Uma equipe da Polícia Federal vai tentar coletar, na tarde desta quarta-feira (20), as impressões digitais da 'Clarinha', a paciente que foi vítima de atropelamento e está internada em coma há 15 anos
no Hospital da Polícia Militar (HPM) do Espírito Santo.
O G1 questionou os dois hospitais por onde a paciente passou se em algum momento foi feita a coleta das digitais. No HPM, a tentativa foi feita em 2006. Já no São Lucas, onde Clarinha passou o primeiro ano em coma, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou que os hospitais não tiram digitais de pacientes.
A Sesa disse ainda que, quando chega um paciente sem identificação, o serviço social tenta localizar algum parente ou conhecido.
Exames
Se a PF conseguir coletar as digitais, às 15h30 desta quarta-feira, o material será encaminhado ao Instituto Nacional de Identificação (INI), em Brasília, para a pesquisa no Cadastro Biométrico de Pessoas Desaparecidas (Cadê?). O prazo para o resultado é de 24 horas.
O médico tenente-coronel Jorge Potratz, responsável pela paciente, disse que a Polícia Civil do Espírito Santo já tentou coletar as impressões de Clarinha, mas a paciente perdeu as digitais.
“Por causa das consequências do acidente a Clarinha perdeu os movimentos das mãos e por isso ficam fechadinhas. O atrito entre os dedos desgastaram a pele e se perdeu a rugosidade. Certa vez, comprei bolinhas para atividades, usamos por 30 dias, mas foi em vão”, explicou Potratz.
Mesmo assim, o médico está confiante no trabalho da Polícia Federal. “Vou acompanhar e torcer para que consigamos avançar nessa história e ajudar a Clarinha. Ela merece encontrar a família está lutando pela vida há muito tempo”, disse o médido.
'Cadê?'
A PF informou que os meios para retirar as digitais serão os tradicionais e os dados serão repassados ao 'Cadê?', que conta atualmente com o registro de 200 pessoas. Somente o estado de Goiás aderiu ao sistema. Mesmo assim, segundo a polícia, já conseguiu identificar uma pessoa desaparecida.
Nesse sistema, as impressões de pessoas desaparecidas são enviadas à Polícia Federal pelos Institutos de Identificação estaduais e pesquisadas numa base biométrica de 20 milhões de pessoas.
Com esse sistema, segundo a PF, é possível encontrar informações com o mínimo de vestígio coletado. Se Clarinha tiver feito alguma cadastro, em qualquer estado, usando as digitais será possível localizar no sistema computadorizado.
Secretaria de Saúde
Quando Clarinha sofreu o acidente ela foi levada ao Hospital Estadual São Lucas, em Vitória. Um ano depois, a paciente foi transferida para o Hospital da Polícia Militar (HPM). Na unidade, a Polícia Civil foi chamada para tentar coletar as digitais, mas a paciente já havia perdido as impressões.
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) foi procurada pelo G1 e questionada se as impressões da paciente foram capturadas no hospital São Lucas, no primeiro ano do coma.
A Sesa também foi questionada sobre o procedimento adotado em casos como o de Clarinha, de pacientes que chegam às unidades de saúde sem nenhuma identificação.
Em nota, a Sesa disse que os hospitais não tiram digitais de pacientes. Quando chega um paciente sem identificação, o serviço social tenta localizar algum parente ou conhecido.
DNA
O Ministério Público do Estado (MP-ES) recebeu, desde segunda-feira (18), cerca de 67 ligações referentes ao caso.
As pessoas que tiverem alguma pista da identidade da Clarinha devem procurar o Ministério Público por meio do Promotoria de Justiça localizada no Centro Integrado de Cidadania (Casa do Cidadão) na avenida Maruípe, 2.544, Bloco B, Itararé- ES - Vitória.
As histórias das testemunhas serão ouvidas e caso haja indícios de vínculo familiar com a Clarinha será feito o exame de DNA. O exame será feito por um laboratório particular em parceria com o MP-ES.
Acidente
Clarinha, como é chamada pela equipe médica, foi atropelada no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, no Centro de Vitóriax.
O local e o veículo que atropelou a mulher não são exatos, segundo a polícia. Ela foi socorrida por uma ambulância e chegou ao hospital já desacordada e sem nenhum documento.
Equipe médica da 'Clarinha'
Clarinha está na enfermaria do HPM. Diariamente, ela recebe a visita de médicos e enfermeiros, como acontece com qualquer paciente nessas condições.
O médico tenente-coronel Jorge Potratz é o responsável pela paciente e foi ele quem escolheu o nome para Clarinha.
“A gente tinha que chamar ela de algum nome. O nome não identificada é muito complicado para se falar. Como ela é branquinha, a gente a apelidou de Clarinha”, disse Potratz.
A equipe considera o coma da pacienete elevado. “A gente classifica o coma em uma escala de três a quinze pontos. Quinze é o paciente acordado e lúcido e três é o coma mais profundo. Ela não tem nenhum contato com a gente e por isso a gente considera um coma de sete para oito”, explicou o médico.
Ajuda
O tenente-coronel Potratz cuida de Clarinha desde quando ela chegou ao hospital. É ele que compra, com o dinheiro do próprio bolso, o material de higiene pessoal para a paciente.
“Uma pessoa que está internada necessita de produtos básicos para poder se cuidar e se manter. Higiene pessoal, de limpeza, fraldas. Esse tipo de material eu sempre estou adquirindo para ajudar essa moça”, disse Potratz.
As demais despesas com a internação são pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Cesária
A equipe médica que cuida da paciente tem esperança de encontrar algum parente ou até filho de Clarinha, já que ela tem uma cicatriz na barriga.
“Ela tem uma cicatriz de cesariana. Pode ser que ela tenha um filho que esteja vivo. Isso, realmente, marca muito a possibilidade de alguém da família identificá-la. Eu gostaria muito disso. O meu sentimento por ela é de apego. Como se fosse quase uma filha, porque não tem ninguém por ela”, disse, emocionado, o tenente-coronel.
Fonte: G1
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