O ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), disse nesta quinta-feira (19) em palestra proferida no VIII Fórum Nacional de
Procuradores do Ministério Público de Contas, no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, que em economia “não adianta discutir o que é vigoroso ou não, pois há muita expectativa sobre os indicadores”.
Mas ele afirmou que a situação atual de crise da economia é pior do que na época da superinflação, já que aquele cenário comportava várias ações e no de hoje isso não cabe. “Hoje a situação é mais parecida com camisa de força do que torcida nas gerais do Pacaembu: está bem apertada”, comparou.
Ele comentou que a boa política fiscal tem que ser feita quando a economia vai bem. Disse, ainda, que antes de ser ministro pegava no pé sobre o efeito cambial na dívida pública. “Agora só falo de política externa”, brincou.
O tucano também afirmou que de 90% do déficit nominal são juros, o que evidencia como a política monetária tem implicação fiscal. “Essa é a principal assunto no fiscal: questão da dívida pública”, disse.
Serra fez críticas aos governos petistas. “O problema é pisar no acelerador quando a economia vai vem, que foi o caso do governo Lula. A herança que Dilma recebeu do governo Lula foi muito ruim com desorganização de investimentos, câmbio desvalorizado, entre outros. Claro que depois ela inseriu os seus problemas também”, afirmou.
Serra é relator da proposta 84/2007 que define um limite global para a dívida da União. Ele a defendeu, dizendo que a proposta chama a atenção para os fatores de crescimento da dívida e que colocar um mecanismo de estabelecimento de teto para a dívida reforça os diagnósticos imediatos. “Minha proposta ia ser votada mas aí, com impeachment, tudo parou. Mas deve ser retomada agora e espero que seja aprovada sem emendas ‘criativas'”, comentou.
O ministro fez críticas a não penalização de ex-governadores ou ex-prefeitos que não cumpriram a lei de responsabilidade fiscal. “E os Tribunais de Contas dos Estados deveriam se voltar para a questão que é crítica: o que um governo deixa para o outro?”, perguntou.
Serra disse ainda que a dívida atual dos Estados e municípios é dramática e que o governo poderia ter implantado a mudança de indexador da dívida e não o fez. “Mas espero que situação dos Estados e municípios possa ser equacionada da melhor maneira possível”, declarou.
Interesses partidários
O ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), afirmou que a pasta é apartidária, porque “relações exteriores têm a ver com Nação, não sequer com governo, muito menos com partido”. “Nos últimos anos, as relações exteriores foram contaminadas por interesses partidários. O Itamaraty deve representar a Nação, o Brasil no mundo. É órgão de Estado”, afirmou a jornalistas.
Sobre acusações de que ele estaria fazendo o mesmo, Serra repudiou. “Que eles partidarizaram não tenho a menor dúvida. Agora dizer que eu estou fazendo o mesmo é ridículo, até porque eu estou há uma semana, não há indício. E não vamos fazer. Não é estilo, não é meu estilo e nem do governo. É outro departamento. A gente sabe quem está acostumado a aparelhar”, retrucou.
O ministro informou que pediu um estudo para o próprio Itamaraty sobre as embaixadas que o Brasil tem no mundo. “Parece que foram criadas 40, sem falar de consulados, e em alguns lugares que tem 20, 30 mil habitantes”, informou, citando o caso do Caribe. “Vamos olhar isto. Tudo isso tem um custo e precisa ser confrontado com o que se tem. Agora em nenhum lugar, o Brasil ficará diplomaticamente desassistido e as operações podem ser simplificadas. Mas eu dependo do estudo para fazer uma coisa responsável”, disse.
Sobre as notas de repúdio ao Venezuela, Bolívia, Equador, El Salvador e Unasul, Serra discordou da tese de que houve carga ideológica. “Estão dizendo coisas falsas sobre o Brasil e temos obrigação de sublinhar isso apenas. Quando alguém diz alguma falsidade, você tem a obrigação de dizer que é falsidade. E são contestações aparelhadas, vamos ser francos”, comentou.
Ele ainda avaliou que o Brasil não ficou com uma imagem desgastada com o processo de impedimento da presidente afastada Dilma Rousseff. “Essas contestações são localizadas e passageiras. Está tão óbvio que o que espalharam lá fora não tem pé nem cabeça que pouco a pouco isso vai passar. É uma contestação aparelhada”, falou.
Sobre a manifestação dos Estados Unidos na OEA, Serra informou que não houve pedido por parte do Brasil para que o país opinasse. “Mas a posição dos Estados Unidos sobre o Brasil é correta”, declarou.
O ministro participou do VIII Fórum Nacional de Procuradores do Ministério Público de Contas, no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.
Fonte: Estadão
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