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terça-feira, abril 19, 2016

Alegando depressão, Jardel pede afastamento da Assembleia do RS

Gravação mostra assessor tentando dar dinheiro diretamente para Jardel (Foto: Reprodução)O deputado estadual Mário Jardel apresentou nesta segunda-feira (18) à Mesa da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul um pedido de afastamento por 30
dias, até o dia 18 de maio. O documento, assinado por um médico psiquiatra, alega que o parlamentar não tem condições de trabalhar devido à depressão. Relator da subcomissão que analisa as denúncias de corrupção contra o ex-jogador de futebol, o deputado estadual Sérgio Turra (PP), disse ter proposto que um profissional indicato pela Casa faça seu diagnóstico.
"O que a subcomissão propõe à Mesa é que a Assembleia possa designar um médico perito para que ateste que isso realmente se faz necessário e não seja uma medida para procrastinar o processo. Não imaginamos que seja o caso, mas temos de tomar esta precaução. Mas é a Mesa a quem compete deliberar sobre isso", disse o parlamentar ao G1.
Nesta segunda-feira (18), dois ex-assessores de Jardel que levaram a denúncia ao Ministério Público (MP) prestaram depoimento à subcomissão, e confirmaram as acusações contra o deputado. Outras três testemunhas devem depor nesta terça (19). "São pessoas ligadas ao gabinete do deputado", explicou Turra.
O parlamentar espera concluir o relatório até o dia 10 de junho mas teme que, se Jardel for afastado, o prazo aumente. "Este fato novo pode implicar em eventual alargamento deste prazo justamente porque pretendemos encerrar a fase da instrução com o depoimento do deputado. Estando ele afastado, imagino que seja automaticamente prorrogado este prazo", disse.
Conforme a denúncia do MP, entre fevereiro e novembro de 2015, Jardel e o advogado e assessor parlamentar Christian Vontobel Miller, o chefe de gabinete Roger Antônio Foresta, o coordenador-geral de bancada do PSD, Ricardo Fialho Tafas e o chefe de gabinete do líder da bancada do PSD, Francisco Demetrio Tafras, todos denunciados, integraram um esquema com objetivo de obter vantagens financeiras, mediante a prática de crimes contra a administração pública, como peculato e concussão, além do uso de documentos falsos e da lavagem de dinheiro.

Ministério Público denunciou no deputado estadual Mário Jardel e outros 10 (Foto: Ministério Público/Divulgação)Documentos entregues no TJ pelo procurador de
Justiça (Foto: Ministério Público/Divulgação)
De acordo com as investigações, a partir da posse Jardel como deputado estadual e da nomeação dos quatro assessores, eles planejaram e executaram a prática de crimes de peculato. Para o MP, verbas públicas referentes a diárias fictícias foram desviadas, além de indenizações veiculares fraudulentas e à manutenção de “funcionários fantasmas”.
Também foram cometidos delitos de concussão, caracterizados pela exigência de repasse de parte de salários e de verbas indenizatórias de servidores, além de uso de documentos falsos e de lavagem de dinheiro. O valor desviado, entre abril e novembro de 2015, é estimado em R$ 212.203,75.
Como funcionava o esquema
O MP afirma na denúncia que Jardel, que comandava o esquema, era o destinatário final da maior parte dos valores arrecadados. Christian Vontobel Miller, além de ser o mentor das irregularidades, participou ativamente desde a montagem do quadro de servidores até as deliberações que resultaram na prática dos delitos. Segundo o MP, como advogado pessoal e assessor de Jardel, ele era responsável por evitar que os crimes chegassem ao conhecimento das autoridades policiais, ministeriais ou da imprensa.
O chefe de gabinete Roger Antônio Foresta era o interlocutor do parlamentar nas exigências de parte dos salários e das diárias recebidas pela maioria dos assessores. Ele era o responsável, ainda, por arrecadar, mensalmente, parte dos salários dos demais colegas assessores.
Em algumas ocasiões, recebeu valores em sua própria conta corrente, para, posteriormente, repassar de forma direta todo o dinheiro arrecadado a Jardel. Foresta era o primeiro responsável pela execução das ordens de Jardel, encaminhando os trâmites necessários à contratação dos “assessores-fantasmas”, o pagamento de diárias indevidas e de indenizações veiculares fraudulentas, bem como a cobrança, saque, guarda, transferência, ocultação e dissimulação da origem ilícita dos valores arrecadados junto aos servidores.
Já o coordenador-geral de bancada do PSD, Ricardo Fialho Tafas, era corresponsável pela execução das ordens do parlamentar, gerando diárias inexistentes e atuando, da mesma forma, na cobrança dos valores dos demais servidores. Cabia a ele, também, a geração de indenização veicular irregular.
Por fim, o chefe de gabinete de líder da bancada do PSD, Francisco Demetrio Tafras, era responsável por exigir dos demais assessores, sob ameaça de perda do cargo em comissão, o repasse mensal de parte do salário.
Um dos assessores foi beneficiado pela delação premiada, já que prestou informações ao Ministério Público.
A denúncia cita diversas irregularidades verificadas: organização criminosa, lavagem de dinheiro, funcionários fantasmas, diárias de viagens e indenizações por utilização de veículo irregulares, viagens partitulares e tráfico de drogas.

Delator diz que Jardel exigia parte dos salários dos servidores do gabinete (Foto: Reprodução)Delator diz que Jardel exigia parte dos salários
dos servidores do gabinete (Foto: Reprodução)
Investigação sobre fraudes
Em novembro, o Ministério Público deflagrou a Operação Gol Contra, após uma denúncia de um dos assessores de Jardel. O deputado foi acusado de desviar verbas da Assembleia Legislativa, exigir parte dos salários de funcionários fantasmas e até de envolvimento com traficantes. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos no apartamento do parlamentar. Gravações e escutas telefônicas ajudaram a comprovar o esquema.
Em dezembro, o corregedor-geral da Assembleia, deputado Marlon Santos (PDT), recomendou a cassação do mandato de Jardel. No relatório apresentado na Comissão de Ética, Marlon apontou indícios de irregularidades já apuradas pelo Ministério Público, como a nomeação de servidores para a obtenção de vantagens, o envolvimento com traficantes, o que configura quebra de decoro parlamentar, e fraudes em diárias.
Jardel nega. No fim do ano passado, durante a sessão extraordinária convocada pelo governador José Ivo Sartori para a votação do pacote da sexta etapa do ajuste fiscal, o parlamentar afirmou que pretende restabelecer a verdade sobre as denúncias, mas reconheceu ter errado no início de seu mandato. "Estou começando agora na política. Estou começando errado, mas posso melhorar", disse o deputado na ocasião.

Fonte: G1

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