A recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde), nesta semana, para que os países testem mosquitos transgênicos para combater a expansão do vírus
da zika reacendeu uma disputa entre os defensores da estratégia e os que veem nos organismos geneticamente modificados um perigo ao ambiente e à saúde pública.
Cientistas, ambientalistas e interessados em produzir o Aedes aegypti transgênico se dividem sobre a questão. Aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em 2014, uma linhagem de mosquitos machos, desenvolvida pela multinacional de origem britânica Oxitec, aguarda desde então sua liberação para comercialização. A Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) diz que ainda discute "como enquadrar o produto".
Solto no ambiente, o macho transgênico da Oxitec cruza com fêmeas selvagens e produz descendentes que morrem ainda no estágio larval, antes de poderem transmitir o vírus da zika ou dengue.
Para o biólogo e pesquisador convidado do Laboratório de Engenharia Ecológica da Unicamp José Maria Gusman Ferraz, que fez parte do CTNBio, faltam informações sobre o comportamento do mosquito no ambiente. "A liberação foi feita de forma precipitada e com vários pontos a serem esclarecidos", diz ele. "Eles morrem, é isso que acontece [no ambiente]", diz a bióloga Margareth Capurro, que coordena o desenvolvimento de uma linhagem transgênica na USP.
Margareth também fez a avaliação dos resultados em um dos primeiros testes com o mosquito da Oxitec, em Juazeiro (BA). "O resultado é satisfatório. É a melhor linhagem que a ciência pode desenvolver? Não. Mas funciona."
Desde 2011, testes com o OX513A –a linhagem da Oxitec– são realizados no país por meio de projeto-piloto, já que, oficialmente, a comercialização não está liberada. Duas localidades em Juazeiro, uma em Jacobina, na Bahia, e Piracicaba (a 160 km de SP), têm resultados positivos.
Segundo a Oxitec, a redução da infestação chega a 99%. Cláudio Fernandes, gerente de negócios da empresa, diz que o mosquito é um produto pronto e que apenas esperam o aval da Anvisa para a comercialização. "Nesse momento estamos testando os métodos de liberação."
A estimativa é que mais de 20 milhões desses mosquitos tenham sido soltos no Brasil –a maior quantidade já usada em um único país.
PROCURA
A orientação da OMS deve acelerar esse processo. A Bahia pediu neste ano a suplementação orçamentária de R$ 12 milhões à União para expandir as áreas em teste. No Estado está a fábrica da MoscaMed, organização social que testa os transgênicos e que deve investir ainda em aedes estéreis por radiação.
O governo de Mato Grosso do Sul diz que está analisando a viabilidade e aplicação do método na região. No Recife, epicentro dos casos de zika e microcefalia, a prefeitura também mantém negociação com a empresa.
Em Piracicaba, os testes devem ser levados para a área central da cidade após bons resultados em um bairro. Mas enfrentam a reação de ambientalistas que acionaram a Promotoria para que os resultados sejam apurados.
"A OMS diz que mais testes de campo são necessários. Também defende avaliação de risco. O recado vale para a CTNBio, que liberou com base em resultados feitos em só duas localidades e sem avaliação de risco", afirma Gabriel Fernandes, agrônomo e assessor técnico de associação de estímulo à agricultura familiar e agroecologia."Espero que a Anvisa exija essas informações", complementa.
Segundo o órgão, "é importante destacar que, até o momento, nenhuma agência do mundo tomou posição sobre este tipo de produto".
Fonte: Folha de São Paulo
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