cooperação Internacional do Ministério Público Federal, Vladimir Aras.
Na época da prisão do líder da seita no RN, a Polícia Federal disse que Barnard era procurado pela Interpol e também figurava na lista dos 15 mais procurados pela agência U.S. Marshal, organização policial americana responsável pela busca e captura de foragidos internacionais. Era oferecida recompensa de US$ 25 mil para quem desse informações que o levassem à prisão.
Abusos
Os crimes sexuais foram cometidos entre outubro de 2001 e dezembro de 2009, após as famílias das vítimas terem ingressado na congregação River Road, liderada por Barnard, no condado de Pine. Ele promovia o Acampamento do Pastor, grupo que reunia meninas nas férias de julho. De acordo com a denúncia, além dos estupros, Barnard aproveitava da posição de autoridade da seita e constantemente ameaçava as vítimas e cometia agressões físicas.
Em julho de 2000, Barnard criou um grupo de jovens meninas chamado de "Maidens" ou "Alamote", segundo denúncia. O grupo, que tinha 50 membros, pregava que as meninas deveriam permanecer virgens e nunca se casar.
Na época, ainda de acordo com a denúncia, Barnard pregava que ele próprio representava “Jesus na carne”, e que para ele era normal fazer sexo com suas seguidoras, uma vez que “Cristo tinha tido relações com Maria Madalena e outras mulheres que o seguiam, assim como o rei Salomão havia dormido com muitas concubinas”.
As primeiras denúncias foram feitas em 2012, e em abril de 2014 foi formalizada acusação. O extraditado alegava que os crimes haviam prescrito, mas o procurador-geral demonstrou, a partir de informações obtidas com autoridades do Tribunal de Minnesota, que não havia prescrição tanto nos Estados Unidos como no Brasil.
Além disso, Janot demonstrou haver plena regularidade do processo conduzido pelo Brasil e pelos Estados Unidos e negou a tese da defesa de Barnard, de que as acusações teriam caráter político, entendimento seguido pelo Supremo Tribunal Federal.
Fonte: G1
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