A crise hídrica que levou o rio São Francisco a uma das piores secas da história gerou duplo impacto na produção de frutas e vinhos no
semiárido da Bahia e Pernambuco.
Produtores temem a possível falta de água no próximo mês para as culturas irrigadas no Vale do São Francisco. Entre as cidades afetadas estão Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), que, em plena crise econômica, estão no topo do ranking de geração de empregos formais este ano.
Além da apreensão com o mais baixo nível da história do reservatório de Sobradinho (3,6%), o principal do rio, o aumento das tarifas de energia elétrica elevou o gasto dos produtores da região.
Segundo agricultores, o sistema de bandeiras tarifárias -instituído pelo governo federal para diminuir o consumo de energia e preservar os reservatórios de hidrelétricas- fez o custo de produção de frutas irrigadas no semiárido nordestino aumentar em até 30%.
Segundo o diretor presidente da Upa Agrícola Limitada, Caio Coelho, o baixo volume de água faz com que as bombas consumam mais energia para levar a água aos pontos de irrigação.
"Para produzir normalmente, precisa irrigar de forma abundante", disse ele que tem 500 hectares de frutas irrigadas e 1.200 funcionários.
MANGA, UVA, GOIABA
O cultivo em perímetros irrigados existe desde a década de 1980 na região. Ela concentra 120 mil hectares de culturas de manga, uva, goiaba, coco verde e acerola.
Cerca de 70% da produção é destinada à exportação para os Estados Unidos, Canadá e países da Europa e Ásia. A alta do dólar seria comemorada caso os custos de produção não tivessem aumentado quase na mesma proporção.
A agricultura é o carro-chefe da economia do semiárido nordestino. Petrolina foi a cidade que mais gerou vagas formais no país entre janeiro a setembro, segundo o Caged: 4.836 novos postos. Juazeiro, com 2.205 novas vagas, ficou na sexta posição.
O Vale abriga seis vinícolas que formam o segundo maior polo produtor de vinhos do país, atrás do Rio Grande do Sul. Também nesse segmento os efeitos da seca são sentidos.
José Gualberto, sócio da Vinícola do Vale do São Francisco, que produz vinhos da marca Botticelli, se queixa do fim do desconto para consumo entre 21h30 e 6h, horário de maior volume de irrigação.
"Gastava cerca de R$ 20 mil por mês com energia. Hoje gasto R$ 45 mil", disse.
A empresa de vinhos Miolo, por exemplo, utiliza água da barragem de Sobradinho para irrigar sua vinícola em Casa Nova (BA), onde desde 2001 são envasados 2,5 milhões de garrafas de vinho e espumantes por ano.
Segundo o gerente da unidade, Flávio Durante, a empresa teve que gastar R$ 30 mil na aquisição de uma bomba e tubulações para captar rio mais acima.
VOLUME MORTO
Caso Sobradinho chegue ao volume morto, o que é previsto para dezembro, o nível da água estará abaixo do ponto de captação.
Resultaria na interrupção de fornecimento e perda de produção do maior perímetro irrigado de Petrolina, chamado Senador Nilo Coelho, com 23 mil hectares de frutas (área equivalente a cerca da metade da baía de Guanabara).
Segundo Edis Matsumoto, sócio proprietário da Fazenda Área Nova, que tem 74 hectares de uvas e mangas no local, um mês sem água resultará na morte das plantas frutíferas, que levam de dois a quatro anos para começar a produzir em escala industrial.
O Ministério da Integração Nacional promete concluir em dezembro a instalação de balsas flutuantes que permitiriam a captação em volume morto no lago de Sobradinho.
Fonte: Folha de São Paulo
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