O Brasil tem mais médicos atuando no setor privado do que no Sistema Único de Saúde (SUS), ainda que apenas 25% da população brasileira tenha convênio médico e
75% utilize exclusivamente o SUS.
Segundo o estudo Demografia Médica no Brasil 2015, divulgado nesta segunda-feira (30) pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), 21,6% dos médicos atuam só no setor público e 26,9% só no setor privado; 51,5% dos profissionais atuam nas duas esferas. Este é o terceiro relatório com este formato já realizado no país. Os anteriores tinham sido divulgados em 2011 e 2013.
De acordo com o coordenador da pesquisa, o professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) Mário Scheffer, o dado indica que a disponibilidade de médicos na rede privada é três vezes maior do que na rede pública.
“Como o governo não contrata e os poucos que trabalham no governo estão desmotivados pelas más condições e pouca perspectiva salarial, cria-se um cenário de tremenda injustiça, onde 75% da população não tem condição adequada de atendimento pelo SUS, enquanto que aquela minoria que pode pagar termina se beneficiando”, afirma Braulio Luna Filho, presidente do Cremesp.
Quase 400 mil médicos no país
Segundo o estudo, há 399.692 médicos atuando no Brasil, o que significa que há 1,95 médico a cada mil habitantes. Em termos de comparação, a média de médicos por mil habitantes nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 3,2. “A velocidade de crescimento dos médicos é maior do que o crescimento da população. Por conta da abertura de novos cursos, em curto prazo, isso deve chegar a 2,5”, diz Scheffer. Desde 2010, 71 novos cursos de Medicina foram abertos no Brasil.
Se for levado em conta o número total de registros de médicos no país, eles totalizam 432.870. Isso porque 33.178 estão inscritos em mais de um Conselho Regional de Medicina (CRM). São, portanto, 2,11 registros de médicos a cada mil habitantes.
Má distribuição dos médicos
A pesquisa revela também a concentração de médicos nas capitais dos estados. Enquanto elas têm 23,8% da população brasileira, concentram 44,76% dos médicos do país. A média de médicos por mil habitantes nas capitais é de 4,84 e, no interior, de 1,23.
A distribuição dos profissionais entre as regiões também é desigual. Enquanto o Sudeste tem 2,75 médicos por mil habitantes, o Norte tem apenas 1,09. Essa desigualdade pode ser observada inclusive nas capitais. Vitória-ES, por exemplo, é a capital com maior quantidade de médicos por mil habitantes: 11,9. Já Macapá-AP tem 1,42 médicos por mil habitantes.
“Ainda temos verdadeiros desertos de médicos, ou seja, falta localizada de profissionais em determinadas regiões”, diz Scheffer. O pesquisador afirma que os dados do estudo não permitem mensurar se o início do programa Mais Médicos, em setembro de 2013, teve impacto no que diz respeito à distribuição de profissionais no interior do país.
Especialidades médicas
Segundo o estudo, 59% dos médicos brasileiros têm pelo menos um título de especialista, sendo que metade dos especialistas se concentra em seis especialidades: clínica médica, pediatria, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, anestesiologia e cardiologia.
De acordo com Scheffer, a distribuição entre as especialidades está dentro do esperado e é semelhante à observada em países mais desenvolvidos. O coordenador da pesquisa observa, porém, que a atuação desses especialistas no SUS é limitada, já que 51,5% dos médicos do sistema público atuam em hospitais e 23,5% na atenção primária à saúde. Somente 4,8% dos profissionais atuam na atenção secundária, que engloba os ambulatórios de especialidades e outros serviços especializados.
Carlos Vital, presidente do CFM (esq.) e Braulio Luna Filho, presidente do Cremesp, durante anúncio do estudo Demografia Médica 2015 (Foto: Mariana Lenharo/G1)
Mais de um emprego
Ainda segundo o estudo, 78% dos médicos brasileiros têm dois vínculos empregatícios ou mais. Uma parcela de 5,4% tem seis vínculos ou mais. As jornadas de trabalho também são longas: 75,5% trabalham mais do que 40 horas semanais; 43,1% trabalham entre 40 e 60 horas; 15,5% trabalham de 60 a 80 horas e 16,9% chegam a trabalhar mais de 80 horas por semana.
As entidades médicas reivindicam que os médicos recebam R$ 11 mil por 20 horas semanais para que eles possam se dedicar a menos instituições. "Só que o governo paga muito menos", diz Luna Filho. "O governo paga, em média, R$ 6 mil por 40 horas. Isso é extremamente desmotivador. As poucas vezes que o salário melhora é por pressão da população em cima de prefeitos, mas não existe uma política de estado."
Mulheres na medicina
Apesar de os homens continuarem sendo a maioria entre os médicos em exercício, os novos registros têm revelado mais mulheres entrando na profissão do que homens. Elas são maioria em especialidades como dermatologia, pediatria, alergologia, hematologia, endocrinologia, clínica médica, ginecologia e medicina de família e comunidade. Mas ainda são minoria em todas as especialidades cirúrgicas.
O estudo revelou, ainda, que apesar de as mulheres apresentarem cargas horárias e número de vínculos empregatícios muito semelhantes aos dos homens, elas têm uma remuneração mais baixa.
Fonte: Bem Estar
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