O alto número de casos de dengue registrados em um curto período aponta a tendência de uma nova epidemia de dengue "de grandes proporções" no país neste ano, de acordo com especialistas ouvidos
pela Folha.
"Isso mostra uma epidemia que não está no início, mas que, em janeiro, já está de vento em popa", afirma o infectologista Carlos Magno Fortaleza, professor da Unesp.
Outro cenário possível é que uma parte dos casos já notificados como dengue sejam de zika, doença transmitidas pelo mesmo vetor, o mosquito Aedes aegypti.
"Além da dengue, estamos tendo epidemia de zika. Como as doenças causam manifestações semelhantes, pode ser que uma parte seja zika", afirma o infectologista Benedito Lopes da Fonseca.
Atualmente, o vírus da zika já tem circulação confirmada em 21 Estados do país, além do Distrito Federal.
A doença, porém, diferentemente do que ocorre com a dengue, ainda não é de notificação compulsória –o Ministério da Saúde pretende que o modelo, em que todos os casos prováveis da doença são informados ao governo federal depois de avaliação clínica, passe a ser adotado nos próximos dias.
Para Fonseca, é preciso aumentar o treinamento dos profissionais para que a notificação seja mais precisa.
"Os casos de zika têm um exantema [manchas vermelhas no corpo] muito peculiar, que coça muito", afirma. "Quem não vê muito os casos de zika pode acabar fazendo o diagnóstico como dengue."
PERIGOSO
Apesar disso, especialistas têm um consenso: é preciso manter alerta para a dengue.
"É muito mais perigoso que zika", afirma Carlos Fortaleza. "Já são três mortes por zika. Mas o número de mortes por dengue ainda é muito maior", ressalta.
Segundo os especialistas, alterações climáticas, com períodos mais longos de calor, somados ao acúmulo de água e lixo nas cidades, fatores que facilitam a proliferação do mosquito transmissor, colaboram para o aumento de casos dessas doenças.
"Não iremos resolver o problema do mosquito só com repelente ou veneno. Ou tomamos medidas, ou vamos ter dengue por muito tempo como temos agora", completa Fortaleza.
Para Marcos Boulos, coordenador de controle de doenças do Estado de São Paulo, apesar do cenário negativo em janeiro, a participação de outros setores no combate ao Aedes aegypti pode reverter o aumento de casos nos próximos meses. Segundo ele, só esses fatores poderiam evitar a possibilidade concreta de uma nova epidemia.
"O cenário do começo do ano é de ter aumento de casos se as coisas ficarem da mesma maneira. A [área da] saúde já está usando todos seus recursos, e eles não são suficientes. Mas com a adição de maior número de áreas e ministérios, a possibilidade de ter uma reversão existe."
Fonte: Folha de São Paulo
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