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quarta-feira, março 09, 2016

Parentes e amigos velam corpo de Naná Vasconcelos na Assembleia

Patrícia Vasconcelos e Luz Morena, esposa e filha de Naná Vasconcelos (Foto: Malu Veiga/G1)Amigos e parentes do percussionista Naná Vasconcelos se encontram na Assembleia Legislativa de Pernambuco, na área central do Recife, onde velam o
corpo do artista que morreu na manhã desta quarta-feira (9). Naná estava internado há 10 dias no Hospital da Unimed III e não resistiu a complicações de um câncer de pulmão. O corpo do artista chegou à sede do Poder Legislativo pouco depois das 14h30, onde era aguardado pelos entes mais próximos.
Consternadas, a viúva do percussionista, Patrícia Vasconcelos, e filha do casal, Luz Morena, se emocionaram com a chegada do caixão e recebem o carinho de pessoas ligadas à família. "Ele partiu fazendo música no quarto do hospital nos últimos dias da vida dele. Ele vivia a música respirava a música. Todo momento que falava sobre isso se sentia melhor. Espalhou muito amor e muita música pelo mundo todo. Essa é uma perda material, mas a música vai ficar. Ele deixa humildade como lição. Respeito ao próximo", disse a esposa Patrícia.
A mulher de Naná fez questão de destacar o trabalho que realizou junto a crianças e o legado que deixará, apesar de sua morte. "Como músico o trabalho que ele faz com crianças. Essa musicalidade se transporta para todas as idades. Era uma missão de vida se preocupar com o futuro de crianças que moravam na rua, que tinham problemas de deficiência. A gente descobriu a doença muito avançada. Já tínhamos viagem marcada para Nova Iorque (Estados Unidos) mas não deu tempo. Mas a equipe médica aqui foi muito competente e ele sempre muito positivo, querendo viver", acrescentou.
A filha do casal, Luz Morena, 16, disse que leva do pai um exemplo de humildade e força. "Ele me dá muita força sempre. Ele me chamou na UTI e me disse que eu seguisse meu sonho, que é estudar design de moda fora do país. Tenho muito orgulho da obra e da pessoa que ele foi", disse a filha com serenidade.
A outra filha do percussionista, Jasmin Azul, 21 anos, mora em Nova Iorque. A família não sabe se dará tempo de ela chegar para o velório. A cerimônia foi aberta ao público. A população poderá ter acesso ao plenário da Casa de José Mariano até a manhã da quinta-feira (10), antes do cortejo partir rumo ao Cemitério de Santo Amaro, também na área central do Recife, onde acontecerá o enterro de Naná Vasconcelos, às 10h.

Velório do percussionista Naná Vasconcelos no Recife (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)Velório do percussionista Naná Vasconcelos acontece no Recife (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)

Na coroa de flores que veio junto com o corpo de Naná, havia a inscrição "Amém e amem". Segundo o contra-regra de Naná, Edelvan Barreto, essa era a mensagem que ele queria deixar para o mundo. "Amém e amem ele compôs da primeira vez que se internou no ano passado. Essa música deve se propagar em toda a humanidade nesse mundo perturbado que vivemos hoje. Essa era lição que Naná queria deixar para todos nós".
Os famosos tambores de Naná não estão presentes durante seu velório. Seu fotógrafo e amigo João Rogério Filho disse que o prédio da Alepe, por ser um patrimônio histórico e tombado tinha restrições. "Aqui tem uma restrição com instrumento de percussão. A batida forte pode subir e danificar a estrutura do prédio".

Maracatu Nação Pernambuco fez homenagem a Naná na área externa da Alepe (Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press)Maracatu Nação Pernambuco fez homenagem a Naná na área externa da Alepe
(Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press)

Apesar disso, o Maracatu Nação Porto Rico trouxe as alfaias para a área externa do prédio e fez uma homenagem ao percursionista, relembrando Naná como símbolo da união dos maracatus de Pernambuco. ‘Toque o tambor que Naná chegou. Todas as nações vêm saudar nesse carnaval’, estava entre as letras entoadas pelo grupo, liderado por mestre Chacon Viana.

