Como resposta a queixas de mulheres que afirmam não sentir prazer nas relações, a educadora sexual Aline Castelo Branco realizará um workshop em Brasília
para ajudar homens a melhorar a performance durante o sexo oral. O curso acontece em março e já passou pela Bahia e Minas Gerais. Ainda não há informações sobre o valor da inscrição, o local e o número de vagas.
A atividade dura três horas e é dividida em duas partes – teórica e prática. Primeiro, os alunos aprendem as diferenças entre vulva, clitóris e vagina, quais são as zonas erógenas e como tocar o corpo feminino. Versões em silicone do órgão feminino são usadas em sala de aula. Uma médica e um amigo ajudam a especialista, que também apresenta trechos de filmes.
"Muitos homens não sabem [o que é cada parte do corpo], mas às vezes nem as próprias mulheres", explica Aline. "As próprias mulheres não olham para as suas vaginas, e os homens também. Eles querem sentir o prazer, penetrar, mas não se preocupam em conhecer e apreciar o corpo da mulher. A gente montou estratégia para que os homens entendam a diferença entre orgasmo vaginal e clitoriano."
Já a parte prática é feita com a ajuda de frutas, como mangas e maçãs. Nesta segunda etapa, os alunos treinam a respiração e a soltura da mandíbula. A terapeuta afirma que as técnicas fazem grande diferença durante o ato sexual.
"O exercício respiratório agrega à prática porque, no momento do sexo oral, ele [o parceiro] precisa trabalhar língua e o ar para saber como dar mais prazer", diz.
O curso foi dado pela primeira vez em novembro, em Salvador, e teve 60 alunos. Sem saber se haveria público, Aline escolheu uma sala pequena, que ficou lotada. Depois, recebeu centenas de e-mails pedindo informações sobre as próximas edições do workshop.
"Eu estava muito receosa [no dia do primeiro]. Quando começou, eles iam chegando, ficaram em um clima meio tenso, não sabiam o que ia acontecer", lembra. "Ninguém demonstrou saber de tudo, estavam muito tranquilos. Eles foram melhores que as mulheres, estavam predispostos mesmo a aprender."
Nos últimos 30 minutos da atividade, a educadora abriu espaço para perguntas. Ela conta que os homens se sentaram no chão, pediram para repetir movimentos, tiraram dúvidas e fizeram desabafos. Além disso, "reclamaram" haver pouco tempo para conversar sobre o assunto.
"Eles se disseram muito cobrados para que a mulher chegue ao orgasmo. A ideia é que eles também sintam prazer na prática. Tiveram dúvidas como se lésbicas fazem mesmo o melhor sexo oral em mulheres, se mostraram muito preocupados com comparações. Por isso esse fetiche na cabeça masculina de ver duas mulheres transando. Depois, mandaram algumas perguntas por e-mail", diz.
O público foi formado por advogados, médicos, administradores, psicanalistas e universitários. Havia homens com idades entre 30 e 60 anos, e muitos contaram ter ido por indicação das mulheres, que já tinham feito cursos com Aline.
Todos os alunos receberam um "kit capacitante", com apostila, líquidos aromatizantes, sabonetes líquidos especiais e preservativos. "Várias coisas para conscientizar esse homem e essa mulher que o uso de certos produtos facilita a prática sexual e aumenta o prazer", conta a educadora.
Consciência sexual
Formada em jornalismo, Aline já teve um programa em rádio e TV sobre relacionamentos. Ela trabalha com sexualidade há oito anos e já lançou livros e mediou encontros a respeito. Depois, se especializou em educação sexual e passou a trabalhar com o assunto também em escolas públicas, além de fazer pesquisas junto a universidades.
Um trabalho feito por ela aponta que 48% dos homens não gostam de fazer sexo oral. Entre os principais motivos apontados estão "mau cheiro", "gosto ruim" e o fato de não saberem como fazer. Mais de mil homens foram ouvidos em São Paulo durante o levantamento, ocorrido no início de 2015.
Para a especialista, esse comportamento também tem a ver com a repressão sofrida por mulheres. "[É assim] Desde que a gente nasce. A mulher, por exemplo, na Idade Média, não tinha a liberdade para chegar ao orgasmo. Sexo era praticado para procriação e para satisfazer o homem. Sexo oral não era permitido, e o anal também [não]."
"A mulher começou a se descobrir após o período de histeria em 1860, com os estudos de Freud. Hoje a gente identifica isso como TPM. Via-se que [o comportamento definido como histeria] era porque [a mulher] não chegava ao orgasmo. Veio vibrador, que fazia massagem no clitóris e mulheres ficavam relaxadas", completa.
Aline afirma que, de alguma forma, ainda existe repressão. "Quando o homem pega no 'pintinho' aos 3 ou 4 anos, a mãe bate na mão e briga, diz que é errado. A menina da mesma forma, a mulher não pode se tocar. O homem ainda pode fazer, mas no caso da mulher é 'pecado'. Os pais não ensinam isso e não tratam com naturalidade. Isso traz alguns problemas. Quando a menina abaixa a calcinha ou anda sem sutiã pela casa, mesmo sem ter nem peitinho, os pais recriminam."
A especialista diz que tenta durante os cursos fazer um trabalho de conscientização, mostrando que a sexualidade é aprendida. Ela também busca diferenciar sexualidade de sexo. A primeira palavra, segundo Aline, se refere a sensualidade, desejos, gênero e identidade. O sexo é relativo aos órgãos genitais.
"[Prática do ato sexual] Aumenta felicidade, você vive bem. O maior problema do ser humano diz respeito à sexualidade. E se você não está bem ao trabalho, se não ganha dinheiro, se está mal com filhos, tudo vai afetar sua vida a dois", conclui.
Fonte: G1
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