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quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Aborto não é alternativa contra o vírus da zika, diz presidente da CNBB

Entidades lançam Campanha da Fraternidade de 2016 (Foto: Carolina Cruz/G1)O presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Sérgio da Rocha, afirmou nesta quarta-feira (10), durante o ato de lançamento da
Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016, que o aborto não é alternativa para o enfrentamento do vírus da zika, associado a casos de microcefalia de bebês.
Na última sexta-feira (5), o principal comissário de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Zeid Ra'ad Al Hussein, recomendou a países com casos de zika a flexibilizar leis a fim de permitir o aborto nos casos de microcefalia.
Para o presidente da CNBB, o aborto "não é a resposta" para o vírus da zika. "Nós precisamos valorizar a vida em qualquer situação e qualquer condição que ela esteja. Menor qualidade de vida não significa menor direito a viver, com menos dignidade humana”, afirmou.
Ao lado de representantes de outras igrejas, integrantes do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), dom Sergio da Rocha participou do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016, intitulada “Casa comum, nossa responsabilidade” e cujo tema é o saneamento básico.
Encontro com Dilma
À tarde, após o lançamento da campanha,  representantes do Conic participaram de uma reunião com a presidente Dilma Rousseff.
Após o encontro, eles manifestaram posições diferentes da emitida pela Igreja Católica em relação ao aborto no caso de crianças diagnosticadas com microcefalia em razão do vírus da zika.
O presidente da Aliança de Batistas do Brasil, Joel Zeferino, representante da Igreja Batista, defendeu que a “voz da mulher” seja ouvida, o que, para ele, não tem ocorrido. Segundo Zeferino, a ala da igreja cristã representada pela Aliança ainda não tem uma posição definida sobre o assunto, mas ele reiterou que a discussão precisa ser “democrática e aberta”.
“Dada a epidemia do vírus da zika e de sua implicação na microcefalia, a questão do aborto vai aparecer, sim, como uma questão em discussão. […] A posição da minha comunidade é que esse tema precisa ser discutido com a sociedade de forma democrática, aberta e, sobretudo, incluindo as mulheres, que são as pessoas que sofrem esse aborto, principalmente as mulheres de periferias e negras, que fazem abortos ilegais”, disse.
O presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), dom Flávio Irala, disse que, na direção da entidade, o tema ainda não foi discutido.
Ele frisou que o aborto também não foi tratado durante o encontro dos representantes das igrejas com a presidente Dilma.
“Nós, das igrejas, não temos como discutir isso. É um processo que precisamos, sim, tratar com urgência, mas não temos ainda nenhuma discussão feita, por isso não podemos expressar nada”, disse.
Segundo o presidente da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, Wertson Brasil de Souza, as mulheres presbiterianas são orientadas a não abortar em razão da “ética cristã”.
Mas ele ressaltou que a igreja respeita as opiniões individuais. “Sobre o aborto, no caso de fetos que tenham sido afetados pelo vírus da zika, o posicionamento da nossa igreja é o mesmo: nós respeitamos as posições individuais, mas, do ponto de vista da ética cristã, nós somos contra”, enfatizou.
Saneamento básico
Neste ano, o foco da Campanha da Fraternidade Ecumênica é o saneamento básico.
Durante a campanha, serão distribuídos nas igrejas folhetos informativos sobre o saneamento básico. Além disso, as entidades orientam as igrejas a mobilizarem as comunidades para que se informem sobre o saneamento básico de sua região e cobrem melhorias do poder público.
De acordo com as entidades, o saneamento básico já era um tema previsto para a campanha havia dois anos, mas se tornou ainda mais urgente em 2016. As entidades ressaltam que o tema também serve como alerta para o combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da zika, da dengue e da febre chikungunya.
Segundo dom Sergio da Rocha, as entidades estão preocupadas com a “ameaça” do vírus às famílias brasileiras.
“Infelizmente, a nossa casa comum está sendo hoje assolada pelo mosquito Aedes aegypti, transmissor de  doenças, e a nossa família comum está sofrendo e morrendo por causa das  enfermidades transmitidas por ele. E a falta de saneamento básico tem contribuído para a proliferação dos mosquitos”, afirmou dom Sergio da Rocha.
O ministro das cidades, Gilberto Kassab, também participou da cerimônia de lançamento da campanha e afirmou que o Brasil ainda precisa avançar nas políticas públicas de saneamento básico. Para ele, há uma relação "muito forte" entre a ausência do tratamento sanitário adequado e proliferação do mosquito.
“[A proliferação do vírus] efetivamente tem uma relação muito forte com a ausência de tratamento e de esgotamento sanitário nas dimensões determinadas pelas organizações sociais. O Brasil, infelizmente, está ainda aquém desses índices [de saneamento básico]. Por mais que nos últimos 11 anos tivemos melhorias, que não tivemos em outras épocas do Brasil, ainda deixamos a desejar”, afirmou o ministro.

Segundo Kassab, o governo está tratando o assunto como prioridade e vai investir cada vez mais no saneamento básico. Ele disse ainda que a campanha "acertou em cheio" ao tratar do tema.
“É fundamental que possamos investir cada vez mais para que possamos ter condições de combater epidemias para que possamos proporcionar qualidade de vida às pessoas”, disse.
Dom Sérgio da Rocha afirmou ainda que as entidades contam com o governo para enfrentar a ameaça do vírus.
“Temos a necessidade de um trabalho sério e continuado  do poder público. Não se pode apenas colocar esse assunto em pauta em um momento de emergência”, afirmou.
A programação da campanha também prevê, no dia 20 de março, a Coleta Ecumênica da Solidariedade, na qual fiés fazem doações para o Fundo Ecumênico Nacional da Solidariedade, que apoia iniciativas de organizações que desenvolvem ações relacionadas ao tema da campanha.

Fonte: G1

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