A esposa e a filha de Naná Vasconcelos com o mestre Chacon Viana (de branco) (Foto: Malu Veiga / G1)A esposa e a filha de Naná Vasconcelos com o
mestre Chacon Viana (D) (Foto: Malu Veiga / G1)
"Naná deixava bem claro que não tem mestre, nem ninguém melhor, o mestre é só o do céu. Com seu papo pé no chão ele conseguia que as nações do estado se unificassem e se tornassem uma só. Ele tinha uma coisa que Deus que deu. Ele não precisava se sacrificar tanto, ele já tinha nome. Mas ele trabalhava o Carnaval inteiro, mesmo na quimioterapia ele frequentava as comunidades, trabalhava com as crianças”, recordou Viana.
Integrantes da Orquestra Criança Cidadã também fizeram uma apresentação em homenagem a Naná durante o velório. O presidente da Alepe, deputado Guilherme Uchoa destacou o patrimônio cultural que o percussionista era para o estado. "Ele é um exemplo para essa juventude que hoje o sucede. Ele deixou um exemplo forte da cultura pernambucana no exterior. Ele resistiu à doença até os últimos minutos da vida e vai deixar uma lacuna impreenchível”, afirmou.
O prefeito do Recife Geraldo Julio também esteve presente no velório e reforçou que o legado do percursionista é um presente a cultura de Pernambuco. "Naná já foi reconhecido várias vezes como melhor percussionista. Convivi muito com ele. Fica o ensinamento dele, toda a arte, o talento e a cultura para marcar nossa cidade e inspirar muita gente para seguir os passos".

Amigos músicos fazem homenagem a Naná Vasconcelos na Alepe (Foto: Malu Veiga / G1)Amigos músicos fazem homenagem a Naná Vasconcelos na Alepe (Foto: Malu Veiga / G1)

O músico Zé da Flauta chegou a conversar com Naná na terça (8). Segundo ele, o estado do percursionista já era fragilizado. "Ele fazia um esforço danado e não podia pra falar. Eu sai muito abalado de lá e acordei com essa notícia. Eu chamava ele, meu grande amigo, de "Butimbundo". É uma expressão africana para dizer que a pessoa é muito inteligente. Ele me chamava assim também", recordou.
A risada do músico é o que vai ficar na memória do Maestro Forro. "Minha lembrança mais marcante, além de ser um gênio musical, era da sua risada. Ele acabava com qualquer embate, qualquer divergência, só rindo. Ele vai ficar vivo em nossos corações como um dos melhores exemplos de resistência, de luta", afirmou Forró.
Para o músico Ed Carlos, conhecer Naná mudava a vida de qualquer pessoa. "Aqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo não são mais as mesmas pessoas. Assim foi comigo. Tive o privilégio de estar ao lado dele e hoje me sinto mais gente por isso. Só digo uma coisa: Naná é pra sempre", disse.

Maestro Forró abraça a filha caçula de Naná Vasconcelos, Luz Morena, no velório que acontece na Alepe nesta quarta-feira (9) (Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press)Maestro Forró abraça a filha caçula de Naná Vasconcelos, Luz Morena, no velório que acontece na Alepe nesta quarta-feira (9) (Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press)

Luto oficial
No fim da manhã, o governador Paulo Câmara decretou luto de três dias pela morte do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos. O artista que faleceu na manhã desta quarta-feira em decorrência de complicações de um câncer de pulmão, no Hospital Unimed III, onde estava internado desde o último dia 29. A morte do artista pernambucano foi confirmada no início da manhã. Segundo informações da assessoria da unidade de saúde, Naná teve uma parada respiratória, passou por um procedimento, mas não resistiu e faleceu às 7h39.
Além do decreto, o chefe do Executivo estadual divulgou nota falando sobre o artista. "Pernambuco acordou triste. O silêncio causado pelo desaparecimento de Naná Vasconcelos em nada combina com a força da sua música, dos ritmos brasileiros que ele, como poucos, conseguiu levar a todos os continentes. Naná era um gênio, um autodidata que com sua percussão inventiva e contagiante conquistou as ruas, os teatros, as academias. Meus sentimentos e a minha solidariedade para com os seus familiares”, diz o texto.

Coroa de flores enviada por Elba Ramalho ao velório de Naná Vasconcelos (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)Coroa de flores enviada por Elba ao velório de Naná Vasconcelos (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)

A morte de Naná gerou grande repercussão entre a classe artística e política. Figuras como Lenine, Alceu Valença e Gilberto Gil, deram depoimentos sobre o legado deixado pelo pernambucano. O músico Marcelo Melo, da banda Quinteto Violado, um dos primeiros a chegar ao velório de Naná, lamentou o falecimento do colega. "A gente se conheceu nos anos 60. Tínhamos um quarteto vocal chamado O Bossa Norte. Naná era uma pessoa muito querida, muito amiga. Eu assumi o Quinteto e ele a vida dele. Eu tinha muito carinho por ele e era um talento muito grande".

Fonte: G1

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