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domingo, março 20, 2016

Cuba recebe visita de Barack Obama com misto de temor e esperança

TOPSHOT - Tourists walk next to a poster of Cuban President Raul Castro and US president Barack Obama in Havana, on March 18, 2016. US president Barack Obama touches down in Havana on Sunday to cap a long-unimaginable rapprochement with Cuba and burnish a presidential legacy dulled by Middle East quagmires and partisan sniping. As Air Force One rolls to a stop, Obama will become the first sitting US president to visit Cuba since Calvin Coolidge arrived on a battleship in 1928, before the discovery of penicillin or invention of the ballpoint pen. AFP PHOTO/YAMIL LAGE / AFP PHOTO / YAMIL LAGE ORG XMIT: HAV17Com a desconfiança e o bom humor característicos dos cubanos, Mário Díaz e Fidel Milián se dividem ao falar de sua expectativa em relação à histórica visita do presidente dos
Estados Unidos, Barack Obama, ao país, que começa neste domingo (20).

"Não muda nada", afirma Díaz, com expressão de indiferença. "Espero que ajude a melhorar a economia do país e a vida dos cubanos", diz Milián em bom português, idioma que diz estudar desde 2002 "porque adoro o Brasil".

Vestindo largas fardas militares sem insígnias, os dois percorrem as ruas de Havana com um fumigador que parece saído de um museu de antiguidades, assim como os antigos carros rabo de peixe, uma das marcas de Cuba.

Sem sorte em suas profissões -um é músico, o outro professor de educação física -, eles fazem um bico na campanha contra a dengue e esperam dias melhores.

Para os otimistas, a esperança é que a visita simbolize uma nova era de oportunidades econômicas e respeito mútuo. Já os mais céticos lembram a história de atritos e temem que uma abertura brusca reverta as conquistas sociais da Revolução Cubana.

Nas ruas de Havana não se vê nada parecido com euforia, mas quase todos se dizem "contentes" com a reaproximação com os EUA, iniciada no fim de 2014, que pôs fim a 55 anos de rompimento.

FACE AMISTOSA

O último presidente norte-americano que visitou a ilha foi Calvin Coolidge, em 1928, que veio em um navio de guerra, detalhe sempre lembrado pelos cubanos como exemplo da hostilidade dos EUA.

Em contraste, Obama chega disposto a mostrar a face mais amistosa de seu país, acompanhado da mulher, das duas filhas e da sogra -além de uma grande comitiva de empresários e parlamentares.

Os encontros com o ditador Raúl Castro e com opositores do regime serão alguns dos pontos altos, mas os momentos mais esperados são o discurso de Obama "ao povo cubano", na terça (22), e sua presença em uma partida de beisebol. O esporte é uma paixão comum aos dois países.

O governo cubano confirmou que o discurso de Obama, num teatro no centro da capital, será transmitido ao vivo pela TV.

Para a escritora Soleida Ríos, é um sinal animador para o recomeço das relações que Obama interaja com a população e não se restrinja a encontros a portas fechadas.

Em meio à boa vontade que a maioria dos cubanos demonstra com as pazes com os EUA, há o consenso de que não será possível aprofundar as relações sem a suspensão do embargo econômico.

"Não é só uma questão econômica, é moral", diz Ríos.

Apesar da expectativa, há raros sinais da visita em Havana. Nos últimos dias, fotógrafos disputavam ângulos para enquadrar o único cartaz sobre a presença de Obama em Havana Velha, área turística da capital: "Bem-vindo a Cuba", dizia um pôster colocado pelo restaurante "La Moneda Cubana".

Muitos cubanos, porém, não conseguem deixar de lado o ressentimento por anos de "agressão imperialista" ao país, que teve início na Independência em relação à Espanha, em 1898, e se acirrou com a Revolução de 1959.

"Uma relação como essa não se repara em um dia", diz o motorista Roberto, que não espera desculpas de Obama. "O mais importante é que ele aja para acabar com as restrições impostas pelos EUA. A economia está no chão."

Discretamente, taxistas como Roberto exibem bandeiras dos EUA em seus carros norte-americanos fabricados antes da Revolução, e que circulam por Havana graças ao esmero de seus donos e a motores de veículos asiáticos.

A Casa Branca afirma que direitos humanos e liberdade de expressão serão abordados por Obama no encontro com Raúl Castro. Para muitos cubanos, especialmente os mais jovens, a iniciativa de pouco adiantará.

"Direitos humanos e liberdade de expressão em Cuba? Está totalmente fora da nossa realidade", debocha um guia de 26 anos, pedindo para não ter o nome divulgado.

Fonte: Folha de São Paulo

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