O Banco Central registrou prejuízo de R$ 16,76 bilhões com as operações de intervenção no câmbio conhecidas como "swaps cambiais" (instrumentos que
equivalem a venda de moeda estrangeira no mercado futuro) em janeiro deste ano, segundo números divulgados nesta quarta-feira (3).
Para atenuar o sobe e desce do dólar no mercado à vista, o BC usa contratos de "swaps cambiais". De forma geral, o Banco Central registra lucro com esses contratos quando o dólar cai e perde quando a cotação da moeda norte-americana sobe. No fim de 2015, estava cotado em R$ 3,95 e, no fechamento de janeiro, foi negociado a R$ 4,02. Com isso, houve um aumento de 1,93% no mês passado.
Em 2015, o gasto das ações do BC no mercado futuro de câmbio (derivativos) somou R$ 89,66 bilhões. Foi a maior perda anual da série histórica, que começa, para anos fechados, em 2003. Até então, o maior prejuízo, em todo um ano, havia sido registrado em 2014 (R$ 17,32 bilhões).
Valorização das reservas
No ano passado, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou no Congresso Nacional que, por outro lado, a alta do dólar valoriza as reservas internacionais. Esse valor, segundo ele, supera as perdas com os swaps cambiais.
Em janeiro deste ano, o BC informou que o ganho líquido com a valorização das reservas internacionais brasileiras, que é calculado pela sua rentabilidade (com a alta do dólar, as reservas em reais também ficam maiores) menos o custo de captação, foi de R$ 38,94 bilhões.
Ainda de acordo com o BC, a valorização das reservas, entretanto, não tem impacto no chamado superávit primário (economia para pagar juros da dívida pública), assim como não tem efeito no déficit nominal do setor público, mas incorporam o balanço do Banco Central. Os valores são exclusivamente utilizados para abater a dívida pública.
Na ocasião, Tombini também afirmou que o BC "nunca falou em segurar taxa de câmbio". "Falou em segurar volatilidade, permitir que os mercados funcionassem. Hoje temos um mercado de futuros que é bastante líquido. Ali estava a pressão", declarou Tombini naquele momento.
Swaps impactam indicadores fiscais
Apesar de os ganhos líquidos com a variação das reservas não impactarem os indicadores fiscais, o mesmo não acontece com as perdas com os derivativos - os contratos de swaps fiscais - que impactam os indicadores das contas públicas.
Os prejuízos do BC com estas operações, que somaram US$ 16,76 bilhões em janeiro, são incorporados às despesas com juros da dívida pública e ajudam a impulsionar o déficit nominal – que somou R$ 613 bilhões no ano passado, o equivalente a expressivos 10,34% do PIB. Trata-se do pior resultado da história para o conceito em 12 meses. Esse número é acompanhado com atenção pelas agências de classificação de risco na determinação da nota dos países.
Os contratos de "swap" também ajudam a impulsionar a dívida do setor público. No caso da dívida bruta, uma das principais formas de comparação internacional (que não considera os ativos dos países, como as reservas cambiais) – conceito também acompanhado pelas agências de classificação de risco – o endividamento brasileiro subiu em dezembro para 66,2% do PIB - patamar elevado para padrões internacionais.
Alguns bancos já projetam a dívida bruta em 70% do PIB no futuro. O próprio Banco Central admitiu na semana passada que, considerando as previsões de mercado para PIB, câmbio, juros básicos da economia e inflação em 2016, além de um déficit primário de 1% do PIB (estimado pelos analistas para 2016), a dívida bruta somaria 71,5% do PIB no fim deste ano.
Com a piora dos indicadores, entre eles aqueles relacionados com as contas públicas, o Brasil já perdeu o grau de investimento por duas das três maiores agências de classificação de risco no ano passado. No início de setembro, a Standard & Poors tirou o grau de investimento do país. Em dezembro, a Fitch anunciou o rebaixamento da nota brasileira para grau especulativo. Com isso, alguns fundos de pensão, por conta de suas regras, têm de retirar investimentos do país.
Para que servem os contratos de "swap"?
O Banco Central oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramento definida, mas não entrega a moeda norte-americana. No vencimento deles, o investidor se compromete a pagar uma taxa de juros sobre o valor dos contratos e recebe do BC a variação do dólar no mesmo período.
Segundo o BC, os contratos de "swap cambial", que voltaram a ser emitidos em junho de 2013, quando a moeda norte-americana se aproximava de R$ 2,40, visam dar proteção para os agentes ("hedge") que têm dívida em moeda estrangeira e fornecer liquidez para o mercado – evitando também uma volatilidade maior (forte sobe e desce) das cotações no mercado à vista.
Esse tipo de contrato também representa uma forma de proteção a empresas com dívidas altas em dólar. Se uma empresa fatura em reais, mas tem dívidas em dólares, pode ser interessante investir nestes contratos que a livram do risco de perder dinheiro com uma disparada da moeda norte-americana. Mas a estratégia tem um custo e envolve riscos. Se o dólar cair ou ficar estável, a empresa pode ter perdas e isso complica seu balanço.
Fonte: G1
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