Depois de passar 40 dias com a mão esquerda inserida dentro do abdômen, o auxiliar de produção Carlos Mariotti, de 42 anos, passou nesta segunda-feira (9) por uma
nova cirurgia em Orleans, no Sul catarinense, desta vez para retirar a mão de dentro do seu corpo. Ele sofreu um acidente de trabalho no dia 29 de março, e o procedimento foi feito para evitar uma amputação.
No dia 29 de abril, Mariotti teve a mão dilacerada por uma máquina de fazer bobinas. Ao chegar ao hospital, ele temia a necessidade de amputação. Para evitar a perda, Mariotti teve a mão inserida na barriga, numa técnica clássica de cirurgia. O objetivo era que a pele se regenerasse e pudesse receber enxerto, já que ossos e tensões foram preservados no acidente.
Na manhã desta segunda, ele passou pelo procedimento da retirada da mão do abdômen. "Não está pronta ainda, mas vamos dizer que está mais de meio caminho andado, evoluindo dentro do esperado", disse o médico Bóris Bento Brandão Brandão, que operou o paciente.
Conforme Brandão, ainda serão necessários outros procedimentos. "Agora, a mão está como uma luva de boxe, o dedão separado e o restante dos dedos juntos. Ainda vamos precisar fazer alguns enxertos de pele e depois a separação dos dedos", informou o médico.
Segundo o médico, Mariotti já consegue fazer alguns movimentos, mas a mão ficara enfaixada por tempo indeterminado. Os novos procedimentos também irão depender da recuperação dele, que na noite desta segunda seguia internado na Fundação Hospitalar Santa Otília.
Mão no 'bolso'
Ao chegar ao hospital na noite de terça-feira (29), depois de sofrer um acidente em uma , o auxiliar de produção Carlos Mariotti, de 42 anos, ouvia de pessoas próximas que perderia a mão esquerda. Ao acordar da cirurgia, porém, soube que não só ainda tinha a mão como ela estava inserida em seu abdômen. “O médico disse: tua mão vai ficar dentro do 'bolso'”, contou Carlos, que é destro, logo depois da primeira cirurgia.
Mariotti teve a mão puxada por uma máquina de fabricar bobinas. “Fui passar o filme, quando vi a máquina estava puxando minha mão. Gritei duas vezes, ninguém ouviu. Na terceira, eu puxei”, relembru Carlos, .
Ele estava sozinho naquele momento, mas logo foi socorrido por colegas. “Uma menina que trabalha lá na frente tinha uma atadura na bolsa, eles amarraram com força, foram os primeiros socorros.” Atendido pelos bombeiros, Carlos foi levado para o hospital.
Cirurgia
“Ele sofreu uma lesão que é chamada de desenluvamento”, explicou o médico ortopedista e traumatologista, Bóris Bento Brandão, que fez a cirurgia para colocar a mão de Mariotti no abdômen. O acidente removeu a pele, mas ossos e tensões foram preservados.
“É uma cirurgia clássica, mas pouca gente faz porque é uma situação especial, é um procedimento de salvação para evitar necrose, quando não há mais nada a fazer”, diz Brandão.
Foi a primeira vez que o procedimento de salvação de mão foi feito na Fundação Hospitalar Santa Otília, único hospital de Orleans. A cirurgia, realizada através do Sistema Único de Saúde (Sus), durou duas horas e o paciente recebeu anestesia no braço e no abdômen.
42 dias com a mão no 'bolso'
“No caso da mão, é uma lesão muito grande e delicada. O único lugar que caberia a mão inteira é no abdômen”, conta o médico. Mariotti precisou ficar por 40 dias com a mão “dentro do bolso” para garantir o desenvolvimento de um novo tecido capaz de receber enxerto de pele.
Dois dias depois de ter a mão inserida no abdômen, o paciente já consegui fazer alguns movimentos, que podiam ser percebidos por baixo do abdômen. “Isso salva a viabilidade do membro. É como se fosse um bolso. Ele é estimulado a fazer movimentos suaves, para evitar a rigidez da mão”, explicou o médico na época.
“Tenho que cuidar ao máximo para não tirar a mão do ‘bolso’. Se eu quiser puxar, eu puxo, mas ele [médico] colocou na minha cabeça que não posso, e estou cuidando”, disse Carlos.
“Ele vai ter uma mão funcional, vai poder dirigir, comer, mas é uma mão menos sensível”, detalhou o médico. “Perdi dois dedos, sei que não vai ficar a mesma coisa, mas vou poder vestir uma camiseta, segurar um talher. Se fosse no passado, teriam amputado. Saber que eu ia perdendo a mão e não vou perder mais...Até agora me emociono”, diz Carlos.
Fonte: G1
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