O governo sírio aceitou nesta terça-feira (23) a proposta dos Estados Unidos e da Rússia de um cessar-fogo, mas continuará combatendo os "grupos terroristas" excluídos do
acordo, como o EI, um anúncio recebido com ceticismo pelos rebeldes.
A trégua, que entrará em vigor no sábado à 0h de Damasco (19h de Brasília de sexta-feira), exclui o grupo Estado Islâmico (EI) e a Frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda, que controlam grande parte do território sírio.
"A República Árabe síria anuncia que aceita o fim das hostilidades", indicou nesta terça-feira o ministério sírio das Relações Exteriores em um comunicado enviado à AFP. No entanto, indica que continuará com as "operações militares para lutar contra o terrorismo do Daesh (acrônimo em árabe do EI), da Frente al-Nosra e dos outros grupos terroristas associados, em conformidade com o anúncio russo-americano".
"Para garantir o êxito deste cessar-fogo, o governo sírio está disposto a se coordenar com a Rússia para determinar quais são as regiões e os grupos armados incluídos nesta trégua", acrescenta o ministério.
Desde o início, em 2011, da guerra na Síria, que deixou mais de 260.000 mortos, o governo não faz nenhuma distinção entre os ativistas, rebeldes e jihadistas, e considera que todos são terroristas.
O principal grupo da oposição síria, o Alto Comitê de Negociações (HCN), anunciou na segunda-feira que aceita o cessar das hostilidades desde que seja respeitada a resolução 2254 da ONU, adotada em dezembro, que inclui a entrega de ajuda humanitária e o acesso às zonas sitiadas.
Farsa
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou na segunda-feira que seu país, aliado militar do governo sírio, "fará o necessário" para que Damasco respeite o fim dos combates e disse esperar que os Estados Unidos façam o mesmo com os grupos rebeldes.
"Embora a proposta tenha sido recebida com ceticismo, há uma coordenação mais estreita entre Rússia e Estados Unidos, que parecem estar dispostos a ser fiadores desta trégua e a influenciar seus respectivos aliados", explica à AFP Karim Bitar, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS).
Mas, em terra, rebeldes e civis expressaram suas dúvidas sobre a aplicação deste acordo.
"É uma perda de tempo, este acordo é dificilmente aplicável", disse à AFP Abou Ibrahim, chefe de uma facção rebelde.
"Quem pode garantir que o regime cessará seus bombardeios (contra os rebeldes)?", se perguntou.
Para alguns ativistas, o maior obstáculo é a exclusão da Frente al-Nosra, aliada de grupos rebeldes em várias regiões da Síria.
"Este acordo é uma farsa", estimou o ativista Zein el-Basha, proveniente de Damasco, em sua página no Facebook. "As milícias aliadas do regime (...) estarão isentas de qualquer ato hostil, mas têm o direito de atacar as zonas controladas pela Al-Nosra e pelo EI", explica.
"A Al-Nosra é um elemento essencial da oposição (armada). Ela não aceitará que a Al-Nosra seja bombardeada, e se aceitar perderá uma força importante em terra", afirma Rama, uma farmacêutica de Damasco.
O acordo foi alcançado num momento em que a rebelião perdeu força após uma importante ofensiva do exército sírio, com o apoio da aviação russa, na província de Aleppo (norte).
Assad convoca eleiçõesHoras após o anúncio do acordo de cessar-fogo entre Rússia e Estados Unidos, o presidente sírio, Bashar al-Assad, anunciou a realização de eleições parlamentares em 13 de abril.
As últimas eleições legislativas na Síria foram realizadas em maio de 2012. "Assad quer mostrar que segue no comando da agenda do país", estima Bitar.
"O acordo de cessar-fogo é um sinal de esperança para a população síria", estimou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
"Contribui para criar um ambiente propício para retomar as negociações políticas sobre a Síria", interrompidas em Genebra no início de fevereiro, indicou Ban.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!