Cansado de ter carros levados por criminosos em Porto Alegre, Valdemir Barcellos, de 62 anos, decidiu inovar. Nos últimos quatro anos, ele foi assaltado quatro vezes
e teve três veículos roubados por bandidos. Um deles foi recuperado e roubado novamente. Agora, ele amarra seu automóvel a uma árvore quando chega para trabalhar. Tudo para dificultar a vida dos ladrões.
Estacionado na Rua Bogotá, no bairro Jardim Lindóia, Zona Norte da capital, está o seu Fiat Elba. Segundo ele, as operadoras de seguro não emitem apólice sobre o bem devido ao ano de fabricação: 1994. No último mês de dezembro, enquanto Valdemir trabalhava realizando serviços gerais em uma casa, teve um Fiat Uno roubado. Além do veículo, os ladrões levaram também algumas de suas ferramentas de trabalho.
“Paguei R$ 9,5 mil no Uno. De ferramenta e materiais que tinham dentro dele, mais R$ 2,5 mil. Nada recuperado. Total de prejuízo, uns R$ 12 mil”, calcula. “Nos últimos quatro anos, tive quatro carros roubados. Essa Elba uma vez, o Uno duas vezes e a outra Elba, que eu tinha antes dessa, também” enumera. “Tu vem trabalhar, ganha R$ 100 por dia e tem um prejuízo de R$ 12 mil, é brabo”, lamenta Valdemir, que não tinha seguro em nenhum dos carros furtados.
Farto de acumular prejuízos, decidiu garantir a segurança do seu veículo de uma maneira inusitada. Passou a amarrar um cabo de aço a uma árvore e acorrentá-lo na bola de reboque do carro, com corrente e cadeado. “É aquela coisa né, gato que toma banho de água quente tem medo até de água fria”, diz.
“Desde então, amarro assim. A solução é essa: amarrar na árvore para ver se não levam. Mas, se eles quiserem levar, eles vêm aqui, cortam e levam embora igual. Mas dificulta”, conta. “Se ligar o motor e tentar sair, ela não arranca. Pode tentar, que não arranca. E a árvore nem se mexe”, assegura.
Carro amarrado em árvore chama atenção de quem passa por rua
O esquema de segurança chama a atenção de quem passa pela Rua Bogotá, onde atende um cliente há 20 anos. Valdemir conta que as pessoas param, tiram foto e filmam. “O pessoal acha graça, mas não tem graça a desgraça dos outros. Isso é uma vergonha para a nossa cidade, a pessoa ser proprietária de um veículo e amarrar numa árvore para poder ter segurança”, reclama.
Valdemir trabalha com serviços gerais. Realiza construção, manutenção, hidráulica, elétrica e pintura de casas há 37 anos. Sobre o sentimento de chegar e não encontrar o carro após um dia de trabalho, ele é taxativo. “É a mesma coisa que perder um parente. O chão sai de baixo dos teus pés.”
Ele conta que o Fiat Uno, levado em dezembro já pela segunda vez, havia sido totalmente recuperado após o primeiro roubo. Dessa vez, no entanto, não sobrou nada. Motor, forração, pneus, tudo foi roubado. Além do material de trabalho, que conta com serras elétrica e de mármore, furadeira, marretas, talhadeiras, martelos, serrote, extensão de luz, transformador e esmilhadeira.
O carro foi reencontrado e está retido em um pátio do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). “Não me entregam porque é só sucata. Mesmo que liberassem, não compensa. Nem eu quero mais. O valor pra colocar tudo de novo é muito alto”, afirma. Valdemir calcula o prejuízo dos últimos anos em R$ 20 mil, entre automóveis e materiais.
Motorista lamenta ter que amarrar carro
Valdemir tem um outro carro mais novo, fabricado em 2005, que possui seguro. Sobre os furtos recentes, ele diz que é difícil recuperar o que perdeu pois não existem mais as peças em lojas por se tratar de veículos antigos. Para encontrar, somente em desmanches ou ferros-velhos. Lugares que ele não frequenta, para não estimular casos como os seus.
“Em ferro-velho eu não vou. Porque se eu for, vou cooperar com quem está desmanchando. Aí, alguém vai ficar sem porque não tem no mercado. Então, eu não faço isso”, afirma. “Não faça isso porque você está ajudando os outros a roubar. Se roubam é porque tem quem compra”, adverte.
Apesar da atitude inusitada para não ser roubado novamente, ele relata não ter orgulho da situação. “Maior vergonha é o pessoal passar aí e ver um carro amarrado em uma árvore que nem um bicho. Eles acham graça, mas não tem nada engraçado”, finaliza.
Fonte: G1
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