Por volta dos 12 anos de idade, Cláudio Canavarros Freire já tinha um trabalho de adulto. Para ter seu próprio dinheiro e por não querer
depender de ninguém, batia ponto em uma borracharia da cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul.
Mas Cláudio também tinha um sonho: ser jogador de futebol. Ele jogava bola em uma escolinha famosa da cidade e um dia, quando seu time veio disputar um torneio em São Paulo, Claudinho foi convidado a fazer um teste em Jundiaí.
Era uma semana de peneira, mais de duas dezenas de competidores, mas o garoto sobressaiu pela força física e velocidade incomum para um zagueiro. Ficou dos 13 aos 17 no Paulista de Jundiaí. Longe da família, começou a dar forma a seu sonho de boleiro. Ganhou massa muscular, resistência e o apelido de Borracha.
Por ser rápido e gostar de ajudar o ataque, mudou de posição. Apesar de ter sobrenome de zagueiro campeão do mundo, foi jogar na lateral.
Estudava à noite (depois à tarde) e no resto do tempo treinava. Jogava videogame e treinava, ia à padaria comer salgadinhos e treinava. Treinava, treinava, treinava...
Até que apareceu um grupo de empresários, e esses agentes o levaram ao Santos, e então, aos 17 anos, ele se tornou um Menino da Vila.
Aos 18, foi campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Foi o grande título da sua carreira, mas também sua grande decepção porque apesar de ter sido titular durante toda a campanha, acabou sacado do time na final e viu do banco seus companheiros levantarem a taça.
Divulgação / Inter de Lages
Lateral marca Marcelinho Paraíba em treino do Inter de Lages
Aos 19, se transferiu ao Grêmio. Chegou a treinar com os profissionais, sonhando com uma chance no time de cima, o que nunca aconteceu.
Aos 20, levantou o caneco do Gaúcho sub-20.
No final do ano, seu contrato com o Grêmio acabou. Foi parar no Inter de Lages (SC) e lá fez seu primeiro jogo como profissional.
Em 29 partidas como titular, ficou fora de apenas uma, suspenso. Ele nunca se machucou. Nunca teve problema grave de saúde. Era o primeiro em todos os exames de pré-temporada.
Aos 21, ficou sabendo que se tornaria pai. No dia de ano novo, postou uma foto no Instagram mostrando a barriga grávida de Priscilla, sua mulher, com a legenda: "Que 2016 seja repleto de amor, paz, saúde, alegria, sucesso pra gente."
Acabou sendo emprestado ao XV de Piracicaba para disputar o Paulista, o Estadual com maior visibilidade do país. A estreia seria logo contra o Corinthians na Arena.
No primeiro mês de 2016, treinou, treinou, treinou forte, treinou como ele sempre havia feito nos últimos dez anos, mas na quarta-feira passada, no meio de mais um treino, seu coração parou de bombear sangue aos outros órgãos e ele entrou em coma. Foi levado para o hospital e começou a lutar silenciosamente pela vida.
Doze dias antes de fazer 22 anos, com tanto jogo pela frente, Cláudio Canavarros Freire morreu, vítima de uma "arritmia súbita e inexplicável". Seus órgãos serão doados. Seu filho se chamará Caio. "É difícil de explicar e de aceitar", repetiam ontem todos os que o conheceram.
Fonte: Uol
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