Estudantes de escolas estaduais do Estado de São Paulo de ciclo único não têm notas maiores que aqueles de unidades mistas. Essa é a conclusão de uma análise realizada
pelo economista Renan Pieri, coordenador acadêmico do Sinapse, uma consultoria de gestão educacional.
O melhor desempenho dos alunos de escolas com ciclo único (apenas fundamental 1, fundamental 2 ou ensino médio) era um dos principais argumentos do governo Geraldo Alckmin (PSBD-SP) para implantar mudanças na rede estadual de ensino. Desde que foi anunciada, a reorganização provocou passeatas e ocupações de escolas em protesto contra a medida.
"Mudar apenas o ciclo era muito pouco para todo esse efeito [divulgado pelo governo]", diz Pieri que ficou incomodado com a implantação do projeto sem um estudo de impacto.
"Esse estudo reforça que não adianta buscar bala de prata na educação [ou seja, não há uma saída mágica, simplista]", afirma o cientista político Daniel Cara, que também é blogueiro do UOL e coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. "O governo estava buscando uma justificativa técnica para uma redução orçamentária."
Nível socioeconômico
Em seu site, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo informa que o ciclo único proporcionou um aumento percentual nas notas dos alunos da ordem de 14,8% no ensino fundamental 1; de 15,2% no ensino fundamental 2 e de 28% no ensino médio.
Pieri desconfiou que a análise do governo estadual não levasse em conta o nível socioeconômico dos alunos, uma vez que uma boa taxa de aumento estaria em torno de 5%. De fato o estudo da secretaria não considera a origem socioeconômica dos alunos.
Há evidências de que o nível socioeconômico (renda familiar, escolaridade dos pais, entre outros fatores) seja responsável por cerca de 80% dos resultados nas notas dos alunos em grandes avaliações, como a Prova Brasil que é aplicada em todo o país pelo governo federal.
Ao considerar essa variável, os resultados dos alunos de escolas com ciclo único não superaram as notas dos alunos em escolas mistas no ensino fundamental. Em ambos os casos, o desempenho dos alunos de escolas de ciclo único fica abaixo.
E se pode afirmar o contrário? É possível dizer que o ciclo misto nas escolas -- ou seja, juntar alunos de mais de uma etapa -- melhora o resultado dos alunos? Pieri faz questão de não entrar nessa linha de raciocínio uma vez que isso pode acontecer em algumas faixas de nível socioeconômico muito específicas.
Metodologia
Para chegar a esses gráficos, Pieri separou as escolas em dois grupos -- aquelas com apenas uma etapa de ensino (ciclo único) e aquelas com mais de um ciclo de ensino (ciclo conjunto) -- e comparou suas notas de acordo com o nível socioeconômico.
Foram utilizadas as notas das escolas estaduais de São Paulo referentes à Prova Brasil, avaliação federal aplicada em todo o território nacional para cálculo do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) - no seu estudo, o governo de São Paulo usa sua avaliação regional, o Saresp.
O pesquisador, que também é ligado ao CPJA (Centro de Pesquisa Jurídica Aplicada) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), explica que os dados do Saresp não estavam acessíveis e que as provas tendem a apresentar um resultado bastante semelhante.
Fonte: Uol
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