Enquanto a pecuária leiteira do Rio Grande do Norte amarga uma retração na atividade, que atravessa uma situação dramática em função da estiagem e das
baixas no programa do leite, antagonicamente, o setor de derivados lácteos não tem do que reclamar. As empresas que fabricam queijos têm registrado neste ano um crescimento médio acima dos 20% nas vendas dos produtos mesmo em tempos de crise. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), somente no ano passado, as 39 indústrias que operam no estado e têm algum tipo de inspeção foram responsáveis por absorver 45,5 milhões de litros de leite, grande parte usada na fabricação de queijos e outros derivados.
A indústria de queijos Dona Gertrudes, instalada em Caicó (a 282 quilômetros de Natal), é um bom exemplo dessa expansão do setor. A capacidade de processamento de leite praticamente dobrou de 2010 para cá. O laticínio operava com 3 mil litros de leite por dia e hoje o processamento chega a picos de 6 mil litros por dia, chegando a fabricar em torno 600 quilos diários de queijos, entre os tipos coalho, manteiga, minas e ricota.
“Não sentimos a crise de forma tão forte. As vendas têm crescido entre 30% e 40% nos últimos dois anos. Também não fomos afetados com a oferta de leite. Mudamos a operação e passamos a adquirir leite de grandes produtores em vez de pequenos”, explica a diretora administrativa da empresa, Alane Kaline Fernandes de Araújo. A mudança explica, em parte, o decréscimo das aquisições de leite cru pelas indústrias potiguares na última década. De acordo com o Boletim do Leite, elaborado pelo Sebrae no Rio Grande do Norte, as compras anuais do produto caíram 59%, entre 2005 e 2014, reduzindo de 77,3 milhões de litros para 45,5 milhões de litros.
Para ganhar mercado, a empresa, que já acumula 30 anos de atuação e vem sendo acompanhada desde o início pelo Sebrae, teve de se modernizar. Passou do modelo artesanal para o industrial a partir de 2010, permitindo que a marca distribuísse os queijos para outras regiões do estado além do Seridó. O diferencial da empresa foi manter as características de queijo artesanal, porém, obtido através de um processo industrializado.
“Acreditávamos que a transição nos faria triplicar a produção, o que acabou não se confirmando. O crescimento tá lento, mas não ficamos estagnados”, confirma Alana Araújo. A diretora acredita o consumo não é maior devido à concorrência de marcas de outros estados. A empresa teve de adiar os planos de inaugurar a planta de bebidas lácteas e envase de leite, que atualmente é 50% obtido de grandes pecuaristas.
Modernização
Outra empresa que vive uma boa fase depois de passar do modelo artesanal para o industrial é a marca Sertão Jucurutu, instalada na cidade de Jucurutu (distante 233 quilômetros da capital potiguar). A empresa registrou neste ano um crescimento de 20% nas vendas de queijos dos tipos coalho, manteiga, mussarela e minas.
“Apesar da estiagem que afeta diretamente o rebanho bovino, para o setor de laticínios, a oferta de leite está abundante”, diz o diretor da indústria, Otto Wagner de Araújo, explicando que a empresa ampliou o processamento de leite da ordem de 40 mil litros para 55 mil litros por dia, o que resulta em produção diária de 5,5 mil quilos de queijos.
Estima-se que pouco mais de 20% do leite produzido no estado chega a essas indústrias de processamento. Em 2013, 22,7% da produção leite chegavam às queijeiras industrializadas, o que sugere que o destino da maior parte do leite produzido no RN é a informalidade. Por isso, o trabalho do Sebrae tem sido incentivar que as empresas que produzem queijos artesanais passem a adotar o modelo industrial.
De acordo com o gestor do projeto Leite e Genética do Sebrae-RN, Acácio Brito, a instituição tem focado em consultorias para modernização das empresas do setor. Segundo ele, a adoção de práticas de alimento seguro e processo produtivo industrializado, com a obtenção de inspeção, favorece a abertura de novos mercados para essas empresas e eleva ainda a capacidade produtiva. Na avaliação do gestor, o setor de queijos do Rio Grande do Norte, sobretudo os regionais, poderia ganhar impulso caso as empresas que atuam nesse segmento artesanalmente passassem a adotar o modelo de indústria. “A manutenção desse modelo tradicional de produção artesanal impede que queijos, como o de coalho e de manteiga, ultrapassem os limites do estado e cheguem aos principais centros de consumo no sudeste do país”.
Pecuária leiteira
O Rio Grande do Norte coloca-se como o sétimo estado produtor de leite na região Nordeste, alcançando um volume de 209,1 milhões de litros em 2013. Nesse ano, o maior produtor foi a Bahia, com uma produção superior a 1,1 bilhão de litros. Entre 2004 e 2013, os estados do Rio Grande do Norte e Alagoas, destacaram-se negativamente por obterem um crescimento no período bem inferior à média do país e da região, crescendo respectivamente 3,92% e 3,58%.
O RN chegou a um pico produtivo de 235,4 milhões de litros de leite em 2006. Sete anos depois, o ritmo reduziu e ficou em 209,1 milhões de litros. As maiores produções em ordem decrescente foram nas regiões Agreste Potiguar, Macaíba, Seridó Ocidental e Seridó Oriental. Quando analisado o leite voltado para produção de derivados, entre 2005 e 2014, o RN reduziu o volume de leite adquirido por laticínio com inspeção em 37,2%. Os dados constam no Boletim do Leite.
Fonte: Agência SEBRAE
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