O estado de Minas Gerais tem 450 barragens de mineradoras. E grande parte é parecida com a de Fundão, que se rompeu em Mariana. Mesmo antes do desastre,
especialistas já alertavam para os riscos desse tipo de barragem. Veja por quê.
O minério retirado do solo precisa passar por um processo de separação de impurezas para que ele tenha um valor comercial mais alto. O mais comum é o que usa água e substâncias químicas. Tudo o que sobra desse processo é chamado de rejeito.
A forma mais usada para armazenar esse rejeito é em barragens. Elas evitam que minérios ou resíduos sigam diretamente para os rios. A barragem é uma espécie de montanha maciça de material consolidado. Há, pelo menos, três tipos de barragens de contenção de rejeitos.
A mais comum, de acordo de com especialistas em mineração, é a barragem a montante. É o mesmo tipo da barragem de Fundão, que se rompeu. Ela começa com a construção de um dique e um tapete drenante, que serve para eliminar a água armazenada no interior da barragem. O aumento desse tipo de barragem, ou alteamento, como é chamado, é feito com o próprio rejeito em direção à barragem. "O alteamento para montante é o mais barato. Tem um custo menor de implantação. Mas é um alteamento perigoso. Tem risco associado", afirma Eduardo Antônio Gomes Marques, geólogo da Universidade Federal de Viçosa.
Outro tipo é a barragem a jusante. Também começa com a construção de um dique e do tapete drenante, mas o alteamento é feito para o lado externo da barragem. É preciso mais tempo e mais material para se fazer o alteamento desse tipo de barragem. E o material não pode ser o rejeito. Tem que ser solo retirado de outros locais da mineração, como argila e pedregulho, por exemplo. "Elas ficam com um custo muito elevado em relação às barragens de montante, que são feitas sobre o próprio rejeito consolidado. Em razão disso, de que a margem de lucro não pode descer, é realmente eliminada qualquer solução técnica nesse sentido", explica o consultor Gerson Campera.
Há ainda um terceiro tipo de barragem de contenção de rejeitos: com alinhamento ao centro e um dreno que acompanha o alteamento da construção. E também é considerada mais segura e mais cara que a barragem a montante. É mais barata, mas menos segura que a jusante.
Uma outra forma de separação é a seco. Nesse processo, que dispensa o uso de barragens, o rejeito é compactado, o que, de acordo com especialistas, é um processo mais seguro. Só se usa água para separar as impurezas do minério. "Os projetistas definem a segurança da sua estrutura. A opção nossa, aqui, foi em relação ao relevo. Nós não temos vales adequados para encaixar uma barragem, por exemplo. Então, nós optamos pela questão da pilha de rejeitos", afirma o superintendente de mineração Rodrigo Nogueira.
Para alguns especialistas, a tragédia em Mariana deve exigir mais segurança no processo de mineração. "Acho que o futuro da mineração no Brasil vai passar por deslamagem, retirar a água do sistema. Eu acho que esse acidente vai mudar muito o paradigma da mineração", acredita Eduardo Antônio Gomes Marques, geólogo da Universidade Federal de Viçosa.
Fonte: Jornal Nacional
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