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sábado, fevereiro 20, 2016

Recomendação da OMS reacende disputa sobre aedes transgênico

Pesquisadora olha mosquitos geneticamente modificados em fábrica de Campinas (SP)A recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde), nesta semana, para que os países testem mosquitos transgênicos para combater a expansão do vírus
da zika reacendeu uma disputa entre os defensores da estratégia e os que veem nos organismos geneticamente modificados um perigo ao ambiente e à saúde pública.

Cientistas, ambientalistas e interessados em produzir o Aedes aegypti transgênico se dividem sobre a questão. Aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em 2014, uma linhagem de mosquitos machos, desenvolvida pela multinacional de origem britânica Oxitec, aguarda desde então sua liberação para comercialização. A Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) diz que ainda discute "como enquadrar o produto".

Solto no ambiente, o macho transgênico da Oxitec cruza com fêmeas selvagens e produz descendentes que morrem ainda no estágio larval, antes de poderem transmitir o vírus da zika ou dengue.

Para o biólogo e pesquisador convidado do Laboratório de Engenharia Ecológica da Unicamp José Maria Gusman Ferraz, que fez parte do CTNBio, faltam informações sobre o comportamento do mosquito no ambiente. "A liberação foi feita de forma precipitada e com vários pontos a serem esclarecidos", diz ele. "Eles morrem, é isso que acontece [no ambiente]", diz a bióloga Margareth Capurro, que coordena o desenvolvimento de uma linhagem transgênica na USP.

Margareth também fez a avaliação dos resultados em um dos primeiros testes com o mosquito da Oxitec, em Juazeiro (BA). "O resultado é satisfatório. É a melhor linhagem que a ciência pode desenvolver? Não. Mas funciona."

Desde 2011, testes com o OX513A –a linhagem da Oxitec– são realizados no país por meio de projeto-piloto, já que, oficialmente, a comercialização não está liberada. Duas localidades em Juazeiro, uma em Jacobina, na Bahia, e Piracicaba (a 160 km de SP), têm resultados positivos.

Segundo a Oxitec, a redução da infestação chega a 99%. Cláudio Fernandes, gerente de negócios da empresa, diz que o mosquito é um produto pronto e que apenas esperam o aval da Anvisa para a comercialização. "Nesse momento estamos testando os métodos de liberação."

A estimativa é que mais de 20 milhões desses mosquitos tenham sido soltos no Brasil –a maior quantidade já usada em um único país.

PROCURA

A orientação da OMS deve acelerar esse processo. A Bahia pediu neste ano a suplementação orçamentária de R$ 12 milhões à União para expandir as áreas em teste. No Estado está a fábrica da MoscaMed, organização social que testa os transgênicos e que deve investir ainda em aedes estéreis por radiação.

O governo de Mato Grosso do Sul diz que está analisando a viabilidade e aplicação do método na região. No Recife, epicentro dos casos de zika e microcefalia, a prefeitura também mantém negociação com a empresa.
Em Piracicaba, os testes devem ser levados para a área central da cidade após bons resultados em um bairro. Mas enfrentam a reação de ambientalistas que acionaram a Promotoria para que os resultados sejam apurados.

"A OMS diz que mais testes de campo são necessários. Também defende avaliação de risco. O recado vale para a CTNBio, que liberou com base em resultados feitos em só duas localidades e sem avaliação de risco", afirma Gabriel Fernandes, agrônomo e assessor técnico de associação de estímulo à agricultura familiar e agroecologia."Espero que a Anvisa exija essas informações", complementa.

Segundo o órgão, "é importante destacar que, até o momento, nenhuma agência do mundo tomou posição sobre este tipo de produto".

Fonte: Folha de São Paulo

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