Dunga falou pela primeira vez sobre a pressão no comando da seleção brasileira e comentou as notícias envolvendo sondagens e
possíveis negociações da CBF com Tite e Jorge Sampaoli. Sobre o técnico do Corinthians, o treinador da seleção minimizou o fato e disse que a especulação por outros nomes é algo já histórico no cargo. A reação ao argentino, no entanto, foi diferente.
Em conversa exclusiva com o UOL nesta quarta-feira, na sede da entidade na Barra da Tijuca, Dunga mostrou incômodo com o fato de agentes de Sampaoli o oferecerem à cúpula da confederação brasileira e questionou a ética das pessoas envolvidas no caso. A íntegra da entrevista com o treinador será publicada nesta quinta-feira (14).
"O Brasil é o Brasil (não perdeu o respeito por causa do 7 a 1). Se o próprio Sampaoli fala da seleção brasileira, é porque ele quer treinar o Brasil. Ele podia ter falado da seleção do país dele. Isso já diz o respeito. Algumas coisas temos que ler o que ninguém vê. Ver o que está atrás daquelas linhas e você começa a ser diferente dos outros. Isso demonstra o respeito à seleção", disse o comandante respondendo a entrevista do argentino ao jornal chileno La Tercera dizendo que a seleção já não tem mais o mesmo respeito pelo mundo.
O técnico da seleção brasileira diz que treinadores ficarem se oferecendo para comandar times e seleções faz parte da rotina do esporte, mas ressalta que, antigamente, isso não era considerado ético.
"Todo mundo fala em ética, mas até agora não consegui entender o que é ética. Eu cresci dentro do futebol reverenciando os valores, tanto da família como os demais. Mas agora chegou um tempo que há um choque, um confronto. Por exemplo, se tem alguém no cargo e fico me oferecendo, ao meu entender isso antigamente não era ético. Mas hoje acho que as coisas mudaram e preciso evoluir com isso", comentou Dunga.
Sobre a preferência de boa parte de torcida e crítica por Tite, ele demonstrou não se preocupar muito.
"Na seleção, sempre o que está fora é melhor. Quando chega aqui, começa a ter problema. Desde lá atrás, é sempre essa discussão. Tinha um treinador aqui, mas queriam o Ênio Andrade, o Rubens Minelli, queriam o Telê... Aí quando o Telê estava aqui, tinha outro que era considerado melhor. Essa é uma polêmica que vai por muitos e muitos anos. Eu não sou o melhor, tem outros melhores. Se vou dirigir um carro de Fórmula-1, eu vou ter um rendimento, se vou pegar um carro da Fórmula-4, terei outro. Depende do clube, da situação, de quem tá trabalhando contigo. Depende de uma série de fatores. Quem ganha é sempre o melhor, mas isso não quer dizer que os outros não tenham feito bons trabalhos dentro da possibilidade deles", avaliou o treinador, durante entrevista de pouco mais de uma hora à reportagem.
"Era com Zagallo, com Parreira, com Felipão. Talvez por eu ser um pouco mais novo e não ter tantos títulos quanto eles, é um pouco mais pesado. Mas tem que ser tranquilo. Tu não tem que ser apegado ao cargo. Você tem que fazer o trabalho que precisa ser feito, tomar as decisões, dizer não na hora certa, trabalhar pela seleção. Isso algumas vezes incomoda, atrapalha algumas pessoas. O que posso dizer é que as pessoas tem que entender que estamos trabalhando muito. Temos uma orientação, um planejamento. Temos um grupo forte aqui e trabalhamos muito. Lógico que você lê uma notícia no jornal e recebe com surpresa. Trabalhamos de 8 da manhã Às 8 da noite e, quando saímos, às 21h, sai uma notícia. Aí tu volta outro dia aqui e não mudou nada. Você começa a entender o mecanismo. E isso faz parte do futebol", minimizou o treinador.
Na entrevista completa, Dunga ainda falou sobre a indisciplina de Neymar, comentou a polêmica de Marcelo e revelou alguns dos motivos que o faz deixar Thiago Silva fora da seleção brasileira.
Fonte: Uol
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