A descoberta de um linfoma (câncer) na amígdala esquerda levou a estudante de psicologia Luciana Calazans, de 22 anos, a fazer uma reflexão que culminou na
criação de uma página no Facebook para "levar fé, alegria e solidariedade para as pessoas". Moradora de Sobradinho, no Distrito Federal, ela já conquistou 15 mil seguidores, incluindo pessoas de outros países, no projeto "Continuar Sorrindo", que existe desde 2013.
O câncer foi descoberto em julho de 2013. Luciana conta que sentiu um incômodo estranho na garganta, algo muito diferente de uma irritação. Desconfiado da doença, um otorrino pediu para que a jovem fizesse uma biópsia no Hospital de Base.
"Fiquei cinco dias internada, esperando o resultado da biópsia, convivendo com pessoas que estavam sofrendo muito, cada uma com uma enfermidade diferente e pior que a outra. Todos eram guerreiros que lutavam muitas vezes sem apoio de familiares. Durante esses dias, amadureci e aprendi muito. Jamais tinha visto a realidade de um hospital público, muito menos vivido algo parecido antes."
Com o resultado, veio a surpresa. Luciana estava com linfoma plasmoblastico aos 20 anos. A estudante diz ter recebido a notícia como ''um murro na cara''. "Fiquei sem chão, sem fala, não conseguia raciocinar direito, era difícil e tenso pensar que aquilo estava acontecendo comigo, que eu estava com um câncer. Achei que ia morrer, chorei muito, foi bem dolorido."
Luciana também reuniu outros pacientes de câncer para o projeto (Foto: Luciana Calazans/Arquivo Pessoal) (Foto: Luciana Calazans/Arquivo Pessoal)
O tratamento com quimioterapia terminou em novembro do mesmo ano. As dores, a perda dos cabelos e os enjoos não desanimaram a jovem, que encarou a doença como "um desafio". Hoje, ela afirma que a doença permitiu que ela "renascesse", que "lavasse a alma".
"Aprendi a ser mais humana e tratar todos com igualdade. Não sabemos o dia de amanhã. Os pacientes chegavam na primeira sessão da quimioterapia abatidos e sem esperança. Eu sentava e explicava que era possível desapegar do cabelo e que tudo aquilo era uma fase."
Durante o tratamento, Luciana publicava mensagens de otimismo informações sobre a doença, todos os dias nas redes sociais. Os amigos, emocionados com os relatos da jovem, a encorajaram a criar a página, que recebeu o nome "Continuar Sorrindo". "Foi ai que eu pensei: 'por que não?' Quero levar para o mundo o que eu venho aprendendo a cada dia."
Com a ajuda do amigo publicitário Thiago Macedo, de 29 anos, Luciana "colocou a mão na massa" e criou a página. Para a divulgação, os jovens desenvolveram camisetas com uma logormarca do projeto. “A princípio, não tínhamos a ideia de vendê-la, mas todo mundo nos procurou querendo uma", diz.
Amigos da moradora de Sobradinho, Luciana Calazans, rasparam a cabeça em solidariedade à jovem (Foto: Luciana Calazans/Arquivo Pessoal)
A camiseta é vendida por R$ 25, e o dinheiro é repassado para a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale). Cabelos, brinquedos, livros e materiais hospitalares, como agulhas e luvas, também são doados para hospitais públicos de Brasília.
"Meu pré-projeto na faculdade foi sobre a Abrace (entidade que presta assistência a crianças e adolescentes com câncer)'. Eu me envolvi demais fazendo esse trabalho. Quando eu descobri que a Luciana estava com câncer, eu pensei se não poderia usar a base dele para montarmos algo", conta o publicitário que faz toda a parte gráfica da página.
Diariamente, são publicadas mensagens que levam fé e motivação para as pessoas e histórias de pacientes que lutam contra a doença. Luciana diz que o objetivo é trazer mais esperança para o cotidiano de quem precisa. "Já recebi mensagens de pessoas que estavam passando por uma forte depressão. De alguma forma, consegui ajudá-las."
Com o tempo, o projeto começou a receber mais mensagens, inclusive de internautas de países como Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia. "Não esperava mesmo que eu fosse atingir pessoas de tão longe e criar amizades. Considero como uma ponte de amor, entende? Fiz a página para ajudar. Na verdade, sou ajudada diariamente."
Mudança
Curada do linfoma há dois anos, Luciana diz que a vida dela mudou completamente após o diagnóstico da doença. A estudante passou a ser preocupar mais com a alimentação e atividades físicas e diz que cuida particulamente da mente, com reflexões positivas que devem ser diárias.
"Eu parei de reclamar de tudo, agora só agradeço. Sou mais otimista, fortaleci a minha fé. Hoje, sou muito grata. Nada acontece por acaso. Se eu tive câncer foi por um motivo", diz.
"Me sinto mais viva, mais agradecida. O linfoma mudou também a minha família, estamos mais unidos. Ele veio para somar, para me modificar."
A jovem afirma que perdeu diversos amigos vítimas da doença. Mesmo assim, ela acredita que a batalha não foi perdida. "A morte foi uma forma de vencer, sabe? Como disse, nada é de propósito. Estamos aqui para evoluir. Esse é o anseio da nossa alma. Quanto mais profundo o aprendizado, maior a evolução e o poder de cura."
Fonte: G1
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