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terça-feira, dezembro 08, 2015

Temer escreve carta em tom de desabafo a Dilma

BRASILIA, DF, BRASIL, 24-11-2015, 11h00: A presidente Dilma Rousseff, acompanhada do vice presidente Michel Temer, do ministro das comunicações Andre Figueiredo, do presidente da ABERT Daniel Slavieiro e do presidente da ABRATEL Luiz Claudio Costa, durante Cerimônia de anúncio dos critérios de adaptação de outorgas de radiodifusão AM para FM, no Palácio do Planalto. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)Com termos duros, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) enviou uma carta ao gabinete de Dilma Rousseff na qual afirma que sempre teve "ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu
entorno em relação a mim e ao PMDB". Ele diz que passou os primeiros quatros anos de governo como "vice decorativo".

Temer começa dizendo que a palavra voa, mas o escrito fica. Por isso, diz, preferiu escrever. Avisa então que está fazendo um "desabafo" que deveria ter feito "há muito tempo". Na avaliação de amigos do vice, a carta representa o rompimento com a presidente Dilma, apesar de o peemedebista não querer dar esta conotação ao documento.

Temer demonstra profundo incômodo com declarações e ações de Dilma, de seu governo e de seus aliados sobre a "confiança" que devotam a ele. "Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade", escreve. "Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos."

"Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo", sustenta Temer.

Para ilustrar, cita o esforço que fez para manter o PMDB com Dilma. "Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% [dos dirigentes do PMDB] votaram pela aliança". "E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à vice."

Temer diz que tem usado o prestígio que construiu no partido para manter o PMDB ao lado de Dilma. "Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera desconfiança e menosprezo do governo", conclui.

O vice ainda elenca 11 fatos que, segundo ele, demonstram o desprezo por ele e pelo PMDB, que "jamais" eram chamados para formulações econômicas ou políticas. "Éramos meros acessórios, secundários, subsidiários".

Quando fala em "vice decorativo", Temer diz que perdeu "todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo". "Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas".

Ele lembra, por exemplo, que quando assumiu a articulação política não conseguiu honrar acordos porque o governo não lhe dava condições.

Temer também reclama que Dilma demitiu ministros indicados por ele e resolveu ignorá-lo ao tratar de novas nomeações diretamente com o líder da Câmara, Leonardo Picciani (PMDB-RJ).

Sobre a saída de Moreira Franco da Aviação Civil, diz: Dilma quis "desvalorizar-me". Sobre o deputado Edinho Araújo, que ocupou a pasta de Portos, fala que a presidente não teve a "menor preocupação em eliminar [ele] do governo".

No fim, diz que "passados estes momentos críticos" tem certeza de que o país terá tranquilidade para crescer e consolidar conquistas sociais. E arremata: "Sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção".

A divulgação de um pequeno trecho do texto causou novo embate e desconforto entre os aliados de Dilma e do vice. Houve troca de acusações nos bastidores sobre o teor e o vazamento da carta, o que levou a assessoria de Temer a divulgar uma nota antes do vazamento da íntegra.

À noite, o ministro Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral) foi ao Jaburu para conversar com Temer sobre a carta. Ao mesmo tempo, uma entrevista do vice ao jornalista Jorge Bastos Moreno, de "O Globo", explicitava ainda mais o desconforto: "Escrevi uma carta confidencial e pessoal à presidente", disse. "Mais uma vez avaliei mal. Desembarquei em Brasília agora à noite e me surpreendi com o fato gravíssimo de o palácio ter divulgado."

E continuou: "Eu já tinha me decepcionado quando os ministros Edinho Silva (Comunicação Social) e Jaques Wagner (Casa Civil) divulgaram versões equivocadas do meu último encontro com a presidente [...]. Eu havia sido comunicado pelo Eduardo Cunha que ele acolheria o pedido de impeachment. Reconheci seu direito de fazê-lo e depois o ministro Jaques Wagner colocou na minha boca a afirmação de que a decisão não tinha lastro jurídico. Constrangido, tive que desmentí-lo. O acolhimento tem sim lastro jurídico", concluiu.

DISTANCIAMENTO

A decisão de Temer de enviar a carta foi o ponto alto de mais um dia conturbado nas relações entre ele e a petista. Antes da divulgação do texto, o ex-ministro Eliseu Padilha, um dos principais aliados do vice, disse que Temer está fazendo uma "aferição" do sentimento do PMDB sobre o impeachment.

Padilha foi o primeiro grande aliado de Temer a abandonar o governo. Ele chefiava a Aviação Civil até a semana passada.

Depois de reconhecer que o PMDB está "literalmente dividido" sobre o afastamento de Dilma, Padilha disse que Temer, como presidente nacional da sigla, está consultando deputados, senadores e os 27 dirigentes estaduais.

"Temos que ver onde é que está o segmento majoritário do partido", disse Padilha.

A declaração alarmou o Planalto. Aliados de Dilma vinham trabalhando para arrancar do vice condenação ao impeachment. No entanto, a fala de Padilha confirmou que Temer não tem demonstrado disposição em defender o mandato de Dilma.

Pela manhã, Dilma havia dito à imprensa que não desconfiava "um milímetro" de seu vice e que esperava dele o "comportamento bastante correto" que ele sempre teve.

Antes da carta tornar-se pública, o governador do Estado mais importante controlado pelo PMDB, Luiz Fernando Pezão, do Rio, criticou a atitude do vice, que estaria "conspirando" contra Dilma.

"Vice é para ter atribuições, para ajudar na governabilidade, e não para conspirar", disse, ao jornal "O Dia". "Adoro o Michel, mas eu não estou achando legal o posicionamento dele nessa questão com a presidenta Dilma."

Fonte: Folha de são Paulo

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