Um preso, usando um aparelho de telefone celular, registrou os gritos de celebração e filmou a retirada do corpo de um detento esfaqueado e morto na manhã desta terça-feira (22) dentro do Presídio Rogério
Coutinho Madruga, mais conhecido como Pavilhão 5 de Alcaçuz. A unidade fica em Nísia Floresta, cidade da Grande Natal. As imagens, repassadas com exclusividade ao G1, foramenviadas na manhã desta quarta (23) por um outro preso que também fez uso de um celular dentro do presídio (o uso de aparelhos celulares é ilegal dentro de unidades prisionais). A direção do presídio diz que vai intensificar as revistas. Há duas semanas, durante uma revista realizada na unidade, foram encontrados 80 celulares e 50 facas artesanais.
O preso morto nesta terça foi identificado como Francisco Canindé Souza da Silva, de 39 anos. Apelidado de 'Júnior do Morro', ele cumpria pena por tráfico de drogas, homicídio e porte ilegal de arma de fogo, segundo consta no site do Tribunal de Justiça do Estado.
Além do vídeo, o preso também mandou pela internet relatos do momento em que o desafeto foi assassinado. “O preso já tinha sido esfaqueado quando o plantão chegou. O preso é esfaqueado com a boca lâmpada para não gritar. Só retira o pano quando já está todo furado” (SIC), contou.
As imagens feitas pelo preso foram gravadas a partir da portinhola de uma das celas. Enquanto o corpo é retirado por dois internos que trabalham no presídio, é possível ouvir os detentos, eufóricos, gritando o nome de uma facção criminosa que ocupa a unidade. Por determinação da Secretaria de Justiça e da Cidadania (Sejuc), órgão responsável pelo sistema prisional potiguar, os presos foram separados por facção. “E é justamente uma delas, que teve origem nas penitenciárias de São Paulo, que está presente no Pavilhão 5, explicou o agente penitenciário Thiago Jefferson, diretor do presídio.
Ainda segundo o diretor, o Presídio Estadual Rogério Coutinho Madruga possui atualmente 370 detentos. “A capacidade é para 402, mas como só recebe presos que fazem parte desta facção, não podemos colocar presos de outros grupos. Se isso acontecer, eles se matam”, acrescentou.
Assassino identificado
Thiago Jefferson contou que um preso assumiu o crime. “Ele contou que matou o desafeto porque ele teria traído a facção. O Júnior do Morro faria parte dessa fação, mas quando estava solto teria se envolvido com um grupo rival parta cometer assaltos. Quando os presos descobriram, não gostaram e o pegaram para cobrar essa traição”, contou o diretor.
Providências
Ao G1, o diretor do Pavilhão 5 disse que vai intensificar as revistas. O objetivo é identificar a partir de qual cela foi feita a filmagem, qual o preso que fez uso do celular e descobrir onde está o telefone. “Também vamos fazer buscas para tentar achar outros aparelhos, inclusive o que foi usado para enviar o vídeo ao G1, e punir os responsáveis”, acrescentou.
O diretor disse também que vai reforçar a segurança para evitar a entrada de telefones celulares no presídio.
Mortes em presídios
Sete presos já foram mortos este ano dentro de unidades prisionais do estado. Somente entre a noite da segunda-feira (21) e a manhã desta terça (22), foram três casos. O primeiro destas três vítimas foi Manoel Ambrósio Sobrinho, de 45 anos, foi espancado até a morte dentro da Penitenciária Estadual de Parnamirim. O crime aconteceu no pavilhão 2 da unidade. Um guariteiro viu o detento sendo espancado na quadra e acionou os agentes penitenciários. Eles entraram no pavilhão e retiraram o preso, que já estava bastante ferido. O Samu foi ao local, mas o homem já estava morto.
O segundo foi Emerson Thiago Rabelo, de 24 anos. Ele foi achado dependurado pelo pescoço no pavilhão A do Presídio Provisório Raimundo Nonato, também chamado de Cadeia Pública de Natal. Dinorá Simas, diretora da cadeia, acredita que o detento foi assassinado. "Mas, só mesmo a perícia poderá confirmar o homicídio", ressaltou.
E o terceiro e mais recente foi o caso de Júnior do Morro, morto a facadas dentro do Presídio Estadual Rogério Coutinho Madruga, em Nísia Floresta.
Calamidade
O governo do Rio Grande do Norte renovou por mais seis meses o decreto de calamidade no sistema prisional potiguar.
A renovação, assinada pelo governador Robinson Faria, foi publicada na edição do dia 17 de março do Diário Oficial do Estado (DOE). O documento diz que a renovação tem por objetivo "legitimar a adoção e execução de medidas emergenciais que se mostrarem necessárias ao restabelecimento do seu normal funcionamento".
Fonte: G1
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