Em detalhamento da Operação Alcateia, desencadeada nesta quinta-feira (4), o Ministério Público Estadual afirma que os membros da facção criminosa Sindicato do RN se
aproveitaram da ineficiência do Estado nas unidades prisionais para ocupar os espaços e promove o domínio das ações.
Foi constatado ainda que os membros do “Sindicato do RN” buscaram incessantemente desestabilizar o interior das grandes unidades prisionais para conseguir o fim das denominadas “trancas”, ou seja, da prisão propriamente dita em unidade celular separada no interior dos pavilhões.
Paulatinamente, os membros da organização aproveitaram-se do vácuo causado pela ação ineficiente do Estado, foram ocupando espaços e promovendo o domínio das ações do portão do pavilhão para dentro, consumando o fim das “trancas” com reiteradas depredações das unidades, sobretudo entre os meses de março a agosto de 2015, arrancando as grades e impedindo o acesso regular dos agentes penitenciários.
Como os agentes não entravam rotineiramente nos pavilhões e há muito tempo já se valiam de “presos de confiança” para exercer a função de “chaveiros”, estes foram recrutados e passaram a seguir ordens das facções. O passo seguinte foi arrancar as grades de cada cela, o que terminou pelo domínio de toda a área dos pavilhões pelos próprios presos, cujo ingresso passou a depender de intervenções táticas do GOE ou do BPCHOQUE.
Esse comando do interior das unidades impede o cumprimento da Lei de Execuções Penais sobretudo no que se refere a regras básicas de disciplina e à separação dos detentos, facilita a escavação de túneis, o uso de celulares e o recrutamento de novos integrantes para a facção, a partir dos presos que não inicialmente não queiram integrar qualquer dos grupos e procuram posição de neutralidade (denominados de “massa”).
Em julho e em agosto de 2015 o “Sindicato do RN” atingiu quase toda a meta de derrubar as “trancas”, quando destruíram as grades dos Presídios de Nova Cruz e Caicó, perdendo o Estado o domínio do interior desses estabelecimentos.
Observou-se da pesquisa investigativa ainda que entre março e junho de 2015 houve um acordo entre as facções, que se uniram em torno de uma pauta pública que foi o afastamento da então Diretora do Presídio de Alcaçuz, mas cuja pauta real era avançar para destruir mais “trancas” e não se submeter a qualquer ordem ou disciplina, ampliando-se o controle das unidades.
Esse acordo além de viabilizar o avanço da destruição das “trancas”, resultou nos ataques a ônibus na região metropolitana de Natal no dia 16 de março de 2015, o que serviu como demonstração de força e buscava inibir a ação do Estado nas penitenciárias, aliada à estratégia de oferecer representações a órgãos competentes por supostas de violação de direitos por qualquer ação disciplinar mais firme por parte dos agentes penitenciários.
O controle das áreas internas se consolidou progressivamente, porém a frágil paz entre as facções durou até o mês de junho do mesmo ano, quando foi assassinado o detento Alexandre Teodósio, conhecido como “Pelelê”, que era ligado ao PCC, gerando-se uma sequência de atos de violência, com várias outras mortes, dentro e fora das unidades. Algumas dessas mortes foram decididas coletivamente pelo denominado “Conselho” da facção.
Outro órgão da organização é a chamada “Linha Final”, que são presos fundadores ou com poder de mando, os quais procuram agir de forma extremamente discreta, sendo até mesmo desconhecidos da condição de líderes muitas vezes pelos próprios agentes penitenciários, instrumentalizando outros presos para transmitir ordens.
Percebeu-se também que o grupo mantém contatos com membros de facções com divergências com o PCC, como a “Al Qaeda” (Paraíba) e o Comando Vermelho (Rio de Janeiro).
Captura de atacadista do tráfico, fugas recentes e prisões decretadas
Em atuação integrada com o Ministério Público de São Paulo foi preso no dia 26 de novembro de 2015, na cidade de Ubatuba/SP, o foragido da Justiça do Rio Grande do Norte Evan Ferreira Machado, conhecido como “Gordo Evan”, que era fornecedor de drogas para a facção e considerando um dos maiores atacadistas do mercado ilícito no Estado.
No dia 21 de janeiro de 2016 fugiram de Alcaçuz duas das principais lideranças da facção, que seguem foragidos e passaram a atuar fortemente em crimes de roubo, são eles Gilmar da Cruz Silva, conhecido como “Curau”, que tem atuação no Agreste do Estado e Francisco das Chagas Rosa da Silva, o “Chaguinha”, que comanda o tráfico de drogas nas comunidades Jardim Lola e Padre João Maria, em São Gonçalo do Amarante.
Fonte: Portal BO
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