O Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi, em Americana (SP), está com surto da superbactéria KPC. Sete pessoas foram infectadas desde o início de janeiro, duas
delas morreram. A informação foi confirmada pela Prefeitura e pelo médico infectologista da unidade, Arnaldo Gouvea, ao G1 nesta quinta-feira (10).
A bactéria multirresistente Klebsiella pneumoniae foi encontrada em quatro pessoas, que manifestaram sintomas clínicos, e em outros três pacientes identificados em exames de vigilância no hospital. Um dos infectados é reincidente, ele esteve entre os casos do surto registrado na mesma unidade em 2014.
"Cinco desses sete casos têm ligação, ou seja, [pacientes infectados] 'andaram' por setores do hospital, transitaram em espaços comuns", afirma Gouvea. A confirmação dos casos é feita pelo Instituto Adolfo Lutz.
Circulação da bactéria
O primeiro caso identificado foi em janeiro, mas não causou alerta, pois era pontual. Em 6 de fevereiro, no entanto, uma paciente que passou pelo pronto-socorro foi identificada como infectada.
"Fizemos o caminho dessa paciente, fizemos exames em mais pacientes e verificaram que outras três pessoas haviam sido infectadas. No dia 11 de fevereiro verificaram que havia a circulação da bactéria na UTI. No dia 18 encaminhamos para a o [Instituto] Adolfo Lutz e em 25 de fevereiro foi notificado ao Ministério da Saúde", explica o especialista.
A última confirmação de infecção pela bactéria na UTI foi em 25 de fevereiro e desde então não surgiram novos casos. "No entanto, para dizer que a bactéria não está em circulação, precisa de ao menos oito semanas sem novos casos no hospital. Não está fora de controle", garante o infectologista.
O que chama a atenção do infectologista é que não se sabe como o primeiro caso de paciente infectado ocorreu, ou seja, a origem da bactéria que deu início ao novo surto.
"O que assustou desta vez é que o caso zero era um senhor que esteve na enfermaria e, depois da alta, vimos que tinha KPC na urina. A impressão que a gente tem é que ele chegou de casa com a bactéria. Mas como ele conseguiu, eu não sei. É o mais intrigante e preocupante. A bactéria pode estar começando a circular na comunidade e, até então, era uma bactéria exclusiva de hospital. Não conseguimos identificar como foi reintroduzida a bactéria no ambiente hospitalar", explica o médico.
Mortes e pessoas infectadas
Os infectados que receberam tratamento no hospital são uma mulher e seis homens, sendo que dois homens não resistiram às complicações e morreram. Eles ficaram na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) por mais de um mês.
Uma vítima estava internada desde 15 de janeiro e faleceu no dia 8 de março. A outra foi hospitalizada em 30 de dezembro e morreu em 17 de fevereiro. Ambos tinham quadro de saúde crítico e passaram por cirurgias, segundo o infectologista.
Entre os demais pacientes infectados, três tiveram alta até esta quarta-feira (9). Uma mulher idosa, hospitalizada desde 25 de janeiro,teve infecção urinária, permanece na enfermaria mas deve ter alta nos próximos dias.
O paciente mais crítico é um homem que sofreu ferimento a bala. Ele está hospitalizado desde dezembro e, atualmente, se encontra na enfermaria do hospital.
UTI dividida e isolamento
Em um caso de surto da bactéria, Gouvea explica que a UTI é dividida assim que os pacientes infectados são identificados. A equipe para tratar dessas pessoas não se envolve com os demais pacientes.
Mesmo na alta, quando o doente vai para a enfermaria, um profissional fica dedicado exclusivamente a ele, para evitar um novo contágio. Segundo o infectologista, não há funcionários infectados porque eles cumprem os protocolos e tomam as precauções devidas.
Orientações na alta dos pacientes
Para os pacientes com alta, os médicos dão orientações à família.
"Fazer uma boa higiene no paciente, se ficar acamado, lavar bem as mãos. A bactéria precisa de medicação específica pra tratar, mas só vai derrubar quem já estiver muito doente. Quem estiver com a imunidade boa, elimina a bactéria naturalmente", tranquiliza Gouvea.
Contágio e risco
O contágio da bactéria KPC acontece por contato, mas não socialmente. No caso de pacientes acamados infectados, a chance é maior de uma contaminação, segundo o infectologista. A KPC fica alojada no trato digestivo da pessoa infectada e aparece nas fezes e na urina, por exemplo.
"Os pacientes acamados não têm controle da sua excreção, evacuam na cama, na hora do banho, contaminando o ambiente, cama, mobília, avental. Acaba colonizando de bactérias a pele inteira e acaba afetando os órgãos internos. Enquanto está no trato digestivo não tem problema. O problema é quando atinge outros órgãos", explica Gouvea.
O maior risco é para os pacientes que estão com problemas graves de saúde internados no hospital, como no caso dos dois homens que morreram. No entanto, uma pessoa com imunidade alta pode ter a bactéria no organismo sem qualquer manifestação de sintomas, e acaba eliminando-a naturalmente.
"A bactéria pode ficar mais de um ano no trato digestivo, principalmente em pacientes acamados, sem se manifestar. O risco é praticamente nulo em pessoas com boa imunidade, tanto que a gente tranquiliza as pessoas que vão pra casa. Ela [KPC] pega quem tá superdoente", afirma o médico.
Crítica aos antibióticos
O infectologista lembra que a KPC não é a mais agressiva das bactérias. "A KPC não é mais agressiva, mas demanda antibióticos só usados em circustâncias especiais, e não os do dia a dia".
No entanto faz uma crítica às indústrias farmacêuticas com relação ao desenvolvimento de medicamentos para conter a KPC e outras ditas superbactérias.
"Se ficarmos dependendo das indústrias farmacêuticas, vamos perder. Faz cerca de duas décadas que não se desenvolve novas clases de antibioticos. E as bactérias continuam evoluindo", completa.
Fonte: G1
